ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: A estética no sistema de braquetes autoligáveis

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A estética no sistema de braquetes autoligáveis


Neste artigo de 2008, publicado pela Revista Dental Press, pelos Autores Daniel J. Fernandes, Rhita C. C. Almeida, Cátia C. A. Quintão, Carlos N. Elias, José Augusto M. Miguel; do curso de Ortodontia-UERJ – Rio de Janeiro/Brasil. Realiza uma revisão da literatura sobre o sistema de braquetes autoligáveis estéticos.

O uso cada vez mais freqüente de mecânicas de deslizamento tornou o controle do atrito em Ortodontia uma das principais preocupações para o sucesso do tratamento planejado. O atrito pode ser definido como uma força que se opõe ou retarda a movimentação de dois corpos que se encontram em contato. Diferentemente do uso de alças, onde o atrito gerado é mínimo, o deslizamento responde por considerável quantidade de fricção na interface braquete/fio ortodôntico, sendo a dinâmica deste binômio essencial para o estabelecimento da movimentação ortodôntica. Diversas indicações são atribuídas à mecânica de deslizamento, tais como casos de fechamento de espaços, além da translação e retração de elementos para ocupação de áreas de extração.

O conceito de braquetes autoligáveis surgiu em 1935 com o advento do sistema Russell Lock. A partir desta data, já era preconizado um sistema que viabilizasse a otimização do tempo de atendimento e uma maior facilidade de união do sistema braquete/fio ortodôntico, com a menor quantidade de atrito possível. A retenção do arco no interior da ranhura do braquete era obtida através de um sistema mecânico ajustado na superfície vestibular do artefato, funcionando como uma quarta parede da ranhura. O padrão de autoligação foi seguido e aprimorado por Wildman em 1972 com o sistema Edgelok.

Diversos outros tipos de braquetes autoligáveis foram idealizados, com variações de forma, tamanho, mecânica e material. Todavia estes artefatos, apesar de sua considerável capacidade de diminuição do atrito, nunca se difundiram de maneira permanente no cotidiano ortodôntico6. O alto custo e a inicial fragilidade apresentada por este sistema foram os principais responsáveis pela não ratificação do mesmo.

Após o ano de 2000, com o surgimento de braquetes autoligáveis de menores dimensões, maior robustez e praticidade de manipulação, estes artefatos tornaram-se interessantes ao uso diário do ortodontista. Todavia, um maior apelo à estética foi observado por parte dos pacientes, redirecionando a uma nova tendência. Estes começaram, então, a ser confeccionados em policarbonato. Estudos realizados por Cacciafesta et al. afirmam que o atrito produzido por este tipo de material apresenta-se como mais próximo ao observado em braquetes metálicos convencionais, apesar de superior ao mesmo.

O controle da fricção existente durante o deslocamento do fio no interior da ranhura de braquetes torna-se crucial pelo fato da mesma influenciar diretamente a taxa e o tipo de movimentação dentária e, conseqüentemente, o grau de sucesso alcançado com a mecânica. Pode ser influenciada por inúmeras variáveis, como o tipo de material, dimensão, forma e angulação da interface fio/ranhura, situações de umidade do meio, forças de ligação e tipo de amarração.

Em relação ao tamanho dos braquetes, os de menores dimensões demonstraram valores de fricção superiores aos de maiores dimensões. Tal afirmação justifica-se pelo fato de braquetes menores permitirem uma maior tendência de inclinação dentária. Esta inclinação responde pelo estabelecimento de uma angulação na interface fio/braquete e, assim, o aumento da fricção superficial.

O planejamento da movimentação dentária pode envolver diversos tipos de técnicas, estando o uso de mecânicas de deslizamento muito presente no cotidiano da clínica ortodôntica. Contribui ativamente para o estabelecimento de forças de atrito em grau muito superior ao observado pela ativação de alças ou loops. Diferentemente do uso de alças onde o atrito gerado é consideravelmente menor, o deslizamento responde por considerável quantidade de fricção.

Para que o movimento dentário seja estabelecido, é preconizado que a força exercida por um capilar sanguíneo seja aplicada sobre os tecidos de suporte dentário. Esta força contudo, deve primeiriamente superar a resistência apresentada pela fricção gerada na interface braquete/fio. Quando altos níveis de atrito são observados neste conjunto, a força aplicada pode ser reduzida à ordem de até 60% de sua intensidade original, podendo transcorrer, clinicamente, na dificultação da movimentação dentária desejada e em perda de ancoragem. Diversas outras manobras clínicas também respondem pela geração de atrito. Dentre elas pode-se citar a aplicação de torques ativos e o alinhamento e nivelamento de elementos dentários.

Os braquetes estéticos podem ser compostos por diferentes materiais; dentre eles a matriz cerâmica e a resinosa são os mais empregados, por apresentarem maior semelhança à maioria das colorações evidenciadas à composição do esmalte dentário.

Os braquetes estéticos cerâmicos são compostos de 99,9% de óxido de alumínio, podendo diferir segundo o modo de fabricação, sendo denominados de mono ou policristalinos. Os artefatos compostos por matrizes resinosas são confeccionados, principalmente, a partir de policarbonatos. Inicialmente, sua composição abrangia apenas matrizes puras, o que tornava o material mais propenso a deformações, fraturas e manchamentos. Uma nova composição foi, então, estipulada para sua constituição, abrangendo a incorporação de reforços cerâmicos e de fibras de vidro. Os incrementos cerâmicos são observados nos sistemas autoligáveis Opal (Ultradent, South Jordan, EUA) e os de fibra de vidro no modelo Oyster (Gestenco, Gothemburg, Suíça) e Damon 3 (Ormco, Glendora, Califórnia, EUA). A modificação das matrizes do material garantiu uma superior resistência, estabilidade e menor suscetibilidade ao manchamento, apresentando, contudo, valores de dureza e rigidez inferiores quando comparados aos braquetes de aço inoxidável e os de matrizes cerâmicas.

O único modelo de braquetes autoligáveis translúcidos não confeccionados em policarbonato é o In-Ovation estético (GAC, Nova Iorque, EUA). Sua manufatura em cerâmica abrange a associação da matriz policristalina à liga de aço inoxidável responsável pelo revestimento de sua ranhura e do sistema de autofechamento anterior. Este padrão de emprego do material estético, em apenas uma fração diminuta do corpo do artefato, foi também utilizado pela Ormco (Glendora, Califórnia, EUA) no modelo Damon 3 , só que incorporando o policarbonato ao invés da cerâmica.

O sistema autoligável difere dos demais pela logística mecânica presente em sua ranhura, que responde pela permanência do fio ortodôntico em seu interior. Pode ser observada a existência de uma cobertura metálica de material semelhante ao empregado na manufatura do braquete. Esta cobertura sofre encaixe na abertura da ranhura, funcionando como uma quarta parede do mesmo e transformando-o à semelhança do que seria um tubo ortodôntico. Este sistema observado em diversos dispositivos segue a metodologia idealizada pelo modelo Russel Lock.

O outro modelo autoligável existente caracteriza-se como transcorrendo do padrão desenvolvido por Hanson4, em 1975, ancorando-se na existência de uma mola de material resiliente, que garante a reclusão do fio ortodôntico no interior da ranhura dos braquetes. Todavia, o resultado desta interação está subordinado ao calibre do fio empregado. Este sistema originou a logística em uso conhecida como spring clip ou sistema ativo resiliente.

O comportamento dos fios ortodônticos, apesar de também depender de sua interação com a ranhura dos artefatos, é principalmente governado por características intrínsecas próprias. Tais características seriam suas propriedades físicas, abrangendo a rugosidade, dureza e flexibilidade do material. A rugosidade responde pela modulação do coeficiente de atrito, sendo estas grandezas diretamente proporcionais e responsáveis pela intensidade de fricção superficial produzida. A dureza dos fios também tem participação na intensidade friccional produzida, dependendo, porém, da força normal observada após o contato do material com a ranhura dos braquetes ortodônticos. Este contato, geralmente, apresenta-se mais presente em fios com menor dureza e maior flexibilidade.

O sistema de braquetes de policarbonato autoligáveis apresenta-se como uma valiosa opção no cotidiano clínico, em casos onde haja uma grande demanda estética. Esta configuração de braquetes permite o aprisionamento do fio ortodôntico de forma passiva, sem a participação de nenhum agente externo de ligação, promovendo a permanência da fricção superficial em índices reduzidos. Obtémse, assim, um tratamento mais rápido e confortável para o paciente, que possibilita a aplicação de forças ortodônticas de menor intensidade, além dos ganhos estéticos únicos promovidos pelo sistema autoligável, quando confeccionado em policarbonato.


Link do artigo na Integra via Scielo:

2 comentários:

  1. Q artigo fantástico, eu particularmente sou meio cético qto a esse braquete, acho mais pra ingles ver, de policarbonato entao. Mas vamos aguardar mais pesquisar como essa inovação que nao deixa de ser fantástica.
    Belo post

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  2. Concordo com vc Rivaldo !!! Apesar dos braquetes auto-ligáveis terem seu estudo iniciado em 1935, evendidos como uma nova fronteria da Ortodontia agora em 2009. Muita coisa ainda tem que ser estudada principalmente sua interação com as novas ligas de fios. Mas indiscutivelmente é um caminho sem volta e uma forma confortável e precisa de se tratar o paciente com o minimo de visitas que o metodo tradicional exige. Um abraço e sempre participe!!!

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