ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: DNA, chipanzés e a redução do tamanho e número dos dentes

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DNA, chipanzés e a redução do tamanho e número dos dentes


Neste artigo de 2003, publicado pela Revista Dental Press, pelo Prof. Dr. Alberto Consolaro Professor Titular em Patologia Bucal pela Faculdade de Odontologia de Bauru - FOB-USP - São Paulo. No qual o autor faz uma reflexão sobre a evolução do ser humano apartir dos estudos do DNA.

Após 50 anos de descoberta da estrutura do DNA revelou-se que somos muito parecidos com os chipanzés em nosso genoma, na verdade quase iguais. Este cinqüentenário da descoberta por Watson e Crick merece ser pelo menos mencionado como uma homenagem singela, posto que até o Prêmio Nobel de Medicina seus autores já receberam em 1962.

A década de 90 e a atual estão sendo consideradas a era de ouro da antropologia. A cada dia novos espécimes mais antigos e importantes preenchem a lacuna de nossa evolução. Um número especial da Scientific American este ano foi publicado para revelar o conjunto desta evolução.

Nas aulas de patologia dentária, quando pude ensinar as anomalias dentárias, logo vasculhei a literatura em busca de evidências sobre como eram as arcadas dentárias dos antepassados e como seriam os dentes dos futuros seres humanos. Dalberg e outros criaram a teoria na qual todos os dentes terminais de cada série tenderiam a desaparecer e foram denominados de instáveis. Desta forma o homem do futuro teria apenas o incisivo central, o canino, um pré-molar e um molar. Os tratamentos ortodônticos com extrações estariam com seus dias contados !

Os dentes remanescentes de pacientes com anodontia parcial apresentam uma simplificação morfológica e redução do seu tamanho mesiodistal. O cíngulo, o tubérculo de Carabelli, sulcos e cicatrículas estão ausentes ou diminuídos. A forma das coroas e das raízes tende a ser conóide e triangular, além de mais curtas.

Para alguns, os produtos industrializados pré-triturados seriam os responsáveis por isto e estes empresários responsáveis pela modificação da espécie humana em apenas 200 anos de história. Calma! Isto não é verdade, eles não merecem ser processados e indenizações requeridas!

Nas visitas em museus de antropologia das grandes metrópoles mundiais muitos colegas logo se decepcionam ao ver as arcadas dentárias dos fósseis e reproduções dos nossos parentes mais antigos possíveis: são iguais aos nossos atuais quanto à sua morfologia e número.

Todos os dias os jornais e revistas anunciam novos crânios e fósseis; novas análises são descritas e os dentes são parecidos com os atuais. A teoria dos dentes terminais e instáveis com a redução futura do número e tamanho de dentes, em função dos alimentos atuais pré-triturados, parece ser muito frágil frente às evidências antropológicas.

Devemos, mesmo que provisoriamente, desistirmos desta teoria na Odontologia ou fundamentá-la em alterações e modificações genéticas para justificar as alterações morfológicas encontradas nos últimos dentes de cada série. Estas alterações genéticas podem ser características de grupos populacionais ou ainda resultantes de interações com o meio ambiente, mas sem conotações evolucionistas. Mas que teoricamente é um raciocínio bonito, isto é inegável!

Ainda é muito cedo para aplicarmos a lei do uso e desuso para os dentes humanos. Enfim, não existem diferenças na morfologia dos dentes humanos das populações mais pobres e subdesenvolvidas comparativamente aos mais ricos e desenvolvidos que utilizam largamente produtos industrializados. Ou existem?


Link do artigo na integra via Dental Press:

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