ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: setembro 2022

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Entrevista com o Dr. Flavio Vellini - Parte 01



Hoje dividiremos uma entrevista com um Ortodontista que de forma indireta despertou o meu interesse em abraçar a Ortodontia como especialidade. Pois foi através da leitura do seu livro no período da graduação, que pude conhecer um pouco mais da nossa amada Especialidade.   

O Professor Doutor Flavio Vellini, gentilmente e prontamente se dispôs a responder as perguntas desta entrevista que aconteceu em dezembro de 2009, e foi a primeira personalidade da Ortodontia a participar e dividir sua Historia com os leitores do nosso BLOG Ortodontia Contemporânea. E mais tarde em 2011, tive o prazer e Honra de ser seu aluno, período no qual ele Coordenou o Programa de Mestrado em Ortodontia da Universidade Cidade de São Paulo. Agradeço também a Dra. Angela Macedo da equipe do Dr. Vellini por toda a atenção prestada consoco. A entrevista foi divida em duas partes. No qual o autor revela sua grande fonte inspiradora, o seu Pai, graduado em Odontologia em 1916, revela o lançamento de um novo Livro e uma edição do seu clássico livro em Inglês. Mostra a eficiência e a importância da analise Carpal e das vertebras no diagnóstico ortodontico. Fala sobre o Aparelho extra bucal e da sua importância. Espero que gostem e aproveitem !!!


1) Marlos Loiola - Dr. Vellini, gostaríamos de saber um pouco do seu histórico acadêmico /profissional, quando e onde graduou-se, especializou-se, pós-graduou, por onde lecionou, pesquisas realizadas.

Prof. Vellini - Pertenço a uma família tradicionalmente de cirurgiões-dentistas. Meu pai, Dr. Augusto de Oliveira Pinto Ferreira, formou-se no ano de 1916, pela então Escola de Pharmacia e Odontologia, hoje Universidade de São Paulo aonde, quatro décadas mais tarde aproximadamente, graduei-me, razão pela qual em um de meus livros prestei-lhe justa homenagem pelo exemplo que transmitiu a seu filho, a seus netos Dr. Flávio Augusto Cotrim Ferreira e Dra. Andréia Cotrim Ferreira, e à Dra. Érica Ferreira Arruk Nicoli, minha sobrinha.



Na USP construí minha carreira universitária recebendo os títulos de Mestre, Doutor, Livre-Docente e Professor Associado de Anatomia, tendo editado, juntamente com o Prof. Dr. Octavio Della Serra a obra - Anatomia Dental – hoje com três edições em português. Dessa maneira adquiri uma sólida formação biológica, alicerce fundamental de minha carreira acadêmica.


Prof. Picosse ministrando aula sobre cavidade bucal, assistida pelo Prof. Vellini

Prof. Vellini e Prof. Picosse, na USP, trocam idéias sobre o ensino das ciências básicas aplicadas à clínica.

Embora envolvido no ensino e na pesquisa, jamais abandonei a clínica, por entender que necessitava aliar ciência e arte para melhor preparar meu alunado. Cedo enveredei pelos caminhos da Ortodontia, sendo acolhido pelos Professores Dr. Arthur do Prado Dantas, Dr. Sebastião Interlandi, Dr. Manoel Carlos Muller de Araújo e Dr. Décio Rodrigues Martins, todos pertencentes a USP, com os quais colaborei intensamente ministrando as disciplinas de Crescimento e Desenvolvimento Craniofacial nos cursos de Mestrado que então se implantavam no Brasil.

Especializei-me com o Prof. Muller de Araújo na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP) do qual fui Assistente, o que me permitiu galgar alguns anos mais tarde, a posição de Professor Titular de Ortodontia nas Universidades Cidade de São Paulo e de Santo Amaro, sendo que na primeira ocupei o cargo de Diretor durante vinte e dois anos.

A experiência adquirida por mais de três décadas no ensino, na pesquisa e na clínica particular, autorizou-me, com reconhecimento do MEC, a edificar no ano de 1997, o Instituto de Pós Graduação que leva meu nome, instalado na Vila Mariana (Unidade I) e posteriormente na Avenida Paulista (Unidade II).

Imbuído da idéia constante de transmitir os conhecimentos que adquiri ao longo de tantos anos de atividades, escrevi livros, publiquei mais de uma centena de trabalhos no Brasil e no exterior, organizei serviços ligados à cultura e ao atendimento à comunidade, bem como participei ativamente de congressos, seminários e fóruns clínicos.


2) Marlos Loiola - Conforme contato inicial, falei que seu livro me influenciou na escolha da ortodontia, já na graduação. Como e quando surgiu a idéia de escrever um livro tão abrangente e utilizado nas Universidades Brasileiras. Quantas edições, em quantos e quais países foi publicado. Existe algum novo projeto a caminho?

Prof. Vellini - Desde jovem procurei expressar meu pensamento por meio da redação, colaborando em jornais, em produções literárias e artísticas.

Como professor, tive a oportunidade de firmar-me no campo da escrita amparado por notáveis mestres de incalculável cultura, mormente europeus, quando da minha estada no velho mundo por ocasião de bolsa de estudo com que fui agraciado.



O exemplo desses educadores marcou-me profundamente a ponto de incentivar-me a publicação do livro Anatomia Dental na década de 70.
A seguir, dedicando-me com afinco ao ensino da especialidade, iniciamos, eu e minha equipe, a reunir material para a edição da obra – Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico – dirigida ao aluno de graduação e pós-graduação, na qual trabalhamos, desde o projeto inicial até sua edição final, aproximadamente dez anos.

Acredito que o grande sucesso do livro, que conta atualmente com sete edições em português, duas em espanhol e uma em língua inglesa (em preparo), foi o fato de mostrar ao estudante que o sucesso do tratamento ortodôntico depende de um correto diagnóstico clínico e um bem fundamentado planejamento do caso. Para a complementação dessa edição, estamos em vias de término da obra Ortodontia Clínica – tratamento com aparelhos fixos, que acredito será de grande valia àqueles que se dedicam à correção das más oclusões dentais.

3) Marlos Loiola - No seu livro é abordado e muito bem explicado a analise carpal (Mão e Punho). Atualmente tem saído inúmeras pesquisas sobre analise das vértebras cervicais, o que o doutor acha? Pela sua experiência e estudo, tal analise é tão confiável quanto a carpal?

Prof. Vellini - Como tivemos a oportunidade de expor em nosso livro sobre ortodontia, a determinação da maturidade esquelética por meio das radiografias de mão e punho, faz parte da listagem dos exames complementares empregados para um bom diagnóstico clínico e um correto planejamento do tratamento ortodôntico. Estudos têm mostrado que pelo menos dois terços dos casos tratados ortodonticamente incluem tipos de más oclusões aonde o crescimento e o desenvolvimento desempenham papel preponderante no êxito ou fracasso da mecanoterapia. Daí a importância do estudo da radiografia carpal e das vértebras cervicais, para uma avaliação não apenas do crescimento atuam mas também do crescimento que ainda está por vir.

Para o ortodontista é fundamental analisar a época de tratamento, ou seja, se precoce ou tardia. Equivale dizer, se ainda há crescimento craniofacial, ou se este já cessou. Essas informações, as radiografias de mão e punho e das vértebras cervicais nos fornecem, porém com alguma diferença: na primeira (mão e punho) podemos aferir através dos diferentes eventos de ossificação, o período de surto de crescimento puberal e a fase de término do crescimento, enquanto que na segunda avaliamos, pelas alterações morfológicas sucessivas das vértebras cervicais, apenas o surto de crescimento. Essa linha de pensamento nos leva a optar, mais comumente, pela radiografia carpal face à sua praticidade, reprodutibilidade, acurácia e segurança, uma vez que a região da mão e do punho apresenta menos estruturas anatômicas nobres que a região cervical. Ademais, a sinostose entre a epífise e a diáfise do segmento distal do rádio é um elemento seguro a nos indicar a fase de término de crescimento.


4) Marlos Loiola - Outro belo capitulo do seu livro aborda o Aparelho de tração Extra Bucal, usado e publicado por Jhon N. Farrar já em 1875 na Dental Cosmos, e muito bem descrito no seu livro. Gostaria de saber se na sua opinião tal aparatologia está em total desuso, ou se ainda tem alguma indicação?

Prof. Vellini - O trabalho publicado em 1947 no “American Journal of Orthodontics” por Silas Kloehn e intitulado “Guiding alveolar growth and eruption of the teeth to reduce treatment time and produce a more balanced denture and face”, conferiu novo alento aos aparelhos extrabucais utilizados por Kingsley em 1880 e Angle em 1900 aproximadamente e logo a seguir abandonados, sendo substituídos pelos elásticos intermaxilares devido à crença de que eles poderiam promover não apenas mudanças dentais quanto esqueléticas.

Pesquisas subseqüentes evidenciaram que alterações ósseas espaciais significativas só poderiam ser obtidas com o auxílio do aparelho extrabucal, fato este aceito até os dias atuais. Assim, sempre que se pretende movimentar um dente ou grupo de dentes com o aparelho extrabucal usa-se uma força mais leve e de intensidade menor. Para se conseguir alterações ortopédicas no complexo maxilomandibular, lança-se mão de forças pesadas e intermitentes. Elas abrem suturas, comprimem, expandem, guiam ou mudam a direção de crescimento dos ossos maxilares e da face. Essa é a razão pela qual a tração extrabucal continua tendo precisa indicação no tratamento ortodôntico e ortopédico.


5) Marlos Loiola - Existe também um capitulo que já abordava a importância da informática na Ortodontia, Hoje em dia inúmeros avanços tecnológicos andam atrelados a nossa especialidade, quais avanços na sua opinião ocorreram nestas áreas?

Prof. Vellini - Antevejo a próxima década como de grandes transformações na ortodontia, mormente pelo maior desenvolvimento e aplicação de softwares de diagnóstico e planejamento do tratamento ortodôntico. Além disso, presentemente, a maior parte de nossos pacientes submete-se a tratamentos com aparelhos padronizados cujo controle dos movimentos dentários nem sempre são expressos exatamente nos três planos de espaço. Com o avanço tecnológico contemporâneo, tanto o design do aparelho quanto o sistema de forças a ser empregado poderá ser melhor utilizado com o auxílio do computador. Ademais, os registros digitais dos casos clínicos, a análise e a interpretação dos cefalogramas facilitando à escolha de diferentes opções de tratamento, as previsões das mudanças de perfil resultantes do tratamento ortodôntico, a aquisição e o arquivamento de imagens facilmente transportáveis em tempo real pela internet, serão ferramentas que a cada dia se aperfeiçoam de modo a contribuir significativamente para o aprimoramento da atividade clínica do profissional.

6) Marlos Loiola - Atualmente inúmeros estudos mostram a eficiência dos Mini implantes ortodônticos. Utilizados em varias situações De acordo com sua experiência e estudos, quais situações em que devemos ter cautela na utilização destes acessórios? E claro, gostaria de saber, o quais são as vantagens e aplicações ao seu ver.

Prof. Vellini - Os mini-implantes ortodônticos constituem-se em dispositivos de ancoragem absoluta com múltiplas e eficientes aplicações clínico-ortodônticas, devido a seu tamanho reduzido, instalação em diversos sítios da cavidade bucal pelo próprio ortodontista, custo reduzido, simples procedimento cirúrgico com curto período de cicatrização, podendo ser removido após o tratamento. Todavia necessitamos ter cautela em seu emprego, pois algumas complicações podem ocorrer. A perda da estabilidade é a mais freqüente, dependendo de fatores vários como tipo de osso, região de inserção, etc.
Outro cuidado importante a ser tomado refere-se às raízes dentais; embora uma de suas características seja o reduzido tamanho, falhas em sua inserção relativas ao desconhecimento da topografia dental pode levar a uma lesão radicular. De outra parte, o acúmulo do biofilme bacteriano na porção exposta do mini-implante pode levar à inflamação do tecido mole em seu derredor (mucosite peri-implantar ).

A prática clínica tem evidenciado a possibilidade de fratura desse dispositivo de ancoragem, constituindo-se em um fator de risco em seu emprego. Pode ocorrer durante sua inserção ou retirada, estando normalmente relacionada ao excesso de força desenvolvida durante sua aplicação. Todavia, a qualidade e a densidade óssea podem influenciar na resistência ao torque de inserção levando à fratura da região próxima à cabeça do mini-implante.

Enfim, para obtermos sucesso na utilização dos mini-implantes como elemento de ancoragem absoluta, em ortodontia, nós devemos levar em consideração, além da seleção cuidadosa do caso clínico e os procedimentos rigorosos de biossegurança, as estruturas anatômicas envolvidas, as condições locais e gerais do paciente, bem como o tipo de material e sua forma adequada.




7) Marlos Loiola - Outro grande avanço foi no campo do diagnóstico, com a imagens digitais como a tomografia volumétrica Cone Bean. Na sua prática e estudos quais as aplicações e recursos deste poderoso instrumento?

Prof. Vellini - A tomografia computadorizada da região maxilofacial, representada pela tecnologia de feixe cônico (Cone Beam), tem representado um grande avanço no campo do diagnóstico e planejamento do tratamento ortodôntico. Imagens em 3 D, com a possibilidade de visualização das estruturas do crânio e da face em conjunto ou observadas independentemente mudando-se a densidade dos tecidos, tem permitido o estudo da morfologia da cabeça nas três dimensões do espaço, de forma dinâmica e estática, o mais próximo possível do natural. A observação nítida de áreas não visíveis nas imagens bidimensionais como a topografia radicular dos incisivos superiores com relação à cortical palatina, a quantidade de tecido ósseo vestibular ao nível das arcadas dentárias, o estudo do espaço aéreo faríngeo, a avaliação do posicionamento de dentes inclusos ou com raízes reabsorvidas (reabsorção interna ou externa), a avaliação em 3D da oclusão, da ATM, dos seios maxilares, são apenas alguns dos modernos recursos ligados a essa tecnologia contemporânea. Abrem-se desta maneira, no campo da pesquisa, novas perspectivas de estudo que permitirão melhor definir os objetivos dos tratamentos ortodônticos.


PROF. DR FLÁVIO VELLINI-FERREIRA (SP)

- Doutor, Livre-Docente e Professor Associado pela USP.
- Coordenador do Curso de Mestrado em Ortodontia do Instituto Vellini
- Diretor do Centro de Treinamento Odontológico e Coordenador dos Cursos de Pós Graduação em Ortodontia do Instituto Prof. Flávio Vellini
- Member of the MBT Global Group

Autor do Livro ORTODONTIA -Diagnóstico e Planejamento Clínico Ed. Artes Médicas 6a. Edição e 2a. Edição em Espanhol.

Contatos: 55 11 2577-7842 55 11 3289-0307
vellini@vellini.com.br


Link do Instituto Vellini:

Entrevista com o Dr. Flavio Vellini - Parte 02




Dando continuidade a entrevista com o Dr. Flavio Vellini, postarei agora a 2ª parte da entrevista com este grande nome da Ortodontia.


1) Marlos Loiola - Em vários Países como os Estados Unidos da America, a Ortodontia anda de mãos dadas com a Ortopedia dos Maxilares, O que o Doutor achou da separação destas especialidades aqui no Brasil? E o gradativo desaparecimento da Ortopedia dos maxilares dos centros de estudos e publicações científicas aqui no Brasil?

Prof. Vellini – Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares são partes componentes de um todo relativo à ciência voltada ao estudo do crescimento e desenvolvimento dos maxilares, da face e do corpo em geral, com influências sobre o posicionamento dos dentes e elementos associados. Tem como objetivo a prevenção, interceptação e tratamento de todas as formas de más oclusões dentais e das alterações das estruturas circunvizinhas pela aplicação e o controle de aparelhos funcionais ou corretores, visando a manter relações ótimas oclusais, bem como harmonia estética e funcional entre os componentes do aparelho mastigador. Depreende-se pois, pela definição exposta, que este sistema vivo, sensivelmente adaptativo, em particular durante o período de crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial, se molda perfeitamente tanto ao tratamento ortodôntico, que visa precipuamente à movimentação dental, quanto ao ortopédico, que se destina à relocação óssea espacial. Assim sendo, não há porquê separar ortodontia de ortopedia, uma vez que a perfeita interdigitação dental, base de uma oclusão estável, só conseguimos com o uso de aparelhos fixos.


2) Marlos Loiola - Em relação a Ortodontia Lingual. Quais situações em que podemos empregá-la, tempo médio de tratamento, vantagens e desvantagens da técnica.

Prof. Vellini – Vejo, atualmente, a ortodontia lingual como um grande avanço da especialidade uma vez que, na sociedade moderna em que vivemos, a beleza tem assumido cada vez mais importância na vida pessoal, até mesmo no sentido de elevar sua auto estima. Por essa razão, profissionais de diversas áreas têm buscado soluções estéticas e cosméticas com o intuito de bem orientar seus tratamentos.

O número de pacientes adultos que procuram os consultórios para correção do posicionamento dental tem aumentado consideravelmente, surgindo a Ortodontia Lingual como uma opção bastante viável, por apresentar a possibilidade de colagem do aparelho fixo pelo lado interno da cavidade bucal (face palatina e lingual dos dentes), evitando-se, assim, o sorriso metálico. Novas tecnologias voltadas para o aperfeiçoamento dos braquetes linguais têm proporcionado um real conforto ao paciente sem prejuízo da dicção. Estudos realizados por fonoaudiologistas no Instituto Vellini, evidenciaram perfeita tolerância dos pacientes por esse tipo de aparelho, sejam eles colocados em adultos ou crianças.

A grande vantagem que vislumbro na ortodontia lingual relaciona-se à estética e ao tempo de tratamento que é consideravelmente diminuído quando comparado à ortodontia vestibular, ou seja, comum tempo médio de tratamento de doze meses. Não diria que há desvantagens em seu emprego, mas sim certa limitação relacionada fundamentalmente ao tamanho da coroa dental no sentido cervico-oclusal que, em alguns casos, por ser diminuto não permite a fixação dos braquetes. Como em todos os ramos da ortodontia, a aquisição de amplos conhecimentos biológicos e dedicado treinamento prático, são requisitos indispensáveis para a boa prática clínica especializada em aparelhos linguais.

Prof. Vellini com o grupo de Professores do Nucleo de Ortodontia Lingual do Instituto Vellini: Profª Rita de Cássia S. Baratela Thurler, Prof. Alexander Macedo e Profª Andreia Cotrim Ferreira


3) Marlos Loiola - O doutor é um desbravador de fronteiras no que se diz respeito a cursos. Como é lidar dia a dia com alunos ávidos por informações. E como está sendo a experiência de passar sua vivência para os colegas Portugueses (Assíduos leitores do nosso BLOG). Como anda a ortodontia por lá?

Prof. Vellini – Ensinar sempre foi meu ideal. E o faço com o máximo prazer e dedicação. Recebemos no Instituto Vellini, profissionais de todas as partes do mundo ávidos pelo saber ortodôntico, o que aumenta, em muito, a minha responsabilidade e a de toda equipe que dirijo. Daí procurarmos sempre estar constantemente atualizados nos vários campos da especialidade para que possamos transmitir as novidades mais recentes, quer na área tecnológica quanto científica. Entendemos que uma sólida formação biológica facilitará, e muito, ao aluno, diagnosticar e planejar os problemas oclusais mais freqüentes. “Pari passu”, um treinamento clínico bem orientado, alicerçado em princípios de biossegurança, de psicologia aplicada ao paciente, de ética e de uma biomecânica simples, mas eficiente, são condições imprescindíveis para uma correta prática clínica.

Ao ditar cursos aos irmãos portugueses, chamou-me a atenção sua profunda cultura, educação e facilidade de aprendizado, com certeza pela dedicação com que se houveram nas salas de aula ou nos ambientes clínicos. Senti, contudo, uma defasagem entre as técnicas utilizadas em Portugal quando comparadas às que adotamos no Brasil. Talvez seja esse fato devido ao célere avanço tecnológico em nosso país que nos obriga a estar constantemente atualizando conhecimentos na área.

Uma boa noticia aos amigos Portugueses é que apartir de fevereiro de 2010 ministraremos no Centro Universitarios de João Pessoa, na Paraiba, Ciclos de formação avançada, os mesmos ministrados em São Paulo. Desta maneira, eles poderão além de realizar um treinamento intensivo, aproveitar as maravilhas do litoral nordestino.

4) Marlos Loiola - Por falar nisso, o que o senhor acha da atual situação da Ortodontia aqui no Brasil?

Prof. Vellini – Vejo a atual situação da Ortodontia no Brasil com bons olhos. Ela está hoje no início de grandes transformações tanto sob os aspectos tecnológicos quanto demográficos. As exigências dos pacientes por bons tratamentos certamente eliminará os profissionais menos preparados. A evolução dos aparelhos ortodônticos fará com que o tratamento se estenda a um maior número de pessoas exigindo dos ortodontistas atualizarem-se em técnicas de grande eficiência. A indústria se interessará em produzir, aumentando a disponibilidade de recursos terapêuticos o que por certo tornará mais em conta o material a ser adquirido pelo profissional. Enfim, todos serão beneficiados: pacientes, ortodontistas e industriais.

5) Marlos Loiola - Conheço bem o seu site, muito bem explicativo e com muitas informações, gostaria que o doutor falasse um pouco do mesmo, sobre os fóruns e discussões de casos clínicos.

Prof. Vellini – Com o entusiasmo que sempre nos caracterizou há algum tempo nós temos nos dedicado à difusão de conhecimentos com a utilização da Internet, com cursos virtuais, semipresenciais, alcançando profissionais não somente das distintas regiões do Brasil, que sem este recurso teriam dificuldades para sua atualização, como também alunos da América Latina (Venezuela, Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Uruguai) e Europa (Portugal e Espanha).

Fomos um dos precursores do módulo de discussão de casos clínicos a distância, sendo que esta proposta se insere em um plano mais amplo de ensino em Teleodontologia. Trata-se de uma nova forma de educação continuada, que cria um espaço de debates com colegas da área ortodôntica, rompendo o seu isolamento profissional. O objetivo é discutir o diagnóstico e o planejamento de casos clínicos complexos que muitas vezes necessitam de um debate mais aprofundado para a sua solução.

Sem sombra de dúvidas, cada dia eu fico mais surpreso com as possibilidades da comunicação. Discutimos casos clínicos com um colega, em particular, ou com grupos de estudos de distintas regiões geográficas, como se estivéssemos todos sentados na mesma sala de aula.

Estamos agora avançando em nosso projeto de Teleodontologia; nosso Instituto, em parceria com o Grupo CINETVNET, tem realizado a transmissão de videoconferências para congressos ou pequenos grupos de estudos. Isto possibilita uma grande economia de tempo, evitando a dificuldade de agenda e o deslocamento físico de renomados professores para um local especial, tendo ainda a vantagem dos participantes acessarem nosso Portal para rever mais uma vez o conteúdo transmitido.




Videoconferencia Transmitida para o Centro de Estudos Santa Barbara, em Maracay – Venezuela, coordenado pela Profa. Marisela Gonzales de Bello


6) Marlos Loiola - Com relação aos cursos dados aqui no Brasil gostaria que o doutor falasse um pouco deles, inclusive sobre o mestrado realizado na UNICID.

Prof. Vellini – Há mais de três décadas preparo profissionais para o competitivo mercado de trabalho. E os preparo bem. Isso por que tenho uma filosofia de ensino que mostra ao alunado um caminho a seguir que, se trilhado com esmero e dedicação, o conduzirá sucesso. Nenhum aluno nosso inicia a carreira de ortodontista sem um prévio treinamento básico, adquirido em aulas teóricas, seminários, debates, leitura orientada, etc. e um adestramento de suas habilidades em simuladores. A partir daí é que estará apto a se especializar voltando-se para as atividades clínicas ou aprofundando seus estudos em um curso de Mestrado para seguir a carreira do magistério. Mesmo assim, constantemente organizamos Ciclos de Formação Avançada, como intuito de manter os colegas a par das últimas novidades no campo da ortodontia.


Formatura da 1ª. Turma de Especialização do Instituto Prof. Flávio Vellini (junho-2008)



Formatura da 2ª. Turma de Especialização do Instituto Prof. Flávio Vellini (junho-2009)

Com onze turmas de Mestres formados pela Universidade Cidade de São Paulo, estamos no momento abrindo vagas para a décima segunda, sempre procurando incutir no aluno a idéia que a educação por ele recebida na escola nada mais é do que um curso sobre a vida, cujo trabalho de alguns anos sob a orientação de professores é apenas uma preparação, como nos ensinou Willian Osler.

7) Marlos Loiola - Doutor Vellini, gostaria que o senhor ficasse a vontade para fazer a as considerações finais.

Prof. Vellini - Como mensagem a todos os colegas que estão se iniciando ou já praticam há algum tempo essa difícil, mas cativante especialidade, eu quero dizer que não parem de estudar. Especializem-se e mantenham-se atualizados, pois no futuro, só terão êxito aqueles profissionais que bem se prepararem.
PROF. DR FLÁVIO VELLINI-FERREIRA (SP)

- Doutor, Livre-Docente e Professor Associado pela USP.
- Coordenador do Curso de Mestrado em Ortodontia do Instituto Vellini
- Diretor do Centro de Treinamento Odontológico e Coordenador dos Cursos de Pós Graduação em Ortodontia do Instituto Prof. Flávio Vellini
- Member of the MBT Global Group

Autor do Livro ORTODONTIA -Diagnóstico e Planejamento Clínico Ed. Artes Médicas 6a. Edição e 2a. Edição em Espanhol.

Contatos: 55 11 2577-7842 55 11 3289-0307
vellini@vellini.com.br
Link do Instituto Vellini:

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Ortodontia em Luto - Perdemos o Professor Dr. Flavio Vellini ...





 



Como muita tristeza perdemos o Professor Flavio Vellini era filho do Dr. Augusto de Oliveira Pinto Ferreira, que formou-se no ano de 1916, pela então Escola de Pharmacia e Odontologia, hoje Universidade de São Paulo. Quatro décadas mais tarde, graduou-se na mesma universidade, razão pela qual em um dos seus livros prestou a justa homenagem pelo exemplo que transmitiu a seu filho, a seus netos Dr. Flávio Augusto Cotrim Ferreira e Dra. Andréia Cotrim Ferreira, e à Dra. Érica Ferreira Arruk Nicoli, sua sobrinha.


Na USP construiu sua carreira universitária recebendo os títulos de Mestre, Doutor, Livre-Docente e Professor Associado de Anatomia.


Com a experiência adquirida por mais de três décadas no ensino, na pesquisa e na clínica particular, foi autorizado, com reconhecimento do MEC, a edificar no ano de 1997, o Instituto de Pós Graduação que levou o seu nome, instalado na Vila Mariana (Unidade I) e posteriormente na Avenida Paulista (Unidade II).


Escreveu livros clássicos da Ortodontia Brasileira, publicoumais de uma centena de trabalhos no Brasil e no exterior, organizou serviços ligados à cultura e ao atendimento à comunidade, bem como participou ativamente de congressos, seminários e fóruns clínicos.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

Comparação da precisão de digitalizações faciais digitais obtidas por dois scanners diferentes: Um estudo in vivo

 



Neste artigo de 2021, publicado na Angle Orthodontist, pelos autores Federica Pellitteri; Luca Brucculeri; Giorgio Alfredo Spedicato; Giuseppe Siciliani; Luca Lombardo. Do Postgraduate School of Orthodontics, University of Ferrara, Ferrara, Italy; Faculty of Banking and Insurance, Catholic University of Milan, Milan, Italy; School of Dentistry, University of Ferrara,Ferrara, Italy.  Comparou o grau de precisão do scanner facial Face Hunter e do aplicativo Dental Pro para escaneamento facial, com relação às medidas manuais e entre si. 

Vinte e cinco pacientes foram medidos manualmente e escaneados usando cada dispositivo. Seis marcadores de referência foram colocados no rosto de cada paciente nos pontos cefalométricos Tr, Na0, Prn, Pog0 e L – R Zyg. Um software de medição digital foi usado para calcular as distâncias entre os pontos de referência cefalométrica em cada uma das varreduras. O Geomagic X Control foi usado para sobrepor as varreduras, determinando automaticamente o alinhamento de melhor ajuste e calculando a porcentagem de superfícies sobrepostas dentro das faixas de tolerância.

As comparações individuais das quatro distâncias medidas antropometricamente e nas varreduras geraram um índice de coeficiente de correlação intraclasse maior que 0,9. O teste t para amostras combinadas produziu um valor P abaixo do limite de significância. As bochechas direita e esquerda atingiam cerca de 60% da superfície, com margem de erro entre 0,5 mm e ± 0,5 mm. A testa foi a única área em que a maior parte da superfície se enquadrou na faixa de reprodutibilidade deficiente, apresentando valores fora da tolerância de mais de 20%.

Os autores concluíram que as varreduras tridimensionais da superfície facial forneceram uma excelente ferramenta analítica para avaliação clínica; não parece que um ou outro dos instrumentos de medição seja sistematicamente mais preciso, e as bochechas são a área com a porcentagem média mais alta de superfície na faixa altamente reprodutível.


Link do artigo na integra via Meridian:

https://meridian.allenpress.com/angle-orthodontist/article/91/5/641/463603/Comparison-of-the-accuracy-of-digital-face-scans

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Uma comparação da precisão de imagens tridimensionais adquiridas por 2 scanners digitais intraorais: efeitos da irregularidade dentária e direção do escaneamento

 



Neste artigo de 2016, publicado no The Korean Journal of Orthodontics, pelos autores Ji-won AnhJi-Man Park; Youn-Sic ChunMiae KimMinji Kim do Department of Orthodontics, Graduate School of Clinical Dentistry, Ewha Womans University, Seoul, Korea; Department of Prosthodontics and Dental Research Institute, Seoul National University Gwanak Dental Hospital, Seoul, Korea e do Department of Pediatric Dentistry, Graduate School of Clinical Dentistry, Ewha Womans University, Seoul, Korea. Teve o objetivo de comparar a precisão de imagens tridimensionais (3D) adquiridas com os scanners digitais intraorais iTero® (Align Technology Inc., San Jose, CA, EUA) e Trios® (3Shape Dental Systems, Copenhagen, Dinamarca) , e avaliar os efeitos da gravidade das irregularidades dentárias e da sequência de digitalização na precisão.

Os modelos de arcada dentária foram confeccionados com diferentes graus de irregularidade dentária e divididos em 2 grupos com base na sequência de varredura. Para avaliar sua precisão, as imagens foram sobrepostas e um algoritmo de sobreposição otimizado foi empregado para medir qualquer desvio 3D. O teste t, o teste t pareado e ANOVA de uma via foram realizados (p <0,05) para análise estatística.

Os sistemas iTero® e Trios® não mostraram diferença estatisticamente significativa na precisão entre os modelos com diferentes graus de irregularidade dentária. No entanto, houve diferenças estatisticamente significativas na precisão dos 2 scanners quando os pontos de início da digitalização eram diferentes. O scanner iTero® (desvio médio, 29,84 ± 12,08 mm) se mostrou menos preciso do que o scanner Trios® (22,17 ± 4,47 mm).

Os autores concluiram que a precisão das imagens 3D diferia de acordo com o grau de irregularidade do dente, sequência de varredura e tipo de scanner. No entanto, do ponto de vista clínico, ambos os scanners foram altamente precisos, independentemente do grau de irregularidade do dente.

Link do artigo na integra via E-KJO:

https://e-kjo.org/journal/view.html?uid=171&vmd=Full

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Quão bem os modelos 3D integrados preveem defeitos alveolares após o tratamento com alinhadores transparentes?

 



Neste artigo de 2022, publicado na Angle Orthodontist, pelos Autores Ting Jiang; Jian Kai Wang; Yang Yang Jiang; Zheng Hu; Guo Hua Tang. Do Department of Orthodontics, Shanghai Ninth People’s Hospital, College of Stomatology, Shanghai Jiao Tong University School of Medicine, Shanghai, China. Avaliou a precisão de modelos integrados (MIs) construídos com tomografia computadorizada de feixe cônico pré-tratamento (pré-CBCT) no diagnóstico de defeitos alveolares após tratamento com alinhadores transparentes.

Foram coletados exames de tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) pré-CBCT e pós-tratamento de 69 pacientes que completaram o tratamento sem extração com alinhadores transparentes. Os MIs compreenderam dentes anteriores em posições previstas e osso alveolar de varreduras pré-CBCT. A acurácia dos MIs para identificar deiscências ou fenestrações foi avaliada comparando-se as médias dos volumes dos defeitos, diferenças médias absolutas e coeficientes de correlação de Pearson com aqueles medidos em exames pós-CBCT. A precisão da predição de defeitos foi avaliada pela sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivos e valores preditivos negativos. Fatores que possivelmente afetam as alterações nos defeitos alveolares mandibulares foram analisados usando um modelo linear misto.

As medidas de MIs mostraram desvios médios de 2,82 +- 9,99 mm3 para fenestrações e 3,67 +- 9,93 mm3 para deiscências. As diferenças médias absolutas foram de 4,50 +- 9,35 mm3 para fenestrações e 5,17 +- 9,24 mm3 para deiscências. As especificidades dos MIs foram superiores a 0,8, enquanto as sensibilidades foram ambas inferiores (fenestração = 0,41; deiscência = 0,53). Os valores preditivos positivos foram inaceitáveis (fenestração = 0,52; deiscência = 0,62), e a confiabilidade geral foi baixa (0,80). A distalização e a proclinação dos molares foram positivamente correlacionadas com aumentos significativos nos defeitos alveolares nos incisivos inferiores após o tratamento.

Defeitos alveolares após o tratamento com alinhadores transparentes não podem ser simulados com precisão por modelos integrados construídos a partir de tomografia computadorizada de feixe cônico pré-tratamento. Deve-se ter cuidado no tratamento do apinhamento com proclinação e distalização do molar para a segurança do osso alveolar nos incisivos inferiores.


Link do artigo na Integra via Meridian:

https://meridian.allenpress.com/angle-orthodontist/article/91/3/313/451550/How-well-do-integrated-3D-models-predict-alveolar