ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Relação entre mordida cruzada posterior e alterações posturais em crianças

terça-feira, 16 de março de 2010

Relação entre mordida cruzada posterior e alterações posturais em crianças


Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Gaucha de Odontologia, pelos autores Juliana Jaqueline de Matos LOPES, Adriana LUCATO, Eloísa Marcantonio BOECK Mayury KURAMAE, Mário VEDOVELLO FILHO; do Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras, Faculdade de Odontologia. Araras, São Paulo, Brasil. Avalia a postura corporal de indivíduos com mordida cruzada posterior funcional, sendo esta uma das maloclusões que mais necessitam de tratamento ortodôntico.

A mordida cruzada posterior caracteriza-se por uma relação transversal inadequada dos dentes posteriores superiores em relação aos dentes inferiores, ou seja, quando as cúspides vestibulares dos dentes superiores ocluem nas fossas centrais dos antagonistas inferiores. Esta má oclusão, frequentemente, é observada quando há diminuição das dimensões transversais do arco dentário superior. Segundo Moyers é um termo utilizado para indicar a relação lábio lingual anormal dos dentes. Dentre as más oclusões de maior prevalência, destacam-se as mordidas cruzadas. A prevalência das mordidas cruzadas posteriores está situada entre 8 e 23,5%, segundo diferentes estudos, sendo mais frequentes as unilaterais funcionais que as bilaterais. Esta má oclusão figura na terceira posição da escala de prioridade e de problemas de saúde bucal do Brasil.

Na maioria das vezes, a mordida cruzada desenvolve-se precocemente, já na dentadura decídua, e apresenta baixo índice de autocorreção, independente do fator etiológico envolvido. Deste modo, diversos autores preocupam-se em esclarecer sua etiologia, procurando conduzir o diagnóstico e racionalizar da melhor forma o tratamento8. É desejável empregar um tratamento precoce, pois um movimento mandibular incorreto produziria modificações indesejáveis de crescimento, com compensação dentária, podendo acarretar, futuramente, uma assimetria esquelética e padrões funcionais potencialmente prejudiciais, como por exemplo, alteração da mastigação.

As causas mais encontradas na literatura são: a respiração bucal; a perda precoce de dentes decíduos; os hábitos bucais deletérios como sucção digital ou chupeta, deglutição atípica e a migração do germe do dente permanente; interferências oclusais; anomalias ósseas congênitas; falta de espaço nos arcos (discrepância entre o tamanho do dente e o tamanho do arco); fissuras palatinas e hábitos posturais incorretos, podendo estar associados à etiologia da mordida cruzada posterior.

O ser humano, mesmo que aparentemente esteja imóvel, ajusta constantemente sua postura para adequar seu corpo ao meio externo que o rodeia. As modificações no crescimento e desenvolvimento não ocorrem somente por fatores morfogenéticos, mas também as variações morfológicas são determinadas por influências pós-natais. Recentemente, dois fatores fisiológicos maiores, a postura e a respiração, têm sido descritos como possíveis modificadores no controle do crescimento e do estabelecimento da morfologia dentofacia. A alteração postural mais comum, relacionada à posição oclusal dentária, é a cabeça projetada para frente.

Para Barony & Santiago Junior, em um indivíduo normal, a postura apresenta o crânio articulado na porção mais alta da coluna cervical, sustendo e equilibrado pelos côndilos do occipital, na articulação atlanto occipital. Uma alteração na posição craniocervical é capaz de gerar trocas definidas na morfologia craniofacial. Os planos escapulares e glúteos deverão estar alinhados e deverá haver uma lordose cervical mais acentuada do que a lordose lombar, tanto no adulto como na criança. No plano frontal, sete linhas imaginárias são traçadas, paralelas ao solo, para observar a assimetria da face e do corpo; a linha bipupilar, a linha entre os trágus, a linha da comissura labial, a cintura escapular e a cintura pélvica. Assim, a boca deve ser entendida como uma unidade estabilizadora do mecanismo esquelético, tornando imprescindível extrapolar seus limites para compreender sua relação como um todo.

Durante a vida do indivíduo, a postura corporal vai se tornando cada vez mais ereta, sendo que os sistemas respiratório, sensorial, dentário, etc. promovem a adaptação anatômica do tronco em relação ao pescoço. Tendo os músculos do tronco e do pescoço um papel muito importante no equilíbrio da cabeça, se ocorrer alguma interferência neste equilíbrio, a postura da cabeça também sofre mudanças. Essas mudanças foram constatadas, nesse estudo, através das imagens do plano lateral, nas quais 63,64% apresentaram a anteriorização da cabeça, gerando um desequilíbrio postural.

Segundo Souchard os segmentos do corpo humano, assim como as funções hegemônicas, estão anatômica e funcionalmente relacionadas, de tal forma que se endereçando uma alteração a uma parte do indivíduo, toca-se o conjunto dele. Ele ainda afirma que a manutenção do equilíbrio é fundamental e a desorganização de um segmento do corpo implicará em uma nova organização de todos os outros, assumindo, então, uma postura compensatória, a qual também influenciará as funções motoras dependentes. Foi possível observar que os indivíduos analisados apresentam mordida cruzada posterior funcional, desenvolvendo a mastigação unilateral. Ocorre, assim, um desequilíbrio das funções mastigatórias e uma postura compensatória, podendo refletir nas alterações posturais e desenvolvendo assimetrias.

De acordo com Ferraz Júnior et al., trabalhos recentes constataram que a postura corporal global interfere na posição da cabeça que, por sua vez, é diretamente responsável pela postura da mandíbula, mas a relação inversa pode ocorrer com uma disfunção no sistema estomatognático, levando a alterações na postura corporal.

A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que as alterações posturais dos indivíduos com mordida cruzada posterior funcional, nos planos descritos foram:

a) plano frontal (parâmetros articulares biacromial, crista ilíaca e birotular) - mostrou que um grande percentual da amostra apresenta desvio de normalidade nesses parâmetros;

b) plano lateral - verificou-se a anteriorização de cabeça, apresentou distribuição homogênea de incidência entre ambos os gêneros, apesar da amostra de indivíduos do gênero masculino ter sido menor, apontando, portanto, para uma maior incidência no gênero feminino;

c) plano dorsal - as alterações posturais que mais apresentaram assimetria foram no plano dorsal (parâmetro articular biescapular - ombros), onde todos os indivíduos analisados apresentaram assimetria, estando fora dos padrões da normalidade.

Dessa forma, esse estudo concluiu que todos os indivíduos analisados com mordida cruzada posterior funcional e alterações posturais nos planos frontal, lateral e dorsal apresentaram desvios posturais.

Link do artigo na integra via Revista RGO:

http://www.revistargo.com.br/include/getdoc.php?id=4255&article=1892&mode=pdf

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