ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: EFEITO DOS APARELHOS ORTODÔNTICOS REMOVÍVEIS SOBRE A FONOARTICULAÇÃO

terça-feira, 30 de março de 2010

EFEITO DOS APARELHOS ORTODÔNTICOS REMOVÍVEIS SOBRE A FONOARTICULAÇÃO


Neste artigo de 2008, publicado pela Revista do Hospital Central do Exército, pela autora Ana Lúcia dos Santos Loureiro; Fonoaudióloga da Clínica de Otorrinolaringologia do HCE; Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana – Campo Fonoaudiológico pela Universidade Federal de São Paulo; Doutora em Fonoaudiologia pela Universidad Del Museo Social Argentino - Argentina. Investiga o efeito dos aparelhos ortodônticos removíveis (técnica de Bimler) sobre a fonoarticulação.

Na fonação, os diferentes sons produzidos inicialmente na laringe através dos movimentos das pregas vocais são posteriormente articulados nas cavidades nasal e bucal por meio de sistema de válvulas formadas pelos dentes, lábios, língua, palato duro e mole. As cavidades nasal e bucal e os seios maxilares complementam esse sistema fonatório, atuando como cavidades de ressonância para o som. É necessário normalidade dessas estruturas para que a fonoarticulação se processe normalmente, podendo ser afetada diretamente por dificuldades em efetuar os movimentos fonoarticulatórios e indiretamente por deformidades dento-faciais.
Além disso, aparelhos dentais ortodônticos ou protéticos podem também causar alterações na fonoarticulação, porque a colocação destes aparelhos na cavidade bucal modifica as estruturas que produzem os sons, alterando a profundidade e a largura do palato e conseqüentemente diminuindo o espaço oral para a acomodação da língua. Isso deveria ser levado em consideração pelos ortodontistas durante suas intervenções profissionais para que o recurso utilizado para a correção das anomalias das estruturas orofaciais não originasse problemas fonoarticulatórios.
Assim, com a finalidade de contribuir para um melhor conhecimento das alterações e possíveis conseqüências devido ao uso que os aparelhos ortodônticos removíveis podem produzir na fonoarticulação, realizamos este estudo, que teve por objetivo verificar o efeito dos aparelhos ortodônticos removíveis sobre a produção fonoarticulatória.

Feldman (1957) selecionou 32 pacientes, com idades variando entre nove e dezoito anos, com o objetivo de examinar os efeitos produzidos na fala pela colocação de aparelhos ortodônticos. Organizou dois grupos: o primeiro com pacientes que usavam plano de mordida ou aparelho de contenção de Hamley, e o segundo composto pelos que usavam técnica labiolingual associada ao aparelho de Johnson; não foi considerado o tipo de maloclusão para a seleção dos pacientes, por ser irrelevante para este estudo.

Todos os pacientes foram submetidos a três avaliações fonoarticulatórias: a primeira antes da colocação dos aparelhos, a segunda até uma hora após a colocação dos mesmos, e a terceira no período de uma a três semanas de uso dos aparelhos.

Como resultados obtidos, foi observado que pacientes portadores dos planos de mordida e aparelhos de contenção apresentavam mais distorções fonêmicas após uma hora de colocação dos aparelhos do que os que usavam aparelhos labiolinguais e labiolingual em conjunto com aparelhos de Johnson. E, independentemente do aparelho que estava sendo usado, as dificuldades articulatórias desapareciam num curto espaço de tempo. Concluiu que os aparelhos ortodônticos em algumas situações podiam afetar a articulação dos sons da fala temporariamente, mas ao final de três semanas os pacientes apresentavam acomodação ao desconforto às alterações produzidas pelos aparelhos, e a fácil adaptação sugere não ser necessário associar o tratamento fonoterápico.

Haydar et al. (1996), com o objetivo de estudarem os efeitos das contenções maxilares e mandibulares na articulação dos sons da fala, avaliaram 5 pacientes no fim do tratamento ortodôntico ativo, portanto, no início do uso do aparelho de contenção. Os pacientes eram adolescentes ou adultos jovens, sendo 2 mulheres e 3 homens.

Os aparelhos usados foram placa de Hawley clássica com grampos de Adams e arco vestibular com alças verticais. A parte de acrílico do aparelho apresentava a forma de uma ferradura estendendo-se até os primeiros pré-molares e a espessura era de 2 a 3 mm. O paciente era instruído a remover o aparelho no momento das refeições. As avaliações foram feitas com os aparelhos de contenção maxilar e mandibular em posição e sem os aparelhos na boca em três ocasiões diferentes: na primeira hora, após vinte quatro horas e após uma semana de uso dos aparelhos.

Ao analisar os resultados, os autores concluíram: os pacientes apresentam alterações que diminuem com o passar do tempo, e após uma semana desaparecem ou diminuem. E, pela espessura uniforme de 2 a 3 mm é menor ainda na região alveolar anterior superior, permite uma adaptação da língua num curto período.

Avaliaram 60 indivíduos, sendo 30 do sexo masculino e 30 do sexo feminino, com idades variando entre 8 anos e 3 anos e 11 meses. Todos estavam em fase de dentição mista ou permanente incompleta (sem mutilações). Não apresentavam qualquer outro tipo de alteração orgânica evidente, e todos eram pacientes de clínicas odontológicas particulares do estado do Rio de Janeiro. Apresentavam mal-oclusão, mas neste estudo não levamos em consideração o tipo de maloclusão. Todos os indivíduos foram tratados pela técnica de Bimler de aparelho ortodôntico removível, e submetidos a uma avaliação fonoaudiológica.

Frente aos resultados encontrados neste estudo, os autores acreditaram ser lícito concluir que:
1) Os aparelhos ortodônticos removíveis alteram a produção de fonemas em diferentes freqüências de ocorrências;

2) Os fonemas que mais freqüentemente se alteram com a colocação dos aparelhos ortodônticos removíveis são os sibilantes/ alveolares (/s/, /z/), com alterações presentes em 45 (75,0%) dos indivíduos avaliados;

3) Os fonemas que seguem freqüentemente mais afetados são os palatais (/ch/, /j/), alterados em 41 (68,3%) dos indivíduos da amostra;

4) Os fonemas línguo-alveolares (/t/,/d/,/n/) também se apresentam alterandos em 36 (60,0%) dos indivíduos com a colocação do aparelho ortodôntico removível;

5) O fonema uvular (/R/) não sofre nenhuma modificação com a presença do aparelho ortodôntico removível.


Link do artigo na integra via HCE:

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