ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Análise morfológica do arco superior de portadores de fissura labiopalatal submetidos a diferentes protocolos de expansão rápida maxilar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Análise morfológica do arco superior de portadores de fissura labiopalatal submetidos a diferentes protocolos de expansão rápida maxilar


Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Maíra Massuia de Souza, Luciane Macedo de Menezes, Susana Maria Deon Rizzatto, Gustavo da Luz Vieira, Ricardo Damo Meneguzzi; da disciplina de Ortodontia na Faculdade de Odontologia da PUCRS - Rio Grande do Sul. Analisam, por meio de modelos de gesso, as dimensões do arco superior de 15 portadores de fissura transforame incisivo unilateral, com deficiências transversal e anteroposterior da maxila, submetidos à expansão com dois diferentes protocolos de ativação.

O fissurado transforame incisivo unilateral apresenta um crescimento maxilar diferente do indivíduo não-fissurado, em todos os sentidos, sendo que, ao nascimento, as dimensões anteroposterior e transversal da maxila se encontram aumentadas. Por volta dos três anos, as relações anteroposteriores e vertical apresentam-se próximas do normal e, a partir dessa idade até os seis anos, passa a existir uma tendência à retrusão maxilar. Uma característica desses pacientes é o perfil côncavo, resultado do retrognatismo da maxila devido à falta de crescimento anteroposterior da mesma, levando ao prognatismo mandibular relativo ou à pseudo-Classe III. Dessa forma, há alta incidência de mordida cruzada anterior, evidente na transição entre as dentaduras decídua e mista. O desenvolvimento de mordida aberta também é comum, devido à deficiência no crescimento vertical da maxila.

Após a cirurgia do lábio, realizada nos primeiros meses de vida, esses pacientes frequentemente apresentam subdesenvolvimento maxilar, envolvendo as dimensões sagital, vertical e transversal, principalmente devido à presença de cintas musculares labiais firmes e tensas, bem como de tecidos cicatriciais no palato que influenciam negativamente o crescimento, além de acarretar grande prejuízo estético e funcional.

As alterações faciais mais frequentes em quase todos os tipos de fenda, provavelmente resultantes dos atos cirúrgicos, são: retrusão da face média, distorção das estruturas alveolares e alterações na postura da mandíbula. A Ortodontia é indispensável no tratamento das sequelas maxilares provocadas pelas cirurgias, cuja gravidade está diretamente relacionada ao grau de traumatismo provocado pelas mesmas.

A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia sem assistência ortodôntica subsequente chega à vida adulta com uma situação alterada dos seguimentos maxilares, ocasionando o desenvolvimento de más oclusões de difícil tratamento e prognóstico ruim. As mordidas cruzadas posteriores são frequentes, apresentando vários graus de severidade, envolvendo desde um único dente até o arco todo, com tendência ao agravamento durante a dentadura permanente16. A retrusão da maxila associada à mordida cruzada anterior e lateral é um achado muito comum em pacientes portadores de fissura, apesar de todo o acompanhamento e cuidados despendidos durante o tratamento.

As intervenções ortodônticas interceptativas em pacientes sob programas de reabilitação devem ser executadas após os seis anos de idade, pois nessa fase os mesmos apresentam as distâncias transversais anteriores (intercaninos) quase sempre diminuídas, acarretando o estreitamento na região anterior da maxila – prejudicial ao posicionamento da língua e, consecutivamente, ao tratamento fonoaudiológico executado nessa época. Além disso, é nessa fase que o crescimento da maxila começa a se manifestar com mais intensidade e os pacientes se mostram mais conscientes, exigentes e colaboradores com o tratamento.

Apesar de promover melhora na relação transversal dos arcos, a expansão do arco superior não reflete nenhum resultado no perfil de pacientes com fissura transforame unilateral. Dessa forma, a protracão maxilar é recomendada no tratamento da retrusão da face média, sendo instituída precocemente para tirar proveito do fato das suturas circum-maxilares estarem em crescimento ativo.

A instalação de aparelho fixo com parafuso expansor promove a expansão segmentada nos portadores de fissuras completas por meio do alargamento da fissura, sendo o efeito ortopédico resultante do posicionamento lateral dos segmentos palatinos. No indivíduo fissurado, a expansão não é seguida de formação óssea ao nível da sutura palatina mediana, devendo-se manter uma contenção após a remoção do aparelho até que um enxerto ósseo seja realizado na região.

Liou e Tsai, em 2005, propuseram um novo protocolo de ativações para a ERM, utilizando um expansor com duas dobradiças para expandir e girar os processos maxilares com centro de rotação na região da tuberosidade. O protocolo consiste em expansões e contrações alternadas semanalmente, com ativações de uma volta completa por dia, durante sete a nove semanas. Segundo os autores, os procedimentos alternados promovem a desarticulação das suturas circum-maxilares sem expandir excessivamente a maxila, sendo indicados principalmente para pacientes que não necessitam de um grande ganho transversal. Em seu estudo, dez pacientes portadores de fissura labiopalatal foram submetidos a esse protocolo durante nove semanas, sendo comparados a um grupo de 16 pacientes, também fissurados, onde foi utilizado o protocolo convencional de Haas por uma semana. No grupo submetido ao novo protocolo, foi verificado maior deslocamento anterior da maxila.

No presente estudo, quando foram comparadas as medidas transversais iniciais e finais, todas apresentaram aumento significativo, o que demonstra a efetividade dos dois protocolos de expansão instituídos. Contudo, ao se efetuar a comparação intergrupos quanto ao ganho transversal, não se encontrou diferença estatisticamente significativa. Vieira também não encontrou diferenças significativas quanto ao avanço da maxila nessa mesma amostra.


Link do artigo na integra via Scielo:

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