ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: A influência da respiração oral na oclusão dentária: uma visão geral da literatura

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A influência da respiração oral na oclusão dentária: uma visão geral da literatura






Neste artigo de 2008, publicado pela ACTA ORL/Técnicas em Otorrinolaringologia, pela autora Edna Namiko Izuka, cirurgiã-dentista do Hospital da Cruz Vermelha - Filial do Paraná; Verifica os aspectos diagnósticos e preventivos da má oclusão dentária secundária à respiração oral na Literatura científica.

Os primeiros relatos sobre os efeitos nocivos da respiração oral datam de 1861, quando um artista americano, George Catlin, chamando a atenção para este problema, publica uma matéria intitulada “Má respiração ou respiração da vida”. Já no início do século XX, alguns autores acreditavam que a característica estrutural e funcional da dentadura humana era produto de um sistema complexo de inter-relações entre estruturas que incluíam os maxilares, os processos alveolares, arcos dentários, músculos, lábios, bochechas, língua, vias aéreas nasais, palato e garganta. Segundo Angle, a respiração oral poderia vir a ocasionar deformações estruturais, se estas alterações estivessem ocorrendo num período importante de crescimento. Até 1950, acreditava-se que o crescimento do esqueleto craniofacial era geneticamente pré-determinado. “Um padrão de crescimento imutável semelhante aos ossos longos governa o crescimento do crânio e da face”.

Os tecidos moles craniofaciais por sua vez, são então reconhecidos como um fator decisivo no estabelecimento da oclusão dentária; notando-se que indivíduos portadores de obstrução nasal, que apresentam uma posição inferiorizada da mandíbula, tendiam a apresentar uma respiração oral compensatória, impedindo a língua de ocupar sua posição normal na abóboda palatina, dando margem ao desenvolvimento de uma má oclusão.

Nesta mesma época, estudos em pacientes respiradores orais, mostram resultados controversos, indicando que a obstrução da função respiratória pode estar relacionada a vários tipos faciais, e que, nem todo paciente respirador oral apresenta o fácies denominado “adenoideano”, e vice versa.

Além da obstrução das vias aéreas superiores por diferentes motivos, o tipo físico, como por exemplo, a predisposição anatômica dos indivíduos longelíneos, começa a ser valorizada com fator determinante de respiração oral.

Estudo sobre o padrão facial em respiradores orais, portadores de hipertrofia da tonsila palatina, quando comparado com o grupo controle de indivíduos respiradores nasais demonstrou que, os respiradores orais apresentavam aumento da altura facial total e da altura antero-inferior, uma menor profundidade sagital da nasofaringe e posição inferiorizada da língua. Após a remoção cirúrgica da adenóide houve uma normalização da profundidade sagital da nasofaringe e da inclinação do plano mandibular em relação à maxila. Segundo os autores, a manutenção crônica da boca aberta teria tornado possível o crescimento da mandíbula para baixo e para trás. Esta teoria foi também compartilhada por outros estudiosos que acreditavam e postulavam que quando as narinas ficam totalmente bloqueadas, a cabeça giraria para trás cerca de 5°, aumentando a separação dos maxilares. Estes se separam muito mais pela elevação da maxila devido à inclinação para trás da cabeça, do que pela depressão da mandíbula. Quando a obstrução é removida, a postura da cabeça retorna à sua posição original.

Em estudo da oclusão versus respiração em crianças respiradoras orais e respiradoras nasais, observou-se um posicionamento inferior e anterior da língua, maior inclinação do plano mandibular e um aumento da altura facial antero-inferior. A posição da língua passa também ser considerada um fator importante no diagnóstico de certas condições clínicas como na mordida cruzada dentoalveolar anterior, na biprotrusão alvéolo dental e no prognatismo mandibular. Alguns autores observaram que estas condições clínicas poderiam estar associadas com a posição da língua para frente ou com tonsilas palatinas hipertróficas.

Segundo Silva Filho et. al., nos respiradores nasais a dimensão do espaço aéreo nasofaringeano não influencia na morfologia craniofacial, porém, a partir do momento em que a obstrução mecânica compromete a função respiratória, o espaço passa a guardar uma relação mais estreita com a mesma. Por meio de registros cefalométricos, Behlfelt et. al., analisaram as diferenças da postura de cabeça, do osso hióide e da língua, entre crianças com e sem tonsilas palatinas hipertrofiadas, levando-se em consideração a postura natural da cabeça. Comparados os resultados dos dois grupos, constataram que crianças portadoras de tonsilas palatinashipertrofiadas apresentavam postura estendida da cabeça, posição mais baixa do osso hióide e postura mais anterior e inferior da língua em relação ao grupo controle. Concluíram que o padrão postural das crianças com tonsilas palatinas hipertrofiadas provavelmente estaria associado à necessidade de manter a passagem aérea orofaringeana livre.

Em estudos com indivíduos com face normal e face longa, os resultados demonstraram que os indivíduos com face longa apresentavam incidência significantemente maior de respiração oral que os indivíduos com face normal. Por outro lado, há evidências de que o modo de respiração pode nem sempre estar relacionado à capacidade das vias aéreas, ou seja, vias aéreas nasais impedidas invariavelmente resultam em alguma respiração bucal, o inverso nem sempre se aplica. Outros estudos realizados com um grande número de crianças portadoras de obstrução grave das vias aéreas superiores têm demonstrado alta freqüência de mordida cruzada posterior tanto na dentição decídua como na permanente, particularmente naquelas com tonsilas palatinas
hipertrofiadas.

Com a finalidade de analisar a postura corporal em crianças respiradoras orais, pesquisadores concluíram que alterações posturais ocorrem igualmente em ambos os sexos, e que para crianças de até oito anos de idade, não se evidenciam diferenças estatísticas, mas, porém, a partir dos 8 anos de idade o numero de alterações é estatisticamente maior nos respiradores orais do que nos respiradores nasais. Crianças respiradoras nasais apresentam uma maior harmonia corporal do que crianças respiradoras orais.

Em relação a alterações comportamentais, embora alguns resultados sejam controversos, acredita-se que respiradores orais, particularmente entre aqueles em que distúrbios do sono estão associados, apresentam um índice elevado de comprometimento da atenção e memória.

Embora ainda controversa em muitos aspectos, particularmente no que se refere às características genéticas e ou adquiridas das más oclusões, a literatura é praticamente consensual ao considerar os fatores etiológicos mais importantes da respiração oral, incluem a obstrução mecânica do nariz, da faringe e os hábitos orais. E que quando a obstrução mecânica é resolvida, e o hábito persiste, a má oclusão e a propensão às alterações funcionais são observadas na maioria dos casos.

Os problemas ortodônticos mais freqüentemente observados no respirador oral são a mordida cruzada, palato ogival, protrusão da maxila, retrusão da mandíbula e altura facial anterior aumentada. O diagnóstico e a intervenção precoce das alterações respiratórias podem evitar transtornos futuros para o complexo craniofacial.

A abordagem do respirador oral deve ser multidisciplinar, necessitando de avaliação de vários profissionais da saúde, incluindo otorrinolaringologista, ortodontista, fonoaudióloga, fisioterapeuta, odontopedriatra e alergista entre outros.


Link do artigo na integra via ACTA orl:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe !