ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Entrevista com o Professor Doutor Weber Ursi - Parte 1

quinta-feira, 1 de março de 2012

Entrevista com o Professor Doutor Weber Ursi - Parte 1



Esta semana o Blog Ortodontia Contemporânea tem a honra de dividir com os nossos amigos leitores, uma entrevista com um grande nome da Ortodontia Brasileira o Professor Dr. Weber Ursi, Ortodontista Clinico em São José dos Campos - SP; Mestre e Doutor em Ortodontia pela FOB-USP, Professor Livre Docente da UNESP - São José dos Campos - SP e Coordenador da Especialização em Ortodontia da APCD - São José dos Campos. Estamos também muito felizes em poder contar com a sua presença no Curso Avançado da Academia da Ortodontia Contemporânea, que abordará tratamento com Braquetes Auto-ligáveis. Aproveitem a entrevista e mais uma grande oportunidade de conhecer e aprender com um profissional de grande gabarito.

Marlos Loiola - Professor Weber Ursi, divida conosco a sua Historia de vida. Nos contando sua trajetória acadêmica, profissional, na pesquisa e de docência. 

Dr. Weber Ursi - É uma pergunta interessante, pois nunca haviam me feito desta maneira. Me formei em Odontologia na Universidade Estadual de Londrina, em 1982, numa família que não tinha dentistas. Fui paciente de Ortopedia Funcional dos Maxilares, sendo tratado com aparelhos de Bimler por 4 anos, e talvez daí tenha vindo minha motivação para fazer Odontologia, já com o objetivo de estudar Ortodontia.

Após me formar fui trabalhar em Petrópolis, RJ, em uma clínica em que um dos sócios era o Dr. Luiz Felipe Figueiredo, irmão do presidente da república de então, João Figueiredo. O trabalho era árduo, de segunda a sábado das 7-21 horas, mas me deu condições para juntar dinheiro para ir para  Chicago, perto da região onde havia morado quando intercambista do American Field Service (AFS) durante o terceiro ano de colegial. Me deparei com uma barreira intransponível, não havia bolsas para Mestrado em Ortodontia no exterior e eu não tinha o dinheiro suficiente para pagar o curso e para sobreviver. Conheci lá na Universidade de Illinois o Dr. Mário Algodoal, professor da Faculdade de Odontologia de Bauru que estava fazendo pós-doc, que me recomendou para fazer o curso de Mestrado em Bauru, com o Dr. Décio Rodrigues Martins. 

Voltei ao Brasil e infelizmente teria que esperar 2 anos para o início do curso, e ainda por cima, ainda mais descapitalizado. Um colega me sugeriu ir trabalhar em Itaituba, nas margens do rio Tapajós, no Pará. Fiquei lá por 18 meses, onde, apesar das dificuldades, aprendi a apreciar as belezas da Amazônia e da cultura Paraense. A eletricidade era de gerador, e funcionava das 8-12, 14-22, depois era um escuro só, sem ar condicionado numa temperatura de fritar ovos. A experiência clínica, e principalmente, da interação paciente/profissional que este tempo me proporcionou certamente me ajudaram na vida toda. 

Voltei para Londrina onde um grande amigo me ajudou com as primeiras noções de Ortodontia, o Prof. Claudenir Rossato. Iniciei o Mestrado em Bauru, em Março de 1986, com duração de 3 anos, em período integral. Grande parte do que sei de Ortodontia hoje, se deve a estes anos de imersão total, e certamente devo a meus mestres da FOB-USP,  Drs. Décio,  Renato, Marcos, Arnaldo, Fernando, Guilherme e do Centrinho Dino e Omar.

Meu orientador de Mestrado foi o Dr. Renato Rodrigues de Almeida, grande amigo e incentivador, onde aprendi a apreciar quão difícil é coletar uma amostra. Selecionei a amostra em colégios da cidade, buscava cada participante do trabalho em casa, fazia toda a documentação necessária. Depois fiz todas as medidas com transferidor, digitei todos os resultados para elaboração da análise estatística e datilografei o boneco da tese inteiro numa máquina Olivetti Praxis. Resolvi ficar para o Doutorado, com os Drs. Guilherme de Almeida (Federal de Uberlândia) e Jussara Cansanção (Federal do Rio Grande do Norte), iniciado em Março de 1989.

Me interessei em me inscrever no programa de Bolsa Sandwich e felizmente fui aceito pelo Dr. James McNamara para ficar um ano na Universidade de Michigan, onde fui em Agosto de 1990. Foi um ano que mudou minha vida, pois tive o prazer de ter contato com muitos mestres que somente conhecia por seus trabalhos, como o Dr. Robert Moyers, cujo livro dei os primeiros passos na carreira. Em Michigan coletei todos os dados para minha tese de Doutorado, gentilmente cedidos pelo Prof. McNamara.  Quando estava para retornar, surgiu uma residência em Cirurgia Ortognática na New York University, no Departamento de Oral Surgery, que se iniciou em Julho de 1991. Durante um ano, fui o residente Ortodontista do Centro de Deformidades Dentofaciais. Minhas atribuições eram de tratar os pacientes que seriam submetidos a Cirurgia Ortognática, fazer o preparo pré-cirúrgico destes casos e de outros casos particulares dos professores, desde as radiografias, cirurgia de modelos, confecção de splints cirúrgicos, traçado predictivo, simulação em computador (isto em 1991), etc. Além disto, auxiliava e fotografava todas as cirurgias.

Em 1992, atendendo um convite do Dr. Antenor Araújo, fiz concurso para ingressar na UNESP de São José dos Campos, onde estou até hoje. Coordeno o Curso de Especialização em Ortodontia da APCD local e mantenho clínica privada, que é minha atividade que me toma mais tempo é meu ganha pão, e uma vez que não poderei contar com herança para aposentadoria, vou ter que continuar trabalhando por muitos anos ainda, o que é bom para nos manter ativos e saudáveis.


Wendel Shibasaki - Professor Weber Ursi, nos últimos anos temos visto um grande interesse por técnicas e equipamentos modernos na ortodontia. Acredita que a biomecânica ortodôntica está passando por um enfoque mais mecânico que biológico? Na sua visão, quais os desdobramentos disso?

Dr. Weber Ursi - Acredito que a fisiologia da movimentação ortodôntica não tenha mudado em nada, uma vez que “um osteoclasto, é um osteoclasto, é um osteoclasto...”. O que mudou nos últimos anos é como fazemos a movimentação ortodôntica de maneira mais eficiente que em décadas passadas, e mais confortável para o paciente. Não creio que a qualidade dos casos melhorou com mais tecnologia, mas certamente ficou mais fácil atingir um patamar de excelência, e isto continuará a nos guiar. 

Mesmo a biomecânica não mudou em nada, pois os princípios físicos que regem a movimentação dos dentes são os mesmos, a não ser que eu não tenha sido avisado.....  Novamente, o que mudou, foi a facilidade de se controlar biomecanicamente as movimentações pretendidas, com menor esforço e menos efeitos colaterais. 

O que eu vejo hoje, são arautos de firmas comerciais travestidos de professores, com uma bagagem cultural, geral e principalmente ortodôntica, muito aquém da exposição que tem na mídia. Mas não vamos nos ater a lamentações, a ortodontia atual é o que é, com coisas melhores e piores que nas décadas passadas, e nós temos que nos adaptar à estas tecnologias, senão, teremos apenas interesse arqueológico.

Wendel Shibasaki - O tratamento de adultos demanda, além de eficiência, eficácia. Tempo de tratamento é um fator decisivo para os candidatos a uso de aparelho ortodôntico. Os tratamentos ortodônticos de hoje são, em média, mais rápidos que os do passado? A que se deve isso?

Dr. Weber Ursi -Esta pergunta é carregada de armadilhas na resposta. O tratamento mais rápido é melhor ? Seguramente se você perguntar ao paciente ele dirá que sim, pois não há nada de prazeiroso ter os dentes cobertos por elementos estranhos a ele, que machucam e doem. 

Mas, a rapidez seguramente não pode ser o critério e objetivo precípuo do tratamento ortodôntico, senão o tratamento ortodôntico mais rápido seria o não-tratamento..... Outro problema é determinar quando um tratamento ortodôntico está terminado ? Será que o alinhamento das coroas determina o final do tratamento ? Seguramente a movimentação radicular é mais demorada que a movimentação ao nível incisal,  lembrando a máxima de Zachrisson “Torque takes time”. 

Onde entraria então a tecnologia, o desenvolvimento de ligas com propriedades super-elásticas, de brackets individualizados, etc ?  Na minha visão, seguramente a justificativa para seu uso é termos mais tempo para detalhamento e finalização dos casos, e após atingirmos os objetivos propostos, poder manter o aparelho por alguns meses, sem ativação, para que o tecido ósseo possa ter tempo para se remodelar adequadamente nas novas posições dentárias.  

Ao longo do tempo, qual Ortodontista terá mais sucesso em sua carreira, o que termina muito rápido mas os resultados não se mantêm, ou o que demora um pouco mais, mas tem melhor estabilidade ? Nossa especialidade tem como característica um crescimento de pacientes em progressão aritmética, e para que isto se mantenha, temos que entregar resultados excelentes, num tempo razoável e que tenham relativa estabilidade, senão estaremos diante da “comédia do alinhamento rápido, seguido da tragédia da recidiva”. Alinhamento das coroas, sem controle de torque está fadado à recidivas rápidas e certeiras.



Link da Clinica do Dr. Weber Ursi:


Conheça Mini Residencia em Ortodontia que o Dr. Weber organiza para Brasileiros na Universidade de Michigan:



Última Mini Residência em Ortodontia na Universidade de Michigan 2010:



Link do local do Curso de Especialização que o Dr. Weber Ursi Coordena:





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