A fase inicial do movimento dentário ortodôntico envolve uma resposta inflamatória aguda no periodonto, caracterizada pela vasodilatação e migração de leucócitos para fora dos capilares. Essas células migratórias produzem várias citocinas, o sinal molecular bioquímico local, que interagem direta ou indiretamente com as células periodontais. As citocinas evocam a síntese e a
secreção, pelas células alvo, de numerosas substâncias, como: prostaglandinas, fatores de crescimento e outras citocinas. Por último, essas células constituem-se em unidades funcionais que remodelam os tecidos periodontais e facilitam o movimento dentário.
O processo inflamatório agudo que tipifica a fase inicial do movimento dentário ortodôntico é predominantemente exsudativo, em que plasma e leucócitos deixam os capilares nas áreas de estresse periodontal. Um ou dois dias após, a fase aguda da inflamação diminui e é substituída por um processo crônico envolvendo fibroblastos, células endoteliais e osteoblastos. Durante esse período, os leucócitos continuam a migrar nos tecidos periodontais estressados e modulam o processo de remodelação. A inflamação crônica prevalece até a próxima consulta clínica, quando o ortodontista ativa o dispositivo indutor de força e desencadeia outro período de processo inflamatório agudo, superpondo-se à inflamação crônica.
Para o paciente, os períodos de inflamação aguda estão associados com a sensação de dor e a redução da função (mastigação). O reflexo desse fenômeno pode ser encontrado no fluido gengival dos dentes em movimento, onde significativos aumentos nas concentrações dos mediadores da inflamação, tais como as citocinas e as prostaglandinas, ocorrem temporariamente.
A observação de que o movimento dentário ortodôntico envolve muitas reações com características inflamatórias é importante por ter possibilitado uma melhor compreensão de que a cascata de fatores envolvidos na inflamação pode ser parte das reações às forças ortodônticas nos tecidos de suporte dentário. Porém, o ortodontista não deve se sentir constrangido por introduzir áreas focais de inflamação no ligamento periodontal durante o movimento dentário com finalidade terapêutica. A ocorrência de eventos inflamatórios nos tecidos não necessariamente implica em alterações ou sintomas locais clinicamente percebidos: a inflamação pode ser subclínica.
Neste estudo participaram 14 pacientes da clínica do curso de especialização em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A seleção dos pacientes não obedeceu a critérios relacionados ao gênero, à raça ou classificação de más oclusões, porém todos tinham indicação de extração dos primeiros prémolares superiores como parte do planejamento do tratamento ortodôntico. Esses pacientes foram informados das características e dos objetivos do presente trabalho, e assinaram um termo de consentimento pós-informado. O grupo de pacientes era composto por 3 homens e 11 mulheres (18,8 ± 4,8 anos; com variação de 12 a 28 anos).
Apesar do controle da aplicação da força ter sido realizado com todo cuidado – com valores considerados ótimos –, pode ser observada uma tendência à inclinação da coroa, ao invés de um movimento de translação propriamente dito. Essa inclinação pode ser corrigida nas etapas subsequentes do tratamento ortodôntico, e foi constatada na maioria dos casos utilizados nesse estudo.
Durante a retração dos caninos, a teoria da pressão/tensão do movimento dentário e os fenômenos nela descritos foram esperados. A aplicação de uma força ortodôntica sobre o dente causa um deslocamento gradual dos fluidos do ligamento periodontal, acompanhado pela distorção das células e da matriz extracelular.
Os autores concluiram que, ao longo do tempo, existe uma alteração significativa no volume do fluido gengival em caninos superiores sob movimento de retração, tanto no lado de pressão quanto no lado de tensão. No lado de pressão, o volume do fluido gengival foi significativamente menor nos tempos 0 e 24h comparados com o tempo 80d.
Link do artigo na integra via Scielo:
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