ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: O Sorriso em Doentes Submetidos a Cirurgia Ortognática

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Sorriso em Doentes Submetidos a Cirurgia Ortognática




Nesta tese de Mestrado de 2009, publicada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, pelo autor Nuno Maia Barbosa, para obter o titulo de MESTRADO EM CIRURGIA ORTOGNÁTICA E ORTODONTIA, Orientada pelo Professor Doutor José Manuel Lopes Teixeira Amarante. Avaliou as características do sorriso espontâneo em 13 doentes operados a cirurgia ortognática e numa população controle emparelhada, de 26 indivíduos. A análise do sorriso foi efectuada pela filmagem da face em posição frontal, sendo registada a duração do sorriso máximo e total.

O sorriso é formado por duas etapas. Na primeira fase há a elevação do lábio superior no sentido do sulco nasogeniano mediante a contracção dos músculos elevadores, que se originam na prega e se inserem no lábio superior. Os feixes musculares internos elevam o lábio ao nível dos dentes anteriores e os grupos musculares distais e externos elevam o lábio ao nível dos dentes posteriores. Então, o lábio encontra resistência do sulco nasogeniano devido à gordura da bochecha.

A segunda fase do sorriso envolve ainda maior elevação do lábio e do sulco por três grupos musculares: o levator labii; os zygomaticus major; e as fibras superiores do buccinator.

A fase final do sorriso espontâneo é acompanhada pelo franzir dos olhos, que representa a contracção da musculatura periocular (orbicularis oculi) para suportar o máximo da elevação do lábio superior, através da elevação do sulco nasogeniano.

Do ponto de vista anátomo-funcional distingue-se, o sorriso espontâneo, que envolve simultaneamente os músculos orbicularis oculi e zigomaticus major é considerado “sorriso Duchenne”, e o “sorriso social” ou “sorriso não Duchenne” que não apresenta contracção do orbicularis oculi.

Numa perspectiva contemporânea, Ekeman, descreve o sorriso como uma expressão universal e transcultural, postulando que a activação da emoção inicia um programa neuronal eferente, responsável pelo envio de impulsos para os músculos que produzem os movimentos faciais.

Estudos em crianças nascidas surdas e cegas demonstram que estas apresentam expressões faciais, como o sorriso, num contexto adequado à emoção expressa. Tal dificilmente pode ser atribuível a expressões aprendidas ou adquiridas.

O sorriso estimula as partes do cérebro que utilizam a Dopamina e Oxitocina como mensageiros do bem-estar. Isto coloca o riso na categoria das coisas que queremos fazer muitas vezes seguidas, tais como - por exemplo - comer chocolate ou ter relações sexuais. O sorriso é uma fonte de prazer e pode tornar-se viciante para os mecanismos cerebrais.

As descrições e as técnicas de reposicionamento dos segmentos esqueléticos faciais estão descritas desde o século XIX. No entanto, só após a primeira metade do século passado e com base nos trabalhos e ao esforço de divulgação de Obwegeser e Trauner, é que a cirurgia ortognática se tornou numa opção corrente para correcção de discrepâncias dento-esqueléticas, tendo mais tarde alargado o seu âmbito e indicações.

A principal indicação da cirurgia ortognática consiste na correcção de alterações do desenvolvimento facial, que resultam de um crescimento diferenciado do esqueleto superior e inferior da face, condicionando discrepâncias das relações entre os maxilares.

As técnicas mais frequentemente efectuadas na prática clínica são a osteotomia Le Fort I para avanço maxilar, a osteotomia segmentar do maxilar e a osteotomia sagital da mandíbula de tipo Obwegeser para avanço ou recuo mandibular, podendo ser efectuadas várias associações destas técnicas na mesma cirurgia, complementadas por vezes com mentoplastia.

Proffit e White em 1990 estimaram, com base em estudos de saúde pública na população americana na década de 60, que a prevalência de maloclusão esquelética de classe II de Angle, se
situava nos 10%, sendo que em 3% dos casos a gravidade da discrepância era suficiente para serem operados. Para maloclusões de Classe III de Angle os dados correspondentes eram 0.6% dos quais 21% apresentando necessidade de cirurgia correctiva. Em relação à mordida aberta severa, a prevalência era de 0.6% estimando em 16% os casos com indicação cirúrgica.

Curiosamente, há evidência de um elevado grau de satisfação (95%) dos doentes submetidos a cirurgia ortognática, referindo estes, ainda, que a maior parte das expectativas pré-operatórias foram cumpridas. Após a cirurgia, os doentes valorizam ainda mais a melhoria de autoconfiança, a melhoria do sorriso e a melhoria da vida social, relegando para um segundo plano as expectativas de melhorias funcionais inicialmente referidas.

A cirurgia ortognática implica, em maior ou menor grau, alterações do esqueleto facial com consequente reposicionamento e alteração das inserções musculares condicionando a modificação da tensão e dos vectores das forças da musculatura da mímica facial.

Em 2004 surge um estudo de Nooreyazdan que analisa os movimentos faciais (incluindo o sorriso instruído e espontâneo) de 19 doentes, 6 meses antes e um ano após, terem sido submetidos a cirurgia ortognática, concluindo que os movimentos faciais, incluindo o sorriso, são afectados pela maloclusão préoperatória dos doentes e pelos procedimentos da cirurgia ortognática. Refere ser útil que trabalhos futuros comparem os movimentos faciais após a cirurgia ortognática com indivíduos sem deformidades dentofaciais.

Estudar o sorriso é um desafio pela sua enorme complexidade metodológica. A primeira dificuldade reside no sorriso que deve ser analisado. O sorriso não Duchenne é uma opção mais exequível, pelo seu carácter voluntário, podendo desta forma ser instruído. No entanto, o sorriso de Duchenne ou espontâneo exibe uma maior constância das suas características (padrão temporal, movimentos produzidos e simetria) e uma melhor reprodutibilidade inter-indivíduos. Tende, pelo seu carácter espontâneo, a ser relativamente imune ao contexto laboratorial inerente à colheita dos dados.

O objetivo da cirurgia ortognática é proporcionar ao doente a melhoria da função do aparelho estomatognático, do aparelho ventilatório, fonatório, e da estética facial, contribuindo para promover a auto-estima e a socialização. A visualização dinâmica do sorriso dos doentes melhora a nossa compreensão diagnóstica e constitui um importante documento de avaliação dos resultados cirúrgicos.

Em conclusão, os resultados obtidos apoiam o pressuposto da hipótese experimental de que o sorriso dos doentes submetidos a cirurgia ortognática apresenta diferenças em relação a um grupo de controlo. No entanto, a forma como a cirurgia ortognática provoca estas alterações não é clara. A revisão da literatura não revela informação se as alterações encontradas têm implicações estéticas ou na percepção do sorriso. É importante salientar que todas as outras medições efectuadas do sorriso não revelaram diferenças entre os doentes e os controles.


Link da Tese na Integra via Respositorio aberto UP:

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