ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Termo do 1o Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial

terça-feira, 5 de julho de 2011

Termo do 1o Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial


Neste artigo de 2010, publicado pelo Dental Press Journal Orthodontics, pelos autores Simone Vieira Carrara, Paulo César Rodrigues Conti, Juliana Stuginski Barbosa; do Departamento de Prótese da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas Aplicadas da FOB-USP. Mostra O Termo do 1o Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial foi criado com o propósito de substituir divergências por evidência científica dentro dessa especialidade da Odontologia.

Por definição, dor orofacial é toda a dor associada a tecidos moles e mineralizados (pele, vasos sanguíne- os, ossos, dentes, glândulas ou músculos) da cavidade oral e da face. Usualmente, essa dor pode ser referida na região da cabeça e/ou pescoço ou mesmo estar associada a cervicalgias, cefaleias primárias e doenças reumáticas como fibromialgia e artrite reumatoide.


As principais fontes de dor orofacial são proble- mas odontogênicos, cefaleias, patologias neurogênicas, dores musculoesqueléticas, dores psicogênicas, câncer, infecções, fenômenos autoimunes e trauma tecidual.


Historicamente, a Odontologia tem se dedicado fundamentalmente ao diagnóstico e tratamento da dor odontogênica (pulpar e periodontal). Não se pode, porém, descuidar da identificação de outras fontes de dor orofacial como processos inflamatórios típicos (sinusites, parotidites), dores neuropáticas contínuas ou intermitentes (nevralgias, dor por de- saferentação, dor mantida pelo simpático), cefaleia e disfunção temporomandibular.


A dor orofacial apresenta alta prevalência na população, sendo causa de grande sofrimento para os pacientes. Além disso, pode resultar de patologias que põem em risco a vida do indivíduo. Daí a fundamental importância da participação do cirurgião-dentista na prática de um processo diagnóstico adequado.


Foi estimado que aproximadamente 22% da população haviam apresentado ao menos um tipo de dor orofacial nos 6 meses que antecederam a coleta dos dados. A causa mais frequente da dor orofacial apontada nesse estudo foi a de origem odontogênica (12,2%), seguida pela disfunção temporomandibular (DTM), constatada em 5,3% da população.


Segundo a Academia Americana de Dor Oro-facial, a DTM é definida como um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas.


Os sintomas mais frequentemente relatados pelos pacientes são: dores na face, ATM e/ou mús- culos mastigatórios, dores na cabeça e na orelha. Outros sintomas relatados pelos pacientes são as manifestações como zumbido, plenitude auricular e vertigem.


Estudos epidemiológicos estimam que 40% a 75% da população apresentem ao menos um sinal de DTM, como ruídos na ATM e 33%, pelo menos um sintoma, como dor na face ou na ATM.


No Brasil, poucos são os estudos que verificaram a prevalência de sinais e sintomas de DTM em amostras populacionais. Um estudo recente concluiu que 37,5% da população apresentavam ao menos um sintoma de DTM. Entre estudantes universitários, estima-se que 41,3% a 68,6% apresentem algum sinal ou sintoma de DTM.


Ainda não há método confiável de diagnóstico e mensuração da presença e severidade das disfunções temporomandibulares que possa ser usado de maneira irrestrita por pesquisadores e clínicos. Para o diagnóstico de casos individuais, a anamnese continua sendo o passo mais importante na formulação da impressão diagnóstica inicial.


O exame físico, constituído por palpação muscular e da ATM, mensuração da movimentação mandibular ativa e análise de ruídos articulares, quando executado por profissionais treinados e calibrados, é instrumento de grande validade no diagnóstico e na formulação de propostas de terapia, assim como de acompanhamento da eficácia dos tratamentos propostos.


A Academia Americana de Dor Orofacial (AAOP) estabeleceu, na 4o edição de seu manual, novas diretrizes para o diagnóstico e classificação das diferentes formas de DTM, que são divididas em dois grandes grupos (DTM muscular e DTM articular) com suas respectivas subdivisões.


A tentativa de isolar uma causa nítida e universal da DTM não tem sido bem-sucedida. Estudos recentes concluem que a DTM tem origem multifatorial.


Faz parte de uma anamnese completa a identificação de fatores predisponentes (que aumentam o risco da DTM), fatores iniciadores (que causam a instalação das DTMs) e fatores perpetuantes (que interferem no controle da patologia). Dentre esses fatores citaremos aqueles que supostamente são mais relevantes.


Trauma


Trauma direto ou macrotrauma.

Trauma indireto: representado por lesões do tipo chicote.

Microtrauma: provocado por traumas de pequena monta, realizados de maneira repetitiva, como hábitos parafuncionais (bruxismo, apertamento dentário, etc).


Fatores psicossociais

Ansiedade, depressão, etc.


Fatores fisiopatológicos

Fatores sistêmicos: doenças degenerativas, endócrinas, infecciosas, metabólicas, neoplásicas, neurológicas, vasculares e reumatológicas.

Fatores locais: alteração na viscosidade do líquido sinovial, aumento da pressão intra-articular, estresse oxidativo, etc.

Fatores genéticos: presença de haplótipos associados à sensibilidade dolorosa.


O objetivo do tratamento da DTM é controlar a dor, recuperar a função do aparelho mastigatório, reeducar o paciente e amenizar cargas adversas que perpetuam o problema.


A etiologia indefinida, o caráter autolimitante e a altíssima eficácia recomendam a utilização inicial de terapias não-invasivas e reversíveis para os pacientes que sofrem de DTM.


Alguns estudos relatam o controle de sinais e sintomas em mais de 90% dos pacientes que re- ceberam tratamentos preservadores. Educação do paciente, automanejo, intervenção comportamental, utilização de fármacos, placas interoclusais, terapias físicas, treinamento postural e exercícios compõem a lista de opções aplicáveis a quase todos os casos de DTM.


Há carência de políticas públicas que visem divulgar a patologia e acolher os indivíduos que sofrem de DTM. É insignificante o volume de atendimentos proporcionados pelo Estado. Essa falta de assistência e informação, invariavelmente, frustra o paciente, provocando uma insistente busca por outras especialidades que tratam sintomas semelhantes, mas não promovem controle adequado do problema em questão. A especialidade de “Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial”, regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia, é esquecida dentro do contexto da saúde bucal.


A especialidade DTM e Dor Orofacial foi criada em 2002 pelo Conselho Federal de Odontologia. A despeito disso, mesmo entre profissionais da saúde, essa especialidade ainda é pouco conhecida. A adoção da disciplina de DTM e Dor Orofacial na grade curricular dos cursos de graduação de Odontologia é indispensável e urgente. O reconhecimento e o apoio, por parte das autoridades que gerenciam a política de saúde pública, são necessários para que o atendimento primário ao paciente com dor orofacial seja viabilizado de forma eficaz. Essas medidas reduzirão o sofrimento desses indivíduos e a sobrecarga financeira sobre eles.


Deve ser considerada postura antiacadêmica estabelecer protocolo ou promover cursos de Educação Continuada apoiados na terapia oclusal como forma de terapia definitiva para o controle de sinais e sintomas de DTM.



Link do Artigo na Integra via Scielo:


http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v15n3/14.pdf


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe !