ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Análise Facial Subjetiva

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Análise Facial Subjetiva


Neste artigo de 2006, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Sílvia Augusta Braga Reis, Jorge Abrão, Leopoldino Capelozza Filho, Cristiane Aparecida de Assis Claro; do Departamento de Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo; da Disciplina de Ortodontia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté; da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – Bauru; Mostra que a análise facial tem sido um recurso diagnóstico valorizado desde os primórdios da Ortodontia que vários autores tentaram estabelecer referências de normalidade na direção das quais os pacientes ortodônticos deveriam ser tratados.

A Odontologia moderna tem seu sucesso associado à união sinérgica de todas as especialidades, sejam elas Dentística, Prótese, Cirurgia ou Ortodontia, para a construção de um sorriso saudável,
mas principalmente estético. Essa premissa está de acordo com as expectativas dos pacientes, que tem por principal motivação para o tratamento a melhora estética advinda do mesmo. Na Ortodontia, essa afirmação já foi comprovada por vários estudos. Segundo Giddon, 80% dos adultos que procuram o tratamento ortodôntico para si ou para seus filhos, o fazem por motivações estéticas, independente das condições estruturais e funcionais. Esse autor só fez confirmar a observação já divulgada por Mckierman et al.

A resistência dos ortodontistas em tratar pacientes sem queixas funcionais pode ser questionada em vista dos resultados obtidos por Varella e Garcia-Camba ao avaliarem longitudinalmente a auto-imagem de 40 pacientes adultos submetidos ao tratamento ortodôntico. Esses autores verificaram que os pacientes tinham a auto-imagem reduzida antes do tratamento e observaram uma melhora da mesma durante o tratamento. Outro aspecto interessante é que a autopercepção da face e dos dentes foi maior entre os indivíduos que procuraram o tratamento, possivelmente pelo desconforto que a aparência e o sorriso lhes impingia.

A perspectiva atual da prática e da pesquisa odontológica exige que o profissional se aproxime das expectativas do seu paciente ao definir a melhora da estética facial e do sorriso como o principal objetivo do tratamento, e a avaliação direta da face do paciente como seu principal recurso diagnóstico, a qual permite observar as características faciais harmoniosas e desarmoniosas como o paciente é avaliado por si mesmo e pelos seus pares. Ao paciente, definitivamente, não interessa que os ângulos e proporções de sua face estejam dentro de um “padrão de normalidade” se este padrão não se adequar às suas características étnicas e individuais. A principal aspiração do paciente é ser reconhecido como bonito, ou no mínimo normal, por si mesmo e pela sociedade, eliminando características desagradáveis do sorriso e de sua face.

Inúmeros autores já tentaram definir características faciais responsáveis pela estética agradável (beleza). Wuerpel, Herzberg e Brons observaram que a estética agradável estaria associada à harmonia e ao equilíbrio entre as partes constituintes do perfil facial. Rickets e Jefferson observaram que a beleza estaria associada à coincidência das proporções faciais com a proporção áurea. Cunningham, Peck e Perret et al. associaram a beleza a características neonatais. Segundo esses autores, as faces consideradas mais atrativas seriam aquelas com olhos grandes e espaçados, área nasal pequena e mento pequeno, consideradas características neonatais, associadas a características de maturidade, como maxilares proeminentes, e de expressão, como sobrancelhas altas.

Todas essas teorias foram testadas em inúmeros trabalhos e não foi possível estabelecer uma característica facial responsável pela beleza. Isso já havia sido observado por Perrin desde 1921. Esse autor estudou a atratividade e a repulsividade física, sob o ponto de vista da Psicologia, ao solicitar aos estudantes de Psicologia da Universidade do Texas que selecionassem os 25 homens e as 25 mulheres mais bonitos da escola. Analisando essa escolha, o autor observou que a seleção não foi baseada em qualquer característica do selecionado, mas no sentimento despertado pelo mesmo no avaliador. Esse sentimento estaria associado a uma variedade de características, nenhuma delas necessariamente presente em qualquer indivíduo da amostra selecionada. Ou seja, a beleza não está em qualquer característica do avaliado, mas nos olhos do avaliador.

Esse trabalho teve por objetivo primário sugerir termos que favorecem a comunicação entre os diversos profissionais envolvidos na Odontologia estética, e dos mesmos com o paciente.

Observamos, entretanto, após incluir a Análise Facial Subjetiva como rotina na atividade clínica, que a classificação estética do paciente é mais um instrumento diagnóstico, que tem sua importância aumentada por ser o parâmetro pelo qual o paciente e as pessoas com as quais ele convive vão avaliar os resultados do tratamento.

Segundo Capelozza, e baseados nesse estudo, concluímos que faces agradáveis são exceções e, geralmente, não dependem do dentista para atingirem ou permanecerem nesse estágio. Porém, uma vez exigindo intervenção odontológica, seja ela ortodôntica ou não, exigem do profissional um cuidado extremo para a preservação e acentuação das características de agradabilidade.

Os pacientes classificados como esteticamente desagradáveis e pertencentes aos Padrões II, III, Face Longa e Face Curta apresentam discrepâncias esqueléticas, as quais necessitam de tratamentos, que incluem muitas vezes cirurgias ortognáticas para corrigir o erro ósseo, normalmente grave.

Essa classificação da estética pode, muitas vezes, definir a necessidade de cirurgias em casos limítrofes, nos quais um tratamento ortodôntico compensatório limitado pode ser realizado, obtendo uma melhora oclusal, sem, entretanto, promover um incremento estético do paciente na pirâmide de agradabilidade. Ou seja, o mesmo continuaria com a classificação de estética facial desagradável.

A esses pacientes deve ser oferecida a oportunidade de mudança de nível, possível com a associação da Ortodontia com a Cirurgia e, muitas vezes, Implantodontia, Periodontia, Dentística e Prótese.

Os pacientes esteticamente aceitáveis são a maioria. O plano de tratamento dos mesmos, como dos anteriores, deve ser feito com a premissa da melhoria estética. Aqueles que não apresentam discrepâncias esqueléticas ou más oclusões com repercussão facial devem ser submetidos a tratamentos ortodônticos corretivos, associados a recursos de outras áreas envolvidas com a estética, que resultam em uma melhora da agradabilidade, pelo menos do sorriso, área de interesse futuro de nossas pesquisas. Aos portadores de discrepâncias esqueléticas que não maculam significativamente a estética facial, o tratamento ortodôntico compensatório primário é a melhor opção, pois permite uma melhora na estética do sorriso, função adequada e preservação das características de aceitabilidade.

Portanto, a classificação da estética facial torna próximos o ortodontista, profissionais de outras especialidades e a expectativa do paciente, além de oferecer parâmetros morfológicos importantes para decisões diagnósticas muitas vezes duvidosas.

Outros resultados deste estudo, como a comparação com o índice de agradabilidade na visão frontal, além da comparação entre os diferentes grupos de avaliadores, já foram parcialmente publicados, mas serão compreensivamente abordados em publicações posteriores.


Link do artigo na integra via Scielo:

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