ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: O uso do ultra-som na movimentação dentária induzida

quinta-feira, 27 de março de 2014

O uso do ultra-som na movimentação dentária induzida




Neste artigo de 2005, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Marcos Gabriel do Lago Prieto, Eduardo Alvares Dainesi, Márcia Yuri Kawauchi; da do Curso de Especialização em Ortodontia da ABO-Mato Grosso do Sul; e da Universidade do Sagrado Coração (USC) - Bauru. Avaliaram histologicamente o mecanismo de remodelação do periodonto de sustentação dos dentes caninos de cães adultos jovens, sob aplicação de forças ortodônticas com e sem a utilização do ultra-som.


O mecanismo da reabsorção óssea durante o movimento ortodôntico envolve uma série de etapas direcionadas para a remoção dos constituintes minerais e orgânicos da matriz óssea pelos osteoclastos, auxiliados pelos osteoblastos.


Neste processo participam uma série de mediadores bioquímicos, regulações sistêmicas por hormônios e fatores locais como os de crescimento para o fibroblasto (FGF), de crescimento insulina-like (IGF), citocinas como interleucina, que exercem efeitos sobre a replicação de células indiferenciadas.

A distorção das células, provenientes do movimento dentário está associada a uma alteração no potencial celular elétrico, reduzindo a migração de elétrons. Este fenômeno é denominado piezeletricidade.


Considera-se que o efeito piezelétrico é de fundamental importância no desencadeamento da seqüência de alterações teciduais no movimento ortodôntico e que a energia mecânica do ultra-som pode estimular este efeito piezelétrico no osso.


O movimento dentário fisiológico designa-se primariamente como sendo o leve movimento de inclinação experimentado pelo dente durante a função mastigatória e, secundariamente, o movimento do dente de jovens durante e após a erupção. Durante a movimentação dentária induzida, as mudanças ósseas passam pela mesma seqüência, no entanto, a recuperação dos tecidos se faz de maneira mais demorada, situando-se aí a maior diferença entre movimento fisiológico e movimento ortodôntico.

As interações inter/intra e extracelulares são definitivamente responsáveis pelo movimento físico dentário. Estas interações incluem os fenômenos da reabsorção e formação óssea com seus fatores locais associados, controle sistêmico hormonal da atividade ósseo-celular, assim como as respostas aos sinais endoteliais, nervosos, inflamatórios e imunológicos. O osso alveolar têm sido estudado pelo emprego de correntes iônicas (elétricas), geradas pelo estresse ou administradas ativamente, para afetar o movimento dentário. Somando isto, o metabolismo ósseo tem sido investigado em relação à influência direta do movimento dentário dependente da força alveolar.


Ao submeter fêmures humanos e bovinos ao aquecimento prévio, secagem e aplicação de pressão, Fukada e Yassuda registraram a leitura de efeitos piezelétricos, direto e reverso, existente no osso. Epker e Frost relataram a geração de voltagens e correntes elétricas na superfície do osso deformada pela curvatura. A polaridade elétrica oposta e o fluxo de corrente foram vistos nas superfícies convexa e côncava de ossos inclinados.

Proffit relatou em seu livro que existem dois elementos de controle do movimento dentário ortodôntico: a eletricidade biológica ou piezeletricidade e a pressão-tensão sobre o ligamento periodontal, afetando o fluxo sanguíneo. A Teoria da Bioeletricidade relaciona o movimento dentário controlado por sinais elétricos produzidos quando o osso flexiona e se dobra.


Buscando aplicar um procedimento na Ortodontia para reduzir o tempo e o custo total do tratamento, Tweedle e Bundy investigaram em coelhos os efeitos da aplicação de uma hipertermia local associada com a movimentação lateral de incisivos superiores. O calor localmente aplicado resultou em um aumento na taxa de movimentação dentária, como observado na separação dos incisivos superiores dos coelhos. Mais adiante, Gianelly e Schnur comprovaram que os incisivos de ratos tratados com hormônio da paratireóide, moveram-se significantemente mais longe da linha média do que os incisivos do grupo controle.


Lavine e Shamos descreveram o primeiro caso de pseudo-artrose humana congênita tratada com sucesso com corrente elétrica. Uma fratura na tíbia, tratada com gesso por 6 meses, não tendo sinal de melhora, foi submetida a enxertos ósseos que, no entanto, foram reabsorvidos e a desunião persistiu. Um ano depois, foi operada para uma reversão da diáfise e inserção de uma haste intramedular. O defeito não foi sanado apesar da rígida imobilização por 12 meses. Tendo como último recurso a amputação do membro, uma corrente direta foi passada através do defeito da pseudo-artrose e o início da união óssea foi obtida em 4 meses.


Duarte relatou a aplicação de ondas ultra-sônicas na reparação óssea em osteotomia, que consistiu de 3 orifícios lineares perfurados no córtex do fêmur de coelhos adultos. O orifício central foi o controle e o mais distante recebeu o estímulo das ondas de ultra-som. Resultados já puderam ser observados com apenas 4 dias após o tratamento. Trabéculas ósseas poderiam ser vistas no orifício estimulado, crescendo de maneira radial. No mesmo animal o orifício controle não exibia nenhuma trabécula. Os exames histológicos também mostraram uma grande atividade celular nos orifícios estimulados, como: osteoblastos, osteócitos e osteoclastos, enquanto o controle mostrou apenas um coágulo e ausência de organização. Após 15 dias os orifícios estimulados estavam completamente reparados, enquanto os de controle mostraram apenas uma tentativa de organização do coágulo de sangue.


A comparação entre os tecidos animais e humanos revelou que existem certas variações anatômicas, com relação ao tipo de osso e seus caracteres e também, de alguma forma, na reação
e transformação do tecido fibroso. Com exceção das variações anatômicas mencionadas, têm-se demonstrado repetidas vezes que a transformação das estruturas ósseas nos animais é basicamente a mesma para os humanos. A comparação de radiografias de estruturas animais e humanas com cortes histológicos têm demonstrado seu valor na correlação entre ambas espécies. As experiências de curta duração com animais são totalmente comparáveis com as feitas em seres humanos.


Em decorrência do método experimental empregado neste trabalho, combinando a aplicação do ultra-som com a mecânica ortodôntica de uma força controlada para o tracionamento de dentes caninos no hemiarco superior direito do cão, e ainda, considerando os resultados obtidos, concluiu-se que:


1) O periodonto de sustentação dos cães que receberam estimulação ultra-sônica associada à mecânica ortodôntica demonstrou resposta tecidual diferente daquela encontrada nos cães que apenas receberam a mecânica ortodôntica.


2) A exposição ao ultra-som acelera o processo de reparação tecidual, possibilitando uma resposta mais rápida.


3) O ultra-som aumenta a vascularização e a neoformação celular e contribui para uma disposição mais organizada das fibras colágenas.


4) Ocorre uma predominância de atividade osteoblástica nos animais submetidos ao uso do ultra-som.



Link do artigo na integra via Scielo:


www.scielo.br/pdf/dpress/v10n5/a09v10n5.pdf













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