ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Corticotomias alveolares na Ortodontia: indicações e efeitos na movimentação dentária

segunda-feira, 10 de março de 2014

Corticotomias alveolares na Ortodontia: indicações e efeitos na movimentação dentária


Neste artigo de 2010, publicado pela Dental Press Journal of Orthodontics, pelos autores Dauro Douglas Oliveira, Bruno Franco de Oliveira, Rodrigo Villamarim Soares; do Mestrado em Protese da PUC-Minas; do Mestrado em Ortodontia da PUC-Minas; do Mestrado em Periodontia da PUC-Minas. Revê a perspectiva histórica dessa abordagem terapêutica, apresenta e ilustra com casos clínicos suas principais indicações e, por fim, discute os fundamentos biológicos que justificam sua utilização.


O profissional que considerar a realização de corticotomias alveolares para potencializar o tratamento ortodôntico não terá como fugir desse desafio. Reintroduzida no final do século passado, essa alternativa de tratamento gerou muita curiosidade e controvérsia, talvez até pelo forte interesse comercial que cercava os profissionais que a recolocaram no cenário ortodôntico. Apesar da resistência inicial ao assunto, alguns pesquisadores viram potencial nos relatos clínicos apresentados e passaram a investigar os efeitos das corticotomias com uma visão mais científica. Atualmente, existem pelo menos dez centros e grupos de pesquisa estudando o assunto, espalhados por países como Coreia do Sul, EUA, Japão e Brasil.


As corticotomias alveolares (CAS) são definidas como intervenções cirúrgicas limitadas à porção cortical do osso alveolar. Enquanto nas osteotomias tanto material da cortical quanto do osso trabecular é removido em quantidades consideráveis; nas CAS, a incisão deve perfurar a camada cortical e, ao mesmo tempo, obter mínima penetração no osso medular. Durante a última década, a realização de CAS foi novamente sugerida como uma possibilidade para se potencializar o tratamento ortodôntico.


O emprego das CAS como auxiliares à terapia ortodôntica se manteve restrito. Entretanto, desde 2001, percebe-se nova tentativa de popularização de tal abordagem terapêutica. A realização de uma variação da técnica cirúrgica original, mais localizada, se mostrou bastante eficaz no auxílio à intrusão com magnetos de molares supraextruídos. Além disso, outra modificação da técnica, tornando-a mais generalizada e executada em associação a enxertos de osso liofilizado, foi apresentada como forma de acelerar o tratamento ortodôntico convencional, diminuindo sobremaneira sua duração.


A movimentação ortodôntica convencional é um processo biológico caracterizado pela reação sequencial do tecido periodontal e do osso alveolar adjacente às forças mecânicas geradas pelos aparelhos ortodônticos. Variáveis como as propriedades do sistema de forças envolvido, as características de turnover do ligamento periodontal e os níveis de metabolismo ósseo exercem papéis importantes na determinação do tipo e quantidade da movimentação dentária obtida. A possibilidade de acelerar a movimentação ortodôntica para diminuir o tempo total da terapia é a indicação proposta pelos irmãos Wilcko em 2001 e mais detalhadamente explicada em 2009.


Como a eficiência da movimentação ortodôntica depende do bom controle das forças aplicadas aos dentes e de como o osso alveolar vai responder ao estímulo mecânico gerado por essas forças, antes de se pensar em estimular o osso alveolar com as corticotomias, é preciso definir quais forças serão utilizadas e como as forças reacionais indesejadas serão controladas. O manejo dos efeitos colaterais de qualquer mecânica ortodôntica é, muitas vezes, a parte mais difícil do tratamento e sua adequada avaliação é, portanto, fundamental para melhorar sua eficiência. Sendo assim, é inegável que a introdução dos dispositivos de ancoragem esquelética (DAE) representou um avanço enorme para facilitar o controle de movimentos ortodônticos complexos.


Em pacientes em crescimento, a intrusão relativa dos molares superiores devido à restrição do crescimento vertical do processo alveolar da maxila é bastante viável com o uso de aparelhos extrabucais, desde que o paciente seja colaborador. Por outro lado, a intrusão real de molares supraextruídos em pacientes adultos é um dos movimentos mais difíceis na Ortodontia. Os dispositivos de ancoragem esquelética são a primeira opção para esses casos. Entretanto, não é tão raro assim se deparar com situações clínicas onde variações anatômicas dos pacientes impedem a colocação de mini-implantes no local ideal para que forças intrusivas puras sejam aplicadas. Além disso, as miniplacas, apesar de serem uma ótima alternativa para intrusão de dentes, são rejeitadas por muitos pacientes devido ao seu custo mais elevado e à necessidade de um segundo ato cirúrgico para sua remoção. Nessas condições, as corticotomias podem ser consideradas uma alternativa interessante.


Recentemente, estudos em animais ajudaram a ampliar o entendimento sobre o que acontece com o osso alveolar após a realização de corticotomias alveolares. Oliveira observou que, em cães, a densidade do osso alveolar se apresentou diminuída de forma localizada e transitória. Os maiores decréscimos na densidade óssea foram registrados imediatamente e 7 dias após o ato cirúrgico. Entretanto, as aferições aos 14 e aos 28 dias pós-cirurgia mostraram recuperação progressiva, porém parcial, da densidade óssea pré-cirúrgica. O trauma cirúrgico limitado à cortical óssea ocasionou mudanças significativas na estrutura do osso trabecular próximo ao sítio cirúrgico, havendo diminuição tanto no volume quanto na densidade. Houve aumento no tamanho das trabéculas ósseas, menor conexão entre essas estruturas e redução na densidade do trabeculado ósseo. Esses resultados são condizentes com as características do fenômeno aceleratório regional observadas na cicatrização de ossos longos e, assim, sugerem que tal fenômeno está presente também no osso alveolar após a realização das CAS.



CONCLUSÕES


O interesse pelo uso das corticotomias alveolares como abordagem coadjuvante ao tratamento ortodôntico vem crescendo e a compreensão de seus efeitos tem aumentado e se tornado mais embasada cientificamente.


O estímulo biológico gerado pelas corticotomias repercute na estrutura do osso trabecular, o que proporciona uma oportunidade para que certas movimentações ortodônticas sejam potencializadas.


Apesar de serem indicadas primariamente para encurtar o tempo de tratamento ortodôntico, os autores do presente trabalho acreditam que as indicações mais racionais para as CAS são nos casos onde dispositivos de ancoragem esquelética não podem ser utilizados, ou até mesmo em associação a eles.


Novos estudos elucidarão ainda mais como utilizar as CAS na Ortodontia, ou estimularão a busca por novos procedimentos que causem o mesmo estímulo das corticotomias, porém de forma menos invasiva.




Link do artigo na integra via Scielo:


2 comentários:

  1. é exatamente o que eu estava procurando!!!

    ResponderExcluir
  2. O melhor blog de ortodontia! informativo e sempre atual! parabens!

    ResponderExcluir

Participe !