ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Mini-implantes de ancoragem na Ortodontia Lingual: relato de caso clínico

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mini-implantes de ancoragem na Ortodontia Lingual: relato de caso clínico





Neste artigo de 2007, publicado pela Revista Detal Press, pelos autores Marcos Gabriel do Lago Prieto, Wagner Atayde Boaretti, Sueli Flores Barbosa Grisoste; do Curso de Especialização em Ortodontia da ABO-MS. Descreve uma breve retrospectiva sobre o início e a evolução da Ortodontia Lingual, do emprego dos implantes e mini-implantes utilizados como reforço de ancoragem e exemplifica a interação destes dois artifícios de tratamento, apresentando o caso clínico de um paciente adulto tratado com Ortodontia Lingual, onde os molares e pré-molares inferiores foram distalizados, empregando-se tração elástica ancorada em mini-implantes.

O paciente adulto caracteriza-se por um maior grau de exigência estética enquanto realiza seu tratamento ortodôntico. Por outro lado, não apresenta disposição em colaborar quanto ao uso de dispositivos removíveis ou fixos de ancoragem como, por exemplo: barras palatinas, botões de Nance e arco facial, dentre outros. Outro fator limitante neste tipo de paciente é a condição periodontal, que se apresenta, muitas vezes, deficiente nos dentes de ancoragem. Desta forma, a Técnica Lingual e os mini-implantes, utilizados como ancoragem, somam-se como recursos clínicos alternativos no tratamento ortodôntico do adulto.

Muitos pacientes gostariam de receber os benefícios de um tratamento ortodôntico de alta qualidade, porém prefeririam que estes aparelhos não fossem visíveis. Na tentativa de satisfazer este anseio de alguns pacientes mais exigentes com a estética e também em busca de oferecer um aparelho ortodôntico com menor risco de lesões na mucosa dos lábios, principalmente devido a acidentes no esporte, é que surgiu a Ortodontia Lingual. Seu início deu-se na década de 70 com Craven Kurz nos EUA e com Fujita no Japão. Para a prática da Técnica Lingual, foi preciso criar um sistema que fosse tão preciso e eficiente como o realizado pela face vestibular. O aparelho inicial, que tinha recursos apropriados de função e conforto ao paciente, foi manufaturado em 1979 pela ORMCO, juntamente com Kurz.

Geron e Chaushu relataram um tratamento bem sucedido de mordida aberta, realizado pela Técnica Lingual, em um paciente adulto que não aceitou o programa para cirurgia. O caso foi tratado com extrações dos segundos pré-molares superiores e dos primeiros pré-molares inferiores. Segundo as autoras, um dos possíveis fatores responsáveis pelo sucesso do tratamento foi o fato de os braquetes linguais realizarem uma barreira para a língua.

Hong et al. descreveram uma modificação do arco segmentado de Burstone, adaptado para a Técnica Lingual, em um tratamento de paciente adulto com mordida profunda. Os autores realizaram o tratamento iniciando com a mecânica de intrusão pelo arco inferior e somente decidiram colar o aparelho superior quando se conseguiu uma abertura relativa na mordida, não ocasionando, assim, interferência com os braquetes superiores, o que provavelmente provocaria extrusão dos dentes posteriores. O tratamento foi realizado com extrações dos primeiros pré-molares superiores e inferiores e alcançou-se uma relação de Classe I de Angle em 33 meses.

Echarri classificou vantagens da técnica lingual sob o ponto de vista do ortodontista e do paciente, destacando como principais as seguintes: por lingual, os movimentos de expansão, protrusão e intrusão são favorecidos; permite tratar pacientes que não aceitam braquetes visíveis; a avaliação estética dos dentes e lábios é mais fácil durante o tratamento; os lábios estão protegidos em caso de acidentes ou prática de esportes de risco; a desoclusão dos prémolares e molares contribui para seus movimentos; preservação do esmalte por vestibular; aumenta o prestígio do profissional. Ao comparar pacientes convencionais com os que usaram aparelhos linguais, Caniklioglu e Ozturk identificaram, como principal vantagem, a estética natural do aparelho lingual, resultando, com isto, que os braquetes não necessitam serem removidos antes de se obter um resultado final ideal.

Pouco mais de 30 anos de existência demonstram que a técnica lingual ainda está na sua infância, quando comparada a outras. Entretanto, como têm surgido muitos resultados bem sucedidos com a técnica, os ortodontistas estão começando a reavaliar seus méritos. Independente dos resultados, ela tem sido relatada como uma importante ferramenta de marketing, gerando uma das mais altas relações de custo/benefício.

Branemark et al. utilizaram implantes de titânio endósseo em locais de extrações cicatrizadas na maxila e mandíbula de cachorros. Demonstraram que os implantes permaneceram estáveis por mais de 5 anos, sem sinais de injúria aos tecidos ou rejeição, até quando excessivamente carregados. Os implantes tornaram-se osseointegrados e firmemente unidos ao osso.

Linkow apresentou casos clínicos utilizando lâminas de implantes para evitar migrações dentárias em casos de dentes permanentes ausentes; como ancoragem posterior para utilização de elásticos intermaxilares. Como ancoragem na Classe II de Angle, utilizou implantes instalados nas regiões dos dentes posteriores, em pacientes com anodontia parcial, e concluiu que a Implantologia prometia ser uma aliada da Ortodontia na solução de casos complexos.

Tortamano et al. demonstraram passo-a-passo a instalação de um implante Orthosystem no palato, como ancoragem máxima no arco dentário superior, utilizado no tratamento de uma má oclusão de Classe II, divisão 1 de Angle.

Umemori et al. desenvolveram o sistema de ancoragem esquelética (SAS) com miniplaca de titânio, que é implantado na maxila ou mandíbula como ancoragem intrabucal, particularmente para a intrusão de molares, para controlar a mecânica e o nível do plano oclusal durante a correção da mordida aberta. Não foram observados efeitos indesejáveis durante o tratamento ortodôntico.

A utilização dos mini-implantes como apoio à mecânica ortodôntica foi avaliada por Araújo em vários aspectos, tais como: locais de instalação, procedimentos cirúrgicos, indicações, cuidados com a higiene e complicações mais freqüentes. Estes dispositivos têm sido empregados para fechar espaços anteriores; distalizar os pré-molares; distalizar, mesializar e verticalizar os molares; intruir os incisivos; tracionamento de caninos, intrusão e distalização de molares e também para produzir retração em massa dos 6 dentes anteriores, sem que haja perda de ancoragem.

Quase todos os mini-implantes têm um orifício na cabeça, para colocação de acessórios, e outros têm diferentes tipos de ranhuras. Os mini-implantes podem ser usados em diversos diâmetros, desde que o local de eleição apresente espaço suficiente.

De acordo com Park, Kwon e Sung, os mini-implantes podem oferecer benefícios especiais em casos de não-extração, por oferecerem uma ancoragem absoluta, permitindo retrair todos os dentes e eliminando efeitos adversos em movimentos recíprocos. Os dentes posteriores inferiores, no paciente apresentado neste trabalho, foram distalizados sem apresentar efeitos colaterais. Talvez por ter sido empregada uma força suave e uma linha de ação adequada.

Para Villela, a escolha da qualidade e da quantidade da força de ativação ortodôntica é um aspecto muito relevante para a estabilidade e preservação dos mini-implantes. Enquanto, na opinião de Araújo, cuidados quanto ao sítio de instalação; à definição do tamanho; à escolha do recurso para a ativação do sistema; à direção da carga empregada e à correta higienização peri-implantar são detalhes tão relevantes quanto a quantidade de força empregada.

CONCLUSÃO

Com o emprego dos modernos recursos dentro da Ortodontia contemporânea para o tratamento do paciente adulto, observou-se, com esta breve revisão da literatura e com a apresentação deste caso clínico, que a margem de tratamentos bem sucedidos pela técnica lingual, associada à ancoragem absoluta com mini-implantes, pode ser aumentada. Mecânicas estas indicadas, sobretudo, para pacientes mais exigentes que não aceitariam aparelhos visíveis e nem seriam colaboradores com dispositivos auxiliares de ancoragem removíveis. Neste caso em particular, a mecânica empregada foi capaz de viabilizar uma oclusão ideal para um paciente adulto, de uma forma estética, eficiente e rápida, uma vez que o tratamento não ultrapassou 2 anos. Desta forma, com este trabalho pode-se concluir que:

1) Os mini-implantes são ferramentas indispensáveis na Ortodontia moderna.

2) A Ortodontia Lingual tem o seu espaço no tratamento do adulto e é capaz de corrigir os dentes de uma forma estética e funcional.

3) A associação da técnica lingual e do emprego de mini-implantes proporciona resultados previsíveis, pouco invasivos e que reduzem o tempo de tratamento.

4) O mecanismo de ajuste oclusal por remoção seletiva de esmalte auxilia na finalização do tratamento ortodôntico, sendo aconselhável sua realização em pacientes adultos.

5) A complementação com material restaurador, após o tratamento ortodôntico, contribui para a eficiência e estética do aparelho mastigatório, sendo bem-vinda em certos pacientes com coroas curtas ou desgastadas.


Link do artigo na integra via Dental Press:

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