Neste artigo de 2011, publicado pelo Dental Press Journal Orthodontics, pelos autores Alderico Artese, Stephanie Drummond, Juliana Mendes do Nascimento, Flavia Artese; dos departamentos de Ortodontia da UERJ e UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil; Faz uma revisão dos conceitos de etiologia, tratamento e estabilidade da mordida aberta anterior e apresenta critérios para o diagnóstico e tratamento dessa má oclusão, baseados em sua etiologia,
e exemplificados por casos tratados e estáveis em longo prazo.
O termo “mordida aberta” foi utilizado pela
primeira vez por Caravelli, em 1842, como uma
classificação distinta de má oclusão, a qual pode
ser definida de formas diferentes. Alguns autores
consideram mordida aberta, ou tendência à mordida aberta, quando a sobremordida é menor do
que aquela considerada normal. Outros consideram mordida aberta as relações incisais de topo.
Outros, ainda, especificam que há necessidade de
falta de contato incisal para se diagnosticar uma
mordida aberta.
Dentes e ossos alveolares estão expostos a forças e pressões antagônicas advindas principalmente da função muscular, que em parte pode determinar a posição dentária. Por outro lado, as forças
intrínsecas dos lábios e da língua em repouso geram a condição de equilíbrio para a posição dos
dentes. Por definição, o equilíbrio existe
quando um corpo em repouso é submetido a forças em várias direções mas não sofre aceleração;
ou, no caso dos dentes, não sofre deslocamento.
Existe uma relação de causalidade muito bem
estabelecida entre a MAA e o hábito de sucção
não nutritiva, como de dedos e chupeta. Nesses
casos, a autocorreção da MAA pode ser obtida
consistentemente após a remoção do hábito de
sucção, contanto que outras disfunções secundárias não tenham se instalado. Essas
disfunções secundárias podem se desenvolver devido à protrusão dos incisivos superiores gerada
pelo hábito de sucção, dificultando o selamento
necessário para a deglutição e fazendo com que a
língua se posicione de forma anormal, principalmente em repouso.
A postura da língua em repouso tem longa duração, em torno de muitas horas durante um dia,
o que a torna clinicamente importante, podendo
impedir a erupção dos incisivos, causando e mantendo a MAA. Além disso, a postura baixa da língua pode favorecer a erupção dos dentes
posteriores e causar a constrição da arcada superior pela ausência da língua no palato. Esse fator
etiológico tem sido pouco estudado e é, em geral,
negligenciado durante o tratamento da MAA. A
falha na remoção desse fator pode ser a razão primária para a recidiva dessa má oclusão.
O padrão facial vertical foi então, ao longo dos
anos, sendo considerado como o principal fator de
risco para a MAA e para a instabilidade de seu tratamento. No entanto, outros estudos relatam
que a maior parte de indivíduos hiperdivergentes
apresenta uma sobremordida normal ou exagerada, enquanto pacientes com padrões faciais normais apresentam “mordidas abertas persistentes”.
Portanto, pode-se inferir que o padrão esquelético, por si só, não seja capaz de ocasionar uma
MAA. Retornando à ideia inicial de equilíbrio de
forças entre os dentes, a presença de um impedimento mecânico faz com que os incisivos não
atinjam contato oclusal. Como a postura anormal
de repouso da língua pode ocorrer em diversas situações, esse pode ser o fator etiológico mais
relevante para a MAA.
Devido aos inúmeros fatores etiológicos descritos na literatura, diversos tipos de tratamento
foram propostos para a correção da MAA, não
existindo, ainda, consenso a respeito do que seria
o melhor tratamento para essa má oclusão. Basicamente, os diferentes tipos de tratamento podem
incluir: (a) a modificação de comportamento para
eliminação de hábitos ou funções anormais; (b)
movimentação ortodôntica através da extrusão
de dentes anteriores ou intrusão de molares; e (c)
tratamento cirúrgico das bases ósseas. O único
consenso que parece existir é que o tratamento da
MAA é difícil e de pouca estabilidade.
Existem vários tipos de tratamento, por movimentação ortodôntica, para a correção da mordida
aberta, com diferentes objetivos terapêuticos. A
utilização de aparelhos extrabucais, mentoneiras
verticais, bite-blocks, e aparelhos funcionais tem
como objetivo reduzir a extrusão de molares, permitindo um giro anti-horário da mandíbula.
Mais recentemente, o mesmo mecanismo vem
sendo realizado através da ancoragem esquelética, visando a intrusão de molares. Mecânicas de
elásticos intrabucais são utilizadas tanto para a extrusão de incisivos como para a intrusão de molares e giro do plano oclusal, associados aos arcos
multiloops. Apesar de existirem muitos relatos
bem-sucedidos dessas terapias, há poucos estudos
investigando a estabilidade de seus resultados em
longo prazo, o que impede que se façam prognósticos confiáveis para esses tratamentos.
Não existe evidência em alto nível de validade
para a eficácia do tratamento ou da estabilidade da
correção da MAA. Ensaios clínicos randomizados avaliando as diferentes terapias são, portanto,
necessários. No entanto, os resultados dos estudos de estabilidade descritos acima indicam que
a recidiva da correção da MAA está associada a
dois fatores: mudanças dentoalveolares e mordidas abertas com ausência de trespasse vertical
pré-tratamento. Esses dados sugerem que a
recidiva da MAA é causada, em geral, pela postura
anterior de língua em repouso, um fator etiológico
que não tem recebido a devida atenção nos tratamentos ortodônticos e cirúrgicos.
A dificuldade na obtenção de resultados estáveis para a correção da MAA pode ser justificada a
partir do desconhecimento de sua verdadeira etiologia. A postura da língua em repouso não é muito
considerada nos tratamentos da MAA. Algumas
evidências sugerem que a postura da língua pode
ser um dos mais importantes fatores etiológicos
da MAA. Portanto, ela deve ser analisada e tratada
quando é anormal.
Não existe apenas uma posição de repouso de
língua, ela pode se posicionar de forma mais alta
ou mais baixa, gerando mordidas abertas com diferentes características morfológicas e severidades.
Como citar este artigo: Artese A, Drummond S, Nascimento JM, Artese F. Critérios para o diagnóstico e tratamento estável da mordida aberta anterior. Dental
Press J Orthod. 2011 May-June;16(3):136-61.
Link do artigo na integra via Scielo:
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