Dando continuidade, o Blog Ortodontia Contemporânea disponibiliza a segunda parte da entrevista com o Prof. Dr. Marcio Rodrigues Almeida, Ortodontista Clinico, Professor de Ortodontia, Autor de vários artigos de relevância na Ortodontia, Autor do Livro Ortodontia Clinica e Biomecânica, publicado pela Editora Dental Press. Que conta com 16 capítulos que abordam mecânicas ortodônticas contemporâneas, ilustrados com mais de 3.000 fotografias e grande casuística clinica. Leitura necessária para o especialista clinico e alunos em processo de formação na área. Também teremos o imenso prazer de contar com sua presença no curso Avançado em Ortodontia, da Academia da Ortodontia Contemporânea, em Salvador - Bahia.
1 Marlos Loiola - No primeiro capitulo do seu livro é mostrado de uma forma bem ilustrada os aspectos básicos da biomecânica ortodontica no qual existe uma preocupação sua em informar os níveis de força, limitações e aplicações das diversas alças e acessórios ortodônticos (Dicas Clinicas). Este capitulo mostra também aplicações dos mini implantes para promover o movimento de translação. Seria este o melhor método ou mais um, para o profissional que domina a técnica do arco segmentado? Quais seriam as outras alternativas eficientes?
Dr. Marcio Almeida - Apesar das diversas técnicas e braquetes
ortodônticos desenvolvidos nos últimos 100 anos, dentre os quais os principais
podem-se considerar o Sistema Angle e o Sistema Andrews, os princípios básicos
que se utiliza para tratar uma má oclusão dependem da força e da direção
empregada para movimentar dentes na direção ideal. Deste modo, pode-se inferir
que: na Ortodontia exercem-se forças para movimentar dentes na direção desejada
empregando-se os princípios de física que são exatamente os mesmos para todas
as técnicas e sistemas de aparelhos existentes no mercado. Assim, o movimento
dentário ortodôntico ocorrerá em resposta ao sistema de forças controlado
realizado por clínicos.
Os requisitos para uma aplicação clínica consistente
com a Biomecânica exigem informações básicas necessárias para entender os
princípios físicos comuns a todos os aparelhos ortodônticos. Os conceitos
físicos que fundamentam a mecânica ortodôntica são as peças chaves para
entender como os aparelhos funcionam. Os princípios não são únicos na
Ortodontia, porém são básicos à ciência da mecânica estática. As leis estáticas
da física podem ser aplicadas para explicar o sistema de forças desenvolvidas
pelas ativações dos aparelhos. Princípios simples de mecânica podem ajudar a
compreender como os dentes são deslocados como resultado da aplicação do
sistema de forças. Para se controlar o movimento dentário objetivando atingir
resultados previsíveis baseados em planos de tratamento pré-determinados,
deve-se entender plenamente as ativações dos aparelhos. Várias situações
clínicas demandam o correto estudo do emprego da direção da força em relação ao
Centro de Resistência (Cr) dos dentes a serem movimentados. Por exemplo, se a
força aplicada ao braquete passar distante do Cr, uma tendência rotacional
poderá ocorrer e um movimento de inclinação tomará lugar.
Se por outro lado a
mesialização de um molar inferior é requerida, a força deve estar direcionada sobre
o Cr deste dente. Com a força incidindo diretamente sobre o Cr do dente o
movimento de translação ocorrerá. Existem várias formas de se aplicar esta
força nesta direção. Uma delas é com o emprego da biomecânica dos
mini-parafusos. No entanto, devemos pensar que nem todo paciente quer ser
“parafusado”. Aí que entram em cena os dispositivos biomecânicos como
alavancas, alças, cursores e braços de força para se empregar nestas situações.
Deste modo achei oportuno escrever este capitulo para o leitor poder se
familiarizar com termos que não são frequentes para a maioria dos clínicos. Os
conceitos físicos que fundamentam a mecânica ortodôntica são as peças chaves
para entender como os aparelhos funcionam. Deste modo, é importante para o Ortodontista
conhecer os sistemas de força compostos por centro de resistência, centro de
rotação, unidades de ancoragem, momento da força, proporção momento/força,
tipos de movimento dentário e sistemas estaticamente determinado e
indeterminado. O entendimento destes princípios básicos de biomecânica permite
controlar melhor a movimentação dentária e obter resultados mais previsíveis
com mínimos efeitos colaterais.
Marlos Loiola - O capitulo que aborda os “Efeitos colaterais decorrentes da mecânica de arcos contínuos”. Você mostra as limitações: Aumento do Overbite e Overjet, Maior perda de ancoragem, Inclinação dos planos oclusais e incisais, excesso de atrito durante o fechamento de espaços e dificuldade de controle de torque anterior durante a retração anterior. Apesar da técnica do arco continuo ser amplamente difundida e utilizada, o conhecimento e domínio da técnica do arco segmentado seria também uma necessidade? Porque?
Dr. Marcio Almeida - Posso dizer que um dos maiores motivos para escrever este livro baseou-se na quantidade de efeitos colaterais que pude vivenciar durante estes
anos na minha vida acadêmica e de prática privada. De capital importância friso
ainda que no início de nossa carreira não estamos ainda aptos para entender bem
como estes efeitos funcionam ou como eles podem nos atrapalhar no decorrer do
tratamento.
Um tratamento ortodôntico eficiente, independente do tipo de técnica
utilizada, exige um plano diagnóstico bem dimensionado assim como uma mecânica
precisa. Além disso, conhecer os princípios biomecânicos que governam as forças
permite obter melhores resultados num período menor de tratamento (eficiência).
Estas forças desenvolvidas pela aplicação de aparelhos fixos ou removíveis
resultam em 4 tipos principais de movimentos dentários utilizados
rotineiramente na clínica. A inclinação controlada ou descontrolada, a rotação,
a translação e o movimento radicular. Isto significa dizer que para cada fase
mecânica, deve-se empregar distintos tipos de movimentos para alcançar um
posicionamento dentário final adequado. Deste modo, para conseguir eficiência
no tratamento ortodôntico, torna-se imperioso controlar adequadamente cada tipo
de movimento supracitado.
O controle de movimento dentário tornou-se possível
graças ao desenvolvimento do conceito Edgewise, que foi uma revolução sem
precedentes na maneira de se realizar a Ortodontia no início da década de 30
por Angle. O aparelho Edgewise foi e continua sendo uma das técnicas
ortodônticas mais utilizadas para o tratamento das más oclusões. O clínico
poderia movimentar os dentes em todos os três planos do espaço, mediante a
confecção de dobras nos fios ou modificando a posição dos braquetes no ato da
soldagem ou colagem do acessório ao dente. Deste modo, a prática da Ortodontia
exigia daqueles que desejavam a ela se dedicar, além de profundos conhecimentos
científicos, uma excelente habilidade manual no que diz respeito à confecção de
dobras nos fios, pois até então era por meio delas que se conduzia o tratamento.
Aprendi com Michel Marcotte que o maior
segredo na Ortodontia reside na eliminação ou minimização dos efeitos
colaterais durante o tratamento clínico. No mesmo sentido, pude entender com o
Dr. Nanda que num
tratamento ortodôntico convencional de 2 anos, leva-se um ano tratando os problemas
pertinentes a má oclusão do paciente e o outro ano os efeitos colaterais
resultantes da própria mecânica empregada. O neófito na Ortodontia pode
se confrontar com alguns destes efeitos clinicamente que certamente
dificultarão a finalização dos casos ortodônticos, aumentando o seu tempo de
tratamento.
Marlos Loiola - Você mostra que
as assimetrias faciais representam aproximadamente em 34% dos pacientes e
afetando principalmente a região inferior da face (74%). As assimetrias com
desvios de linha média são condições comuns, ocorrendo em 46% dos pacientes ortodônticos.
Como alternativa de tratamento para as Classe II subdivisão é apresentada a
distalização unilateral sem auxílio de extrações e utilização de cantilevers.
Esta abordagem de tratamento é mais eficaz que a distalização com SlidingJig +
Mini-implantes? Existe um maior controle com os cantilevers?
Dr. Marcio Almeida - No capítulo de diagnóstico ortodôntico do nosso livro, o leitor pode observar que a lista de problemas constitui a base para o correto tratamento de acordo com um plano mecânico meticuloso e individualizado para cada paciente. Um dos aspectos mais importantes no diagnóstico é a visualização dos erros que podem acometer os pacientes. O primeiro passo para o correto diagnóstico de pacientes assimétricos é a identificação das mesmas. O Ortodontista deve ser cauteloso na avaliação de casos assimétricos, pois uma posição de 9 a 11 horas na cadeira odontológica pode mascarar ou dificultar a visualização da referida assimetria. Deve-se avaliar a face olhando de frente com visão direta, conforme as figuras abaixo.
A ferramenta mais poderosa de diagnóstico das assimetrias ainda é o exame clínico direto do paciente, assim como da oclusão. Vejo que o maior problema de alguns alunos consiste em enxergar onde está o erro!!
Com relação ao caso explicitado na pergunta, onde de um lado existe uma oclusão de Classe I e uma relação de Classe II do outro lado, causada principalmente por um erro na inclinação do molar superior que se encontra mesializado, pode-se optar pelo uso dos cantileveres. Na verdade a grande maioria das más oclusões com mesialização unilateral dos molares pode ser tratada com distalização destes dentes independente do tipo de dispositivo. Se o clínico domina o uso de alavancas pode ter mais simplicidade na sua aplicação em relação ao mini-implante e ao sliding-jig. Não acho que exista maior controle com o cantilever, mas penso que como o caso requer apenas a verticalização molar, um dispositivo simples pode ser empregado.
O fato é que na má oclusão de Classe II subdivisão, o maior componente envolvido causando uma relação molar de Classe II é a posição distal dos molares inferiores. Deste modo, conclui-se que a grande maioria das assimetrias na Classe II subdivisão são decorrentes de uma posição distal do molar inferior fruto de um problema dentoesquelético mandibular. Portanto, para os pacientes que apresentam uma Classe II subdivisão com um desvio óbvio das linhas médias, o Ortodontista deveria focar principalmente o arco inferior durante o tratamento. Para esta correção pode-se utilizar mecânicas de extrações assimétricas (3 pré-molares) ou extrações simétricas (4 pré-molares), levando-se em consideração o perfil dos pacientes. No entanto, para alguns casos com um perfil facial reto, a terapêutica de extração dentária, não deveria ser realizada em função de uma modificação estrutural deletéria na face. Portanto, os cantilevers (alavancas) são ferramentas importantes que podem ser utilizadas no tratamento de casos assimétricos de Classe II, permitindo alcançar resultados previsíveis com mínima colaboração do paciente e poucos efeitos colaterais.
Venda do livro do Dr. Marcio Almeida:
Link da Clinica do Dr. Marcio Almeida:
Gostei desta entrevista. Aprendi algumas coisas.
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