ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto de inserção reduzido

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto de inserção reduzido


Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Gaúcha de Odontologia, pelos autores Fernanda Labayle Couhat CARRARO, Cristina JIMENEZ-PELLEGRIN; do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic, Programa de Pós-Graduação, Faculdade de Odontologia, Campinas, São Paulo, Brasil. Realiza uma revisão de literatura sobre o tratamento ortodôntico para pacientes com periodonto de inserção reduzido.

As doenças periodontais estão entre as doenças crônicas mais comuns nos seres humanos, afetando de 5 a 30% da população adulta de 25 a 75 anos de idade, sendo a causa mais frequente de perdas dentárias em adultos. Sabe-se também que na presença da doença periodontal a saúde geral pode ficar comprometida. Existem evidências de que as periodontites aumentam o risco de certas afecções sistêmicas, entre elas, algumas doenças cardíacas, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Dessa forma, a prevenção e o tratamento da doença periodontal devem ser necessários e fundamentais não apenas para a manutenção da saúde do periodonto, mas também para evitar problemas de ordem geral.

Os primeiros sinais da doença periodontal se manifestam na forma de uma gengivite, decorrentes do acú-mulo de placa bacteriana sobre a superfície dos dentes, levando a uma resposta inflamatória nos tecidos gengivais. A persis-tência da gengivite fará com que a placa bacteriana subgengival ganhe uma composição mais complexa, com a colonização secundária por bactérias Gram-negativas anaeróbias, o que contribuirá para aumentar sua patogenicidade. Assim, e também conforme as respostas imunológicas do hospedeiro, podem se iniciar as variadas formas de periodontite, como a prevalente periodontite no adulto ou, mais raras, as periodontites de acometimento precoce, como a periodontite pré-puberal, a periodontite juvenil localizada e a periodontite de acometimento precoce generalizada. Todas se caracterizam pela destruição do periodonto de sustentação, ou seja, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar.

O tratamento ortodôntico é baseado na aplicação de uma força em um dente, que irá produzir o movimento dentário, à medida que ocorre remodelação das estruturas adja-centes. Dessa forma, nota-se que uma estrutura periodontal sadia é extremamente importante para a movimentação dentária, para que se obtenham resultados satisfatórios. Portanto, torna-se importante a integração multidisciplinar entre a ortodontia e a periodontia, com a associação do tratamento ortodôntico e periodontal nos pacientes acometidos pela doença periodontal.

Nota-se que a doença periodontal pode ocorrer tanto em jovens como em adultos, provocando o comprometi-mento do periodonto de sustentação. Nas últimas décadas, houve um aumento significativo de adultos procurando por tratamento ortodôntico. Para todo adulto que procure por tratamento ortodôntico, deve-se realizar uma relação de fatores de risco de doença periodontal e esses fatores, como, por exemplo, estresse, doenças sistêmicas, fumo, osteoporose e predisposição genética, devem ser controlados antes do início do tratamento ortodôntico, para que os problemas não se desenvolvam.

Atingindo frequentemente os elementos dentários anteriores, a doença periodontal pode causar perda de inserção periodontal, perdas ósseas e migração dentária patológica, agravando a estética e a função dentária do paciente; o comprometimento estético é o principal fator de preocupação pelo qual o paciente procura por tratamento ortodôntico6. Essas migrações podem contribuir para o desenvolvimento das maloclusões, pois, com a diminuição do nível de inserção periodontal, o centro de resistência dos dentes afetados desloca-se apicalmente, resultando em um desequilíbrio da posição dentária. Isto leva a uma oclusão traumática que, se associada à placa bacteriana, pode aumentar a destruição periodontal, e, portanto, o tratamento ortodôntico neste caso estaria indicado.

Devem-se estabelecer as metas e os objetivos do tratamento ortodôntico. No tratamento de crianças e adolescentes o objetivo é a finalização, atingindo as seis chaves de oclusão de Andrews, porém, para os pacientes com periodonto reduzido, procura-se levar os dentes para posições isentas de interferências oclusais, possibilitando sua estabilidade e condições periodontais que facilitem a higienização. Os objetivos, assim como as limitações, devem ser explicados ao paciente desde o início do tratamento ortodôntico, pois as expectativas podem superar as possibilidades de resultados.

Existe um consenso entre os autores pesquisados de que se deve iniciar a movimentação ortodôntica somente após o controle da doença periodontal, caso contrário, o processo da doença periodontal será acelerado, mesmo com boas con-dições de higiene bucal, acelerando-se, assim, a perda de inserção. Até mesmo pacientes com condição periodontal satisfatória podem sofrer perdas dentárias se não realizarem a manutenção da higiene bucal durante o tratamento ortodôntico.

Existem controvérsias quanto ao tempo de espera entre o tratamento periodontal e o início da movimentação ortodôntica. Harfin e Zachrisson indicam que se deva aguardar de 2 a 6 meses, avaliando-se a motivação do paciente quanto à higiene bucal e, também, para que ocorra a reparação óssea, contudo, para Re et al. a movimentação ortodôntica deve ser iniciada logo após a realização da terapia periodontal, para que sejam rapidamente estimuladas as células progenitoras do tecido conjuntivo, necessárias para a regeneração tecidual.

Quanto à aparatologia para o tratamento ortodôntico de pacientes com periodonto reduzido, por obter melhor controle do movimento, indica-se o aparelho fixo. Nos molares, é preferível utilizar acessórios colados, no lugar de bandas, pois estas apresentaram maior tendência à retenção de placa bacteriana, provocando reações adversas nos tecidos periodontais. No entanto, essas alterações serão temporárias e reversíveis, desde que sejam respeitados os princípios biológicos durante o movimento ortodôntico. Indica-se, quando possível, o tratamento ortodôntico parcial, restrito à área onde a estética e/ou função necessitam ser melhoradas. Posições mais favoráveis de coroa e raiz são obtidas utilizando o nível ósseo como referência para o posicionamento dos acessórios. O uso de forças leves e mais próximas ao centro de resistência são fatores importantes no controle da movimentação ortodôntica.

A possibilidade de realizar o movimento ortodôntico está relacionada ao tipo de defeito ósseo, devendo ser planejado segundo esse critério, sendo um fator tão impor-tante quanto o diagnóstico, para o sucesso do tratamento. Para o defeito ósseo horizontal, o melhor tratamento é o movimento puro de intrusão ou, ainda, associado ao uso de membranas para a regeneração tecidual guiada. Nos defeitos ósseos verticais, o tratamento adequado é a extrusão, pois o osso alveolar tende a acompanhar o movimento dentário no sentido oclusal, eliminando ou minimizando, dessa forma, o defeito ósseo, entretanto, se existir envolvimento da região de furca, o movimento ortodôntico poderá exacerbar o problema periodontal.

Durante a última década, a possibilidade de restaurar, mesmo dentições severamente comprometidas, foi realmente melhorada. O trabalho da clínica ortodôntica tornou-se mais desafiador com a perspectiva de sucesso no tratamento reabilitador de pacientes com severo grau de comprometimento periodontal, porém, deve-se dar ênfase ao trabalho multidisciplinar, pois está clara a importância da posição dentária na manutenção ou no agravamento da doença periodontal, sobretudo em pacientes com pobre ou má higiene dentária.

Indica-se a realização do tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto reduzido, portadores de maloclusões que agravem a condição periodontal e/ou que sofreram migração dentária patológica. A realização do tratamento está contraindicada na presença da doença periodontal ativa.

Os principais riscos do tratamento ortodôntico no paciente que foi acometido pela doença periodontal estão relacionados ao controle da higienização e à magnitude da força utilizada.

Os benefícios do tratamento ortodôntico são: possibilidade de remodelação óssea alveolar e reconstrução da crista óssea por meio do restabelecimento dos pontos de contato; restabelecimento da função; melhora no aspecto estético, atuando positivamente na autoestima do paciente.

Os principais cuidados antes, durante e após o tratamento ortodôntico, em pacientes com periodonto reduzido são: diagnóstico periodontal minucioso; manutenção constante no controle da higiene bucal que deve ser realizada pelo paciente e supervisionada pelo profissional; evitar o posicionamento dos acessórios próximo à margem gengival; uso de forças leves; evitar movimentos extensos, restringindo-se à área onde a estética e/ou função devam ser melhoradas; individualização da contenção.


Link do artigo na integra via Revista RGO:

Um comentário:

  1. Olá! Passei para desejar um feliz Natal e um ano novo cheio de paz e felicidade.

    Abração

    :-)

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