ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Estudo comparativo de diferentes prescrições de braquetes pré-ajustados em modelos virtuais pelo Método de Elementos Finitos

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Estudo comparativo de diferentes prescrições de braquetes pré-ajustados em modelos virtuais pelo Método de Elementos Finitos







Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Murilo Fernando Neuppmann Feres, Ênio Tonani Mazzieiro, Janes Landre Júnior; das da Faculdade de Odontologia e Engenharia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Compara os efeitos de diferentes prescrições de braquetes pré-ajustados na movimentação dentária dos dentes anterossuperiores, por meio da utilização do Método de Elementos Finitos (MEF).

O sistema de braquetes pré-ajustados – introduzido por Andrews na década de 70, por meio do aparelho Straightwire – constituiu um importante marco para o desenvolvimento tecnológico da Ortodontia. Desde então, diversos autores desenvolveram novas técnicas e prescrições distintas da original. A disponibilidade de diversas prescrições no mercado faz com que o clínico se sinta inseguro na eleição de sua prescrição de trabalho, principalmente porque esse não conta com o alicerce científico necessário para a fundamentação de sua opção. Além disso, mesmo que haja evidências suficientes da presença de fatores que influenciam a expressão da programação dos braquetes pré-ajustados não há trabalhos na literatura que estabeleçam uma comparação direta entre as diversas prescrições, sem que esses fatores sejam devidamente controlados.

Os resultados proporcionados pelo presente estudo devem ser considerados com reserva e cautela. Isso porque esses são oriundos de uma simulação que, embora proporcione igualdade de condições à avaliação comparativa das prescrições, é limitada no que se refere à reprodução fiel da realidade. Assim, os parâmetros aferidos na pesquisa devem ser considerados em caráter exclusivamente relativo na análise comparativa entre as prescrições.

O deslocamento apical aferido para os três elementos dentários não detectou nenhuma diferença significativa. Justifica-se esse resultado pela pequena variação entre os valores de angulações prescritos pelos autores, que variam de +3° a +5° para o incisivo central, e de +8° a +10° para o incisivo lateral. Para o canino, a variação da inclinação da coroa clínica prescrita apresenta uma maior amplitude (de +8° a +13°). Mesmo assim, essa maior variação não foi suficiente para determinar distinção entre as prescrições quanto aos deslocamentos do ponto apical no plano de observação frontal. Mesmo que os valores apresentados por esse parâmetro tenham magnitude relativa, é bastante improvável que o deslocamento normalmente exibido pelo ponto apical durante a ativação do braquete viabilize alguma diferença significativa entre as prescrições. Portanto, nota-se que as diversas angulações idealizadas por cada autor influenciam o posicionamento mesiodistal final dos ápices radiculares de maneira bastante similar.

Em relação à inclinação do longo eixo do incisivo central no plano sagital, foram observados valores semelhantes entre as prescrições. Esse dente, durante a sua movimentação, tende a manter a inclinação de seu longo eixo dentário, mesmo que haja, dentre as prescrições, discrepâncias evidentes no comportamento apresentado por um dos pontos de referência. Mesmo que sejam observados deslocamentos significativamente maiores do ponto incisal para vestibular, como nos casos das prescrições de Ricketts, Alexander e MBT, o longo eixo mantém sua inclinação em decorrência da movimentação relativamente menor do ponto apical para a lingual. Para Andrews e Capelozza, ao contrário, um maior deslocamento radicular é observado em relação a todas as outras prescrições. No entanto, esse deslocamento diferencial é insuficiente
para consolidar uma distinção significativa entre as prescrições, dada a ínfima movimentação descrita pelo seu ponto incisal no sentido oposto.

Assim, são observados dois padrões específicos de expressão de torque para o incisivo central. O primeiro – exemplificado pelas prescrições de Ricketts, Alexander, MBT e Roth – é fruto de um maior deslocamento vestibular da coroa dentária em relação à raiz, assim como pretendem os idealizadores dessas prescrições. Esse fato ocorre em virtude da angulação acentuada dos vetores de torque aplicados a essas prescrições, que faz com que haja uma extrusão dentária relativa. Com a extrusão, o centro de rotação, previamente localizado sobre o centro de massa do incisivo, é deslocado apicalmente. Com isso, a distância do ponto de aplicação de força na coroa em relação ao centro de rotação aumenta em comparação à situação estática inicial. Assim, a magnitude do momento na coroa é maior, o que provoca maior deslocamento vestibular do ponto incisal.

Não foi objetivo desse estudo instituir comparações entre “tratamentos ortodônticos” distintos entre si. O trabalho visa, tão somente, a comparação entre os “efeitos proporcionados pelos braquetes” de prescrições distintas, já que o tratamento ortodôntico, como um todo, compreende uma abordagem complexa e detalhada que leva em conta não só as características intrínsecas da aparelhagem, mas, sobretudo, particularidades de diagnóstico e da má oclusão, do planejamento estipulado, mecânica empregada e habilidade profissional.

Os principais achados do estudo são listados a seguir:

• Os deslocamentos apresentados pelos pontos apicais dos dentes anterossuperiores não apresentaram diferenças significativas entre as prescrições.

• As angulações frontais apresentadas pelos longos eixos dos incisivos centrais e laterais superiores não apresentaram diferenças significativas entre as prescrições.

• A angulação frontal do canino superior de Ricketts apresentou um valor significativamente maior em relação às outras prescrições, o que indicou uma maior inclinação de seu longo eixo para mesial.

• As angulações sagitais apresentadas pelos longos eixos dos incisivos centrais não apresentaram diferenças significativas entre as prescrições.

• A angulação sagital do incisivo lateral superior de Ricketts apresentou um valor significativamente maior em relação às outras prescrições, o que indicou um menor torque vestibular de coroa.

• A angulação sagital do canino superior de Ricketts apresentou um valor significativamente menor em relação às outras prescrições, o que indicou um maior torque vestibular de coroa.

• A avaliação qualitativa da movimentação mesiodistal do incisivo central superior foi caracterizada por um pequeno grau de variação entre as prescrições em relação aos deslocamentos mesiodistais do ponto incisal. Além disso, foi verificado um maior deslocamento distal dos ápices radiculares para as prescrições cujos autores estipularam maiores valores de angulação (Andrews, Capelozza, Roth e Alexander). Isso indicou uma pequena influência dos valores estipulados sobre o deslocamento mesiodistal das coroas dentárias ou, ainda, que a maior manifestação desse movimento se deu em localização radicular.
• A avaliação qualitativa da movimentação vestibulolingual do incisivo central superior foi caracterizada pela definição evidente de dois padrões de movimentação nesse sentido. As prescrições que estipularam os maiores valores de torque para os incisivos centrais determinaram um maior deslocamento vestibular da coroa e um menor deslocamento lingual da raiz dentária. As prescrições que estipularam os menores valores de torque para os incisivos centrais determinaram um maior deslocamento lingual da raiz e um menor deslocamento vestibular da coroa dentária. Em razão dos padrões citados, as inclinações vestibulolinguais dos longos eixos dos incisivos centrais foram mantidas.

Link do artigo na integra via Scielo:

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