ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial







Neste artigo de 2006, publicado pela revista Dental Press, pelos autores Raquel Silva Lotti, Enio Tonani Mazzieiro, Janes Landre Júnior; da PUC/MG - Belo Horizonte; Demonstra de forma aprofundada e embasada no metodo de elementos finitos os efeitos e ação da alça em "T" durante a fase de retração Ortodontica.

Os objetivos de um tratamento ortodôntico incluem a obtenção da estética e da harmonia facial, oclusão funcional satisfatória, função mastigatória eficiente, estabilidade em longo prazo e saúde dos dentes e das estruturas adjacentes. Em relação ao posicionamento dentário, devese priorizar a obtenção de dentes verticalizados, raízes paralelas e mínimos danos às estruturas de suporte e dentárias. Para alcançar essas metas é necessário que se obtenha controle do movimento dentário, dos sistemas de forças aplicados nos dentes, e que se compreenda a forma como esses se deslocam.

Um dos movimentos ortodônticos mais comuns nos casos tratados com extração consiste na retração dos caninos. Esta pode ser dividida em duas categorias: mecânica com atrito ou de deslize, e mecânica sem atrito, realizada por meio da incorporação de alças ao arco. O movimento de retração desse dente pode ocorrer mediante inclinações e verticalizações da coroa e/ou raiz ou por um movimento de translação ou corpo.

O controle preciso do sistema de forças envolvidos durante qualquer mecânica ditará o sucesso do movimento desejado. Portanto, torna-se de suma importância a compreensão do tipo de movimento realizado pelo dente em sua respectiva mecânica, e seus efeitos indesejados, para que se possa lançar mão de dispositivos que compensem as limitações existentes diante do controle tridimensional do movimento dentário.

A mecânica de retração dos caninos sem atrito utiliza molas ou alças segmentadas que unem estes dentes aos molares e pré-molares. O posicionamento destas alças no espaço inter-braquetes e a presença ou não de pré-ativações ou gable ditarão o tipo de movimento dos dentes e o controle radicular destes. Diversos trabalhos na literatura avaliaram este sistema de forças, entretanto o fizeram desconsiderando o relativo movimento entre as unidades anterior e posterior após a ativação do aparelho. Portanto, a avaliação dessas alças nesses trabalhos é realizada dentro de uma análise estática. Uma relativa diferença entre o movimento dos elementos anteriores e posteriores, poderia resultar em alterações desses sistemas de forças, gerando desequilíbrios que poderiam ser avaliados somente dentro de um sistema dinâmico.

A utilização do Método dos Elementos Finitos (MEF) em pesquisas na área da Ortodontia já se mostrou promissora durante a análise do movimento dentário. Diversos trabalhos foram realizados utilizando este método. Por meio deste recurso, torna-se possível analisar o sistema dinâmico em que o movimento dentário ocorre, relacionando e comparando o deslocamento entre um grupo de dentes unidos por uma alça de retração.

Os resultados obtidos neste trabalho não tiveram como objetivo quantificar o movimento dentário e sim descrevê-lo em termos qualitativos. Este modelo matemático apenas avalia o deslocamento inicial do dente, ou seja, a sua tendência de movimento. Biologicamente, após este deslocamento inicial, uma série de fenômenos celulares ocorrem, resultando no movimento real e constatado em diversas situações clínicas. Por estes motivos, as conclusões resultantes desta pesquisa consistem em apenas indicar o que estaria ocorrendo inicialmente. A resposta biológica individual poderá favorecer ou não a ocorrência destes fatos.

A movimentação ortodôntica induzida ao dente é dependente do tempo e, após a remoção da força, ele não retorna completamente à sua posição de origem. Essa característica classifica esse movimento como viscoplástico. A desvantagem do modelo utilizado neste trabalho consiste na impossibilidade de se incluir as características viscoplásticas dos elementos analisados. Entretanto, a formulação de um trabalho com tais características até os dias de hoje, coloca os resultados em questionamento pelo fato de não se conhecer plenamente as propriedades viscoplásticas do ligamento periodontal. Além disso, a presença do ligamento periodontal estaria influenciando apenas a quantidade de deslocamento dentário e não sua qualidade, portanto, por estes motivos esta estrutura não foi modelada. Dessa forma, somente o deslocamento inicial pôde ser observado nas análises com o MEF.

Nos modelos analisados o deslocamento inicial do canino foi superior ao do molar em todas as direções. Pode-se compreender o maior deslocamento deste dente quando se considera a menor área de superfície de contado do canino quando comparado ao molar e a presença do segundo prémolar ajudando a manter a ancoragem na região posterior. Constatou-se que toda a reação inicial incidiu sobre este dente, ou na unidade que mais facilmente se desloca, a não ser que, esta encontre uma resistência ao movimento.

A magnitude de força adequada para movimentar qualquer elemento dentário, dependerá de diversos fatores, como o tipo de movimento a ser obtido, a resposta biológica individual e a área de contato deste dente com o ligamento periodontal, ou seja, anatomia e tamanho dentário e quantidade de perda de suporte ósseo. A literatura preconiza uma variação da magnitude de força para a retração com um movimento de corpo dos caninos entre 100 a 200 gramas. Entretanto, Tanne, Sakuda e Burstone destacaram que para se determinar a quantidade de força ótima para o movimento dentário, seria necessário relacioná-la com a intensidade de tensão gerada no ligamento periodontal, e não com o movimento propriamente dito.

Os resultados deste estudo demonstraram que em todos os modelos o canino obteve um movimento de inclinação descontrolada, sua coroa deslocou-se para a distal e o ápice para mesial no eixo X; rotacionou no sentido disto-lingual resultando em um deslocamento da face distal para a lingual e da face mesial para a vestibular; sofreu intrusão em algumas regiões e extrusão em outras, em menor ou maior grau, e torque para lingual de coroa. O molar em todos os modelos obteve um movimento de inclinação descontrolada, com a coroa deslocando-se em direção a mesial e o ápice para a distal; rotação no sentido mesio-lingual resultando em deslocamento da face mesial para lingual e da face distal para vestibular; intrusão e extrusão de determinadas regiões, e um torque para lingual de coroa. A diferença entre os modelos consistiu na intensidade dos movimentos.

CONCLUSÕES

De acordo com a metodologia empregada e considerando-se as limitações impostas pelo modelo experimental em MEF, observou-se que a variação do posicionamento de uma alça em aço inoxidável e sem dobras de pré-ativação de antiinclinação e anti-rotação para a retração dos caninos com arco segmentado implicará nos seguintes efeitos:

• A aproximação da alça a uma das unidades (anterior ou posterior) tenderá a diminuir seu deslocamento e sua inclinação;
• A magnitude de rotação será maior nos dentes mais afastados da alça e qualquer que seja sua posição, esta irá gerar um deslocamento para a vestibular dos dentes, em decorrência de sua rotação;

• Em todas as posições da alça, ocorrerá um movimento intrusivo e extrusivo em decorrência da inclinação dentária, sendo que o componente de força extrusivo será maior do lado mais próximo a alça e o componente intrusivo maior no lado mais afastado da alça;

• A alça equidistante entre o canino e o molar não elimina por completo o componente extrusivo do movimento dentário;

• A distribuição das tensões em Von Mises ao redor do osso alveolar indicam uma maior magnitude de tensões ao redor do canino do que no molar, com a tensão máxima apresentando-se maior quando a alça se localiza próxima ao molar;

• A não inserção de pré-ativações de anti-inclinação e anti-rotação, impossibilita a obtenção de um movimento por inclinação controlada, translação e radicular;
• A utilização do MEF não permite a avaliação mecânica da alça T de retração com os ajustes apropriados para sua utilização clínica;

• A avaliação da alça T sem dobras de pré-ativação ressalta a importância destas para obter um
movimento de translação.


Link do Artigo na Integra via Scielo:

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