ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Diferenças biomecânicas entre a técnica lingual e a labial

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Diferenças biomecânicas entre a técnica lingual e a labial







Neste artigo de 2008, publicado na revista Dental Press, pelos autores André da Costa Monini, Luiz Gonzaga Gandini Jr, Marcia Regina Elisa Aparecida S. Gandini, José Fernando Barros de Figueiredo; UNESP - Araraquara - São Paulo. Fazem todo um apanhado sobre a biomecânica em aparelhos linguais, comarando-os aos da técnica convecional por vestibular. Um excelente artigo, princpalmente em relaçãoa este tema, escasso em artigos.

O aparelho lingual remonta de meados da década de 70 quando Fujita, no Japão, trabalhou no desenvolvimento de um braquete lingual. Na mesma época, Kurz, nos Estados Unidos, criou seu próprio aparelho lingual fazendo adaptações num aparelho convencional. Desde então, um aparelho próprio para a superfície lingual foi desenvolvido e modificado, por varias companhias, diversas vezes até se chegar nos modelos atuais.

Na década de 80 muitos pacientes em todo o mundo procuraram tratamento desta forma devido a óbvia vantagem do aparelho não ser prontamente visto. Entusiasmados com esta altíssima demanda de pacientes muitos ortodontistas se lançaram a tratar usando esta filosofia e os problemas começaram a surgir, levando a um descrédito da técnica.

Atualmente observa-se um novo interesse pela mesma, desta vez com mais cautela por parte dos profissionais.

A falta de treinamento e de conhecimento científico sobre o comportamento do aparelho lingual prejudicou o desenvolvimento da técnica fazendo com que, ainda hoje, pouca informação consistente seja encontrada na literatura. Para não incorrer nos mesmos erros do passado, o novo interesse pela técnica deve vir acompanhado de prudência e formação técnico-científica por parte do ortodontista. Como parte deste processo, o presente trabalho objetiva verificar, revisando a literatura, as características biomecânicas que diferenciam a técnica lingual da convencional.

Avaliando o padrão de resposta dos dentes às forças ortodônticas aplicadas no braquete lingual comparando ao convencional percebe-se que o padrão de movimento é diferente. Forças intrusivas num braquete lingual tendem a intruir os incisivos com menos inclinação comparando com o mesmo tipo de força por vestibular. O resultado conseguido pelo aparelho lingual pode ser explicado pela maior proximidade do braquete lingual com o centro de resistência do dente. Deste modo, momentos criados por forças aplicadas no braquete lingual comparados com braquete convencional são sempre menores, gerando menos efeito de inclinação.

A maior proximidade do braquete lingual com o centro de resistência do dente também provoca uma transmissão de força mais intensa ao ligamento periodontal em relação à técnica convencional e em associação com a menor distância interbraquete acabam por, praticamente, obrigar o ortodontista a utilizar fios mais finos e resilientes. Do ponto de vista clínico a chance de maior reabsorção radicular e maior área de hialinização ocorre com a técnica lingual, então o ortodontista deve ter cuidado de, em condições similares, fazer menor ativação no aparelho lingual que no convencional.

O simples fato de se colar braquete por lingual já traz imediatas diferenças com relação ao aparelho convencional como a menor distancia interbraquete, a forma do arco e a diferença anatômica da superfície lingual.

Em média, a distância interbraquete do aparelho convencional quando comparada com o lingual é de 1.47:120. Como a rigidez do fio é inversamente proporcional ao cubo do comprimento, a diminuição da distância interbraquete aumenta significantemente as forças aplicadas no dente provocando uma diferença de mais de 3 vezes para fios iguais colocados em arcos por lingual e por vestibular. Isto contribui para a transmissão mais intensa da força ao dente pela técnica lingual.

A necessidade de se utilizar fios mais resilientes dificulta o tratamento ortodôntico por lingual que envolva a utilização de elásticos intermaxilares ou extrações. Da mesma forma que o tratamento convencional, para o fechamento de espaços e para a utilização de elásticos intermaxilares são necessários arcos consolidados e com fios retangulares. Deste modo, problemas de vestibularização de pré-molares em áreas de extração e inclinação dos dentes anteriores com perda do controle do torque são mais freqüentes na técnica lingual.

Incorporação do segundo molar no arco, uso de barra palatina, colagem de braquetes por vestibular nos dentes posteriores (técnica mista) e colocar uma curvatura para lingual no arco de fechamento são soluções apresentadas e praticamente obrigatórias para tratamento com extrações na técnica lingual. Como as forças de retração estão por lingual do centro de resistência, os dentes tendem a mover no sentido inverso do que ocorre por vestibular, ou seja, os molares tendem a girar com a mesial para vestibular.

Retração em massa dos seis dentes anteriores normalmente é a escolhida para os tratamentos com aparelho lingual pois a retração parcial de caninos produziria um espaço antiestético distal aos laterais, normalmente não desejado pelo paciente, com aparelho lingual. Em termos de mecânica, a completa retração dos caninos diminui a distância interbraquete entre o canino e o pré-molar devido ao “inset” no arco distal ao canino, e desta forma, diminui-se a quantidade possível de ativação na mecânica de deslizamento ou por alças.

Outra característica oposta à técnica convencional é a tendência do arco sair do “slot” durante as ativações já que por vestibular o efeito é o inverso. Deste modo, é necessário que o arco esteja firmemente amarrado pelo método do “double over tie”.

A colagem direta dos braquetes na superfície lingual é praticamente inviável pois existem diferenças de espessuras entre os dentes e a superfície lingual é muito mais propensa a apresentar alterações de forma, tamanho e irregularidades superficiais, afetando sensivelmente, o correto posicionamento dos braquetes. Além disso, pequenas alterações neste posicionamento podem provocar grandes efeitos indesejáveis. Braquetes colados na mesma altura por vestibular e lingual podem variar o posicionamento do dente nos três planos do espaço. Alem disso, pequenas variações cérvico-oclusais na face lingual alteram consideravelmente o torque dos braquetes. Assim, conceito “straight-wire” é falho para o tratamento com aparelho lingual. Uma das soluções é a colocação de compensações de resina na base dos braquetes associada à colagem
indireta.

O aparelho lingual pode ser um armamento valioso e contemporâneo para o ortodontista que trata de um segmento da população que é exigente. O ortodontista precisa estar familiarizado com as características do aparelho para diminuir e eliminar problemas, selecionar casos específicos e instruir os pacientes sobre as limitações. Entender e aplicar princípios biomecânicos
no tratamento aumenta a eficácia do aparelho e simplifica o tratamento, pois obtém movimentos dentários mais previsíveis e com menos efeitos colaterais em qualquer técnica ortodôntica. Não incorrer nos erros do passado com a técnica lingual é imperioso para o sucesso com o tratamento lingual. Alem disso, é uma técnica que exige habilidade e que traz novas responsabilidades.


Link do Artigo na Integra via Scielo:

Um comentário:

  1. Simplesmente fantástico.
    Minha tese de monografia é sobre as diferentes técnicas ortodônticas, esse artigo veio a calhar.
    Parabens pelo post

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