ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Aftas após instalação de aparelhos ortodônticos: porque isso ocorre e protocolo de orientações e condutas

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Aftas após instalação de aparelhos ortodônticos: porque isso ocorre e protocolo de orientações e condutas









Neste artigo de 2009, publicado na revista Dental Press pelos autores Alberto Consolaro e Maria Fernanda M-O Consolaro, da FOB-USP Bauru - São Paulo. Abordam de forma ampla uma das grandes dores de cabeça dos nossos pacientes, as aftas e a aparatologia Ortodontica.

A palavra afta literalmente significa “eu inflamo”, ou “eu ascendo” ou, ainda, “eu queimo”. Inicialmente, foi utilizada na Grécia por Hipócrates, o pai da Medicina, para identificar o “sapinho” ou candidose pseudomembranosa em crianças. Mais tarde, seu uso se estendeu para toda e qualquer ulceração nas mucosas.

A instalação de aparelhos ortodônticos pode estar relacionada com o aparecimento de uma ou mais aftas na mucosa bucal, que quase sempre são lesões do tipo aftas menores, mas incomodam muito os pacientes, principalmente quando habitualmente não eram afetados por este problema antes da instalação dos aparelhos ortodônticos.

Alguns pacientes apresentam as aftas no decorrer do tratamento e não necessariamente logo após a sua instalação. Esses casos podem estar relacionados a momentos de estresse físico ou psicológico, alterações de hábitos alimentares ou condições sistêmicas que possam modificar a reatividade do sistema imunológico.

As aftas bucais não ocorrem em mucosas queratinizadas, apenas em regiões com espessura epitelial menor e com superfícies sem camadas córneas ou, no máximo, discretamente paraqueratinizadas. O epitélio da mucosa bucal está separado e, ao mesmo tempo, isolado do tecido conjuntivo da submucosa pela membrana basal, pela qual ocorrem trocas metabólicas e se dá a integração estrutural e funcional.

Em pacientes fumantes, o aumento da espessura epitelial da mucosa bucal e de sua queratinização está presente em todas as regiões e esse tipo de paciente não apresenta aftas bucais em função dessa adaptação funcional induzida pelo tabaco. Quando pacientes fumantes deixam o vício, podem apresentar aftas, às vezes duradouras e múltiplas, e, em função dessa intercorrência, podem voltar a usar o tabaco.

A possibilidade de herdarmos a “capacidade” de ter aftas bucais é bem maior, ou quase absoluta,
se os pais foram portadores de aftas ao longo da vida. Essa capacidade está associada à constituição da membrana das células epiteliais da mucosa bucal que, nesses pacientes, tem semelhança bioquímica com componentes da membrana de algumas bactérias que fazem parte da microbiota bucal.

Os braquetes, os fios e as bandas ortodônticas, uma vez instalados nos dentes, promovem invariavelmente microtraumatismos nos lábios, bochechas e margens linguais laterais, locais com revestimento epitelial paraqueratinizado. Essa multiplicidade e continuidade de microtraumatismos sobre uma mucosa bucal delicada, em um organismo com propensão a ter aftas bucais por fatores hereditários, bacterianos e auto-imunes, explica porque isso ocorre, em alguns pacientes, algumas semanas após a instalação de aparelhos ortodônticos.

Em alguns pacientes ortodônticos, por maiores cuidados que sejam tomados – como a colocação de cera ou outro tipo de oclusão dos braquetes e fios para se evitar o contato e microtraumatismos na mucosa bucal, as aftas bucais aparecem inevitavelmente em número maior do que o paciente estava acostumado. Mas deve-se orientar o paciente sobre como evitar os microtraumatismos durante:

1) a alimentação, para evitar alimentos perfurantes, como abacaxi, cascas de pão, pipoca e outros. Alimentos muito ácidos ou adstringentes podem alargar os microtraumatismos na mucosa bucal; recomendar a ingestão em forma de sucos ou cremes;

2) a higiene bucal, evitando o contato das cerdas e movimentos bruscos com as escovas sobre a mucosa bucal;

3) orientar sobre o uso de protetor es sobre os braquetes, fios e bandas para evitar mordidas ao dormir, durante o apertamento bucal e o bruxismo;

4) afirmar ao paciente que, após algumas semanas de uso do aparelho, sua mucosa bucal se adaptará, aumentando a queratinização, e as aftas diminuirão ou provavelmente desaparecerão.

Um dos cuidados que se deve ter ao receber o paciente com aftas bucais mais freqüentes ou numerosas, após a colocação dos aparelhos ortodônticos, consiste em checar se o paciente tem mucosas coradas, se o mesmo se cansa facilmente ao menor esforço ou tem histórico de anemia carencial. Em caso de dúvida diagnóstica de anemia, recomendase uma avaliação por parte do médico da família ou a critério do paciente. Em geral, quando o quadro de aftas está associado ao de anemia, a correção do problema hematológico melhora considerável, ou totalmente, o quadro bucal.

No mercado ortodôntico, existem braquetes, fios e outros acessórios cujas margens, bordas, ângulos e extremidades são menos cortantes e perfurantes para que sejam indicados na instalação de aparelhos em pacientes com história pessoal e familiar de aftas bucais e/ou de outras situações mais delicadas da mucosa bucal. Existem produtos confeccionados com material
macio e flexível, tipo silicone, para os profissionais e pacientes aplicarem eficientemente como protetores em braquetes, cera, fios e acessórios para que possam “escondê-los” da mucosa bucal
protegendo-a dos microtraumatismos, prevenindo-se aftas bucais.


Link do Artigo na Integra via Scielo:

2 comentários:

  1. Eu pessoalmente uso Gingigel (ácido hialurônico) nas minhas aftas e pequenos cortes, mas não sei se o efeito é real ou somente 'placebo'.

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  2. Eu uso a pedro hume e acho excelente o efeito,sinto logo um alivio.

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