ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Acidentes com o Arco Extra-Bucal (AEB): Como evitar.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Acidentes com o Arco Extra-Bucal (AEB): Como evitar.



Muitos colegas ficaram apreensivos com a notícia que correu pelas redes sociais de que um colega ortodontista de Goiás teria sido condenado a pagar R$ 100.000,00 a uma criança, como indenização por um acidente com um Arco Extra-Bucal (AEB). Segundo a notícia propagada (sem a fonte), o desenbargador lista como erros profissionais:

1. Captar clientes sob o argumento de tratamento gratuito;
2. Fornecer à criança aparelho dentário sem mecanismo de segurança, inclusive, não condizente com a faixa etária e discernimento do paciente.

Momentos depois desta notícia tornar-se popular nas comunidades e grupos de ortodontia na internet, muitos colegas debatiam sobre o que seriam esses mecanismos de segurança. Apesar de não serem novidades, sentimo-nos motivados a esclarecer alguns aspectos sobre o tema. Espero que esse post seja útil para vocês.

Desde 1947, quando Silas Kloehn soldou um arco interno a outro externo criando o Arco Extra-Bucal (AEB) tem-se utilizado em diversas técnicas e com propósitos diferentes. Apesar de estarem sendo cada dia menos utilizados na ortodontia, na ortopedia facial parece ser ainda um importante mecanismo de tratamento da Classe II maxilar.

No entanto, infelizmente, segundo Dr. Russell Samuels¹ tem havido alguns relatos de casos de lesões dos tecidos moles causadas pelo uso de AEB na literatura médica e odontológica nos últimos 25 anos. 

Para determinar a etiologia das lesões dois estudos foram realizadas na Europa. No primeiro estudo, um questionário foi enviado para as sociedades de Ortodontia e escolas de ortodontia em 23 países europeus solicitando qualquer informação sobre as lesões pelo uso de AEB que eram conhecidas como tendo ocorrido. Detalhes de 9 lesões foram devolvidos. No segundo estudo, um questionário foi enviado a 1.117 ortodontistas ativos no Reino Unido e na Irlanda solicitando qualquer informação sobre as lesõespor AEB. De 859 profissionais que utilizam esse dispositivo detalhes de 33 feridos foram relatados com a maioria ocorrendo à noite. Estas lesões variou de lacerações menores à perda de um olho.




As informações obtidas a partir destes dois estudos e relatos de casos revelaram que os ferimentos foram causados ​​pelo efeito catapulta da tração extra-oral com elástico (elásticos ou material elástico) ou o AEB desencaixando dos tubos bucais durante a noite, quando o paciente vai dormir. As causas podem ser ainda subdivididas em quatro categorias mostradas abaixo:

Etiologia das Lesões:

1. Desencaixe acidental do AEB enquando a criança brinca usando um AEB e tração com elástico convencional. O AEB é desencaixado dos tubos e recua para trás ferindo o paciente.

2. Manuseio incorreto por parte da criança durante a instalação ou remoção do AEB e tração com elástico convencional.

3. Desencaixe deliberado (puxando) um AEB e tração com elástico convencional, por outra criança. Outra criança puxa o AEB para frente até o arco intraoral saia da boca e solta, fazendo com que o arco retorne pela força elástica da tração.

A relevância dos microrganismos orais às lesões dos tecidos moles:

Este fator é muitas vezes mais discutido ao avaliar questões de segurança.
A presença de microrganismos orais nas extremidades do arco facial interior tem um enorme significado nessas lesões, porque isso invariavelmente significa que as lesões dos tecidos moles estão infectadas. Isto altera significativamente o prognóstico de qualquer lesão de tecido mole provocada pelas extremidades do arco interno. Os pacientes que sofreram uma lesão no olho durante a noite têm relatado que geralmente há o mínimo de desconforto e que não mobilizam as crianças para procurar atendimento imediatamente. Este atraso no tratamento permite que a infecção se espalhe rapidamente com resultados desastrosos. O olho é um excelente meio de cultura e pode ser difícil de tratar com sucesso mesmo com antibióticos apropriados.
Quando apenas um olho é ferido o outro olho ainda pode estar em risco de endoftalmite contralateral.

Dispositivos de segurança

O risco de lesão a um paciente pode ser pequeno, mas todos os pacientes devem ser protegidos contra um risco conhecido, ainda que pequeno.
Vários dispositivos estão disponíveis atualmente com o objetivo de melhorar a segurança da tração extra oral. Sabemos que para serem eficientes  devem evitar o efeito catapulta e o desencaixe acidental durante a noite.
Em pesquisa nos catálogos das empresas atuantes no mercado brasileiro, apenas a nacional, Morelli disponibiliza um dispositivo de segurança para AEB. Trata-se de uma presilha com mola e que desarma quando puxada com força superior à desejada (leve, média ou pesada).




Não foi encontrado, no mercado nacional, dispositivo de segurança que visa evitar o desencaixe acidental durante o sono. No entanto, um artigo que disponibilizo o link abaixo, propõe  uma forma  de travar o arco interno com um acessório soldado (NITOM). Pode-se confeccionar no próprio consultório ou solicitar ao laboratório que o faça.






Dicas Clínicas
1.   Tração extra-oral só deve ser prescrita para os pacientes que são suscetíveis de cumprir as instruções do ortodontistas. Os pacientes devem ser advertidos para não usá-lo enquanto estiver jogando ou mexer nele enquanto estiver distrído.
2.   A utilização do AEB deve ser claramente demonstrado para o paciente e / ou pais,
consentimento obtido, e registrar no espaço de evolução do caso do prontuário. Para alguns dos mais jovens, menos pacientes hábeis,  seus pais podem também ser cuidadosamente instruído sobre como ajustar o aparelho, para que eles possam supervisionar a instalação e remoção do aparelho em casa.
3.   Instruções escritas devem ser emitidas para todos os pacientes e para os pais. Registra-se o termo de entrega.
4.   Uma advertência deve ser dada de que o não cumprimento das instruções pode resultar em lesões.
5.   O AEB deve ser cuidadosamente verificado em cada revisão e uma registro feito no espaço de evolução do caso do prontuário. O paciente deve ser perguntado se eles tiveram algum problema com o aparelho desde a última consulta.
6.   Se o paciente remove a tração extra-oral durante o sono deixando o AEB em cima da cama, e não consegue se lembrar de reposicioná-lo em mais de duas ocasiões, uma análise cuidadosa deve ser considerada e  a interrupção da tração extra-oral deve ser pensada.
7.   Antes de montar o arco facial no paciente demonstrar e descrever sua função em um modelo de um arco superior com bandas nos molares. Em seguida, encorajar o paciente a colocar e retirar o AEB no modelo. Isso ajuda o paciente a ver como o AEB se encaixa dentro dos tubos.

8.   Se o AEB for usado ​​com dispositivos removíveis, construí-los como uma parte integrante do aparelho. 


1. http://orthocare.co.uk/images/Nitom2/Website%20for%20Nitom%202%20Clinician%20Info.pdf

Link para a Morelli:
http://www.morelli.com.br/br/produtos/sobre-os-produtos/buscar/s/7040/Tracionador-c-Dispositivo-de-Seguranca-10-un

Link para o artigo:
http://jorthod.maneyjournals.org/content/29/2/101.full.pdf

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