ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Ajuste oclusal pós-tratamento ortodôntico em pacientes que não apresentam disfunção temporomandibular

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ajuste oclusal pós-tratamento ortodôntico em pacientes que não apresentam disfunção temporomandibular


Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Inst Ciências Saúde, pelos autores Luís Paulo Ferreira Bellini; Cristina Lúcia Feijó Ortolani; Kurt Faltin Júnior; Sandra Maria Nobre David; Antonio Francisco David; da Escola de Aperfeiçoamento Profissional do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) – Regional de São Bernardo do Campo; da Disciplina de Ortodontia da Universidade Paulista (UNIP); do Curso de Especialização em Radiologia odontológica e Imaginologia da APCD Regional de São Caetano do Sul - São Paulo. Realiza uma revisão da literatura a respeito da necessidade do ajuste oclusal por desgaste seletivo pós-tratamento ortodôntico em pacientes que não apresentavam disfunção temporomandibular, visto que é um procedimento clínico que tem como finalidade obter uma estabilidade mandibular, livre de prematuridades e interferências oclusais.


O equilíbrio oclusal (ajuste oclusal) é a remodelação sistemática da anatomia oclusal dos dentes, a fim de minimizar todas as desarmonias oclusais nas posições oclusais mandibulares reflexas. A função balanceada é um fator desejado no desenvolvimento normal da oclusão, já que mordidas cruzadas funcionais ou maloclusões funcionais Classe II ou Classe III podem, com o tempo, criar complicações esqueléticas e disfunção temporomandibular.

O ajuste oclusal é uma técnica que envolve desgaste dentário, ou seja, perda de estrutura dentária hígida e se não for executada por profissional capacitado, pode ser fator iatrogênico determinante para um futuro problema que o paciente possa apresentar. Por esse motivo a utilização deste procedimento ainda gera opiniões diversas como uma técnica de tratamento preventivo em todos os pacientes pós-ortodônticos, principalmente os que não apresentam disfunção temporomandibular.


O ajuste oclusal, quando bem indicado, poderá levar a essa harmonia, evitando ou minimizando sobrecargas para determinado elemento desse sistema. O ajuste oclusal pode ser utilizado pelos ortodontistas como um complemento do tratamento ortodôntico, visando uma distribuição das forças oclusais o mais natural possível, eliminando interferências e traumas oclusais, que levariam a um desequilíbrio oclusal propiciando as recidivas e possíveis problemas de disfunção temporomandibular. Dentre as indicações, pode-se citar as razões de Moyers:


• estabilizar a oclusão corrigida
• alterar a deglutição anormal favorável e outros reflexos
• promover um meio funcional favorável para as mudanças de desenvolvimento
• fornecer um desgaste artificial para aquelas faces oclusais na maloclusão estabelecida que eram
usadas de maneira anormal
• minimizar os deslizes oclusais provenientes de interferências causa principal de apinhamento
incisal inferior durante a retenção.


Conforme citado por Angle (1899) o princípio básico da oclusão normal é o fundamento que rege a Ortodontia contemporânea. Esse conceito somente considerava a relação normal dos planos inclinados oclusais dos dentes com os arcos em oclusão como pré-requisito para a obtenção da chamada oclusão normal. O autor foi o pioneiro neste campo, pois, por meio de observações em uma coleção de crânios, reuniu as informações que considerou necessárias para formular seu conceito de oclusão normal. Enquanto sua forte influência prevaleceu, outras idéias eram rejeitadas. Somente após a sua morte, novos estudos tiveram seu valor reconhecido.


Roth(1981), e Roth e Rolfs(1981) afirmaram que um objetivo do tratamento ortodôntico seria o de produzir um resultado no qual a relação cêntrica e a máxima intercuspidação habitual coincidissem e em que, em relação cêntrica, todos os dentes opostos contactassem seus antagonistas simultaneamente, com a ausência de qualquer deslize mandibular, e, nas excursões excêntricas, os dentes anteriores, especialmente os caninos, desarticulassem os posteriores após um leve movimento. Além disto, acredita-se que o quanto mais próximo desta relação, mais estável será o resultado do tratamento ortodôntico e menor o risco de trauma oclusal.


Okeson (1992) definiu o ajuste oclusal como um equilíbrio da oclusão por meio de desgastes seletivos e afirmou que o uso deste procedimento é limitado pelo fato de serem permanentes e irreversíveis. Desgastes seletivos estão indicados para eliminar uma desordem temporomandibular e como tratamento complementar, associados com mudanças oclusais ao tratamento ortodôntico, por exemplo. Afirmou também que ajustes oclusais por desgastes são a eliminação do deslize das posições de relação cêntrica para máxima intercuspidação. O deslize da mandíbula é causado pela instabilidade dos contatos entre vertentes de dentes opostos. Quando a ponta de cúspide contata uma superfície plana em relação cêntrica e uma força é aplicada pelos músculos elevadores da mandíbula, não ocorre deslize. Assim, para se conseguirem contatos aceitáveis em relação cêntrica, deve-se alterar ou recontornar todas as vertentes em ponta de cúspide ou superfície plana. O desgaste de interferências durante os movimentos excêntricos tem como objetivo, complementar o aspecto funcional dos contatos dentários, que irão servir para guiar a mandíbula por meio destes movimentos. Em função, os dentes posteriores não são apropriados para receber forças geradas nos movimentos excêntricos e desgastes são realizados para que somente os dentes anteriores façam a desoclusão bilateral dos dentes posteriores.


Roth (2003) afirmou que o tratamento ortodôntico é uma forma de reabilitação bucal completa, obtida clinicamente em esmalte e, como tal, deve seguir as regras de oclusão exigidas para obter-se saúde bucal em longo prazo, em odontologia restauradora e protética, se os ortodontistas pretendem prover um serviço de saúde verdadeiro. O autor afirma também a importância da relação entre a oclusão e a articulação temporomandibular, e, além disso, a oclusão, se alterada, deve ser modificada para estar em harmonia com a posição articular ótima no fechamento e nos movimentos bordejantes. A estabilidade não será obtida na ausência de uma articulação estável, em posição articular também estável, além de contatos interoclusais cêntricos apropriados, com desoclusão dos dentes posteriores quando em movimento.

Conclusões

1. Após avaliar a opinião de diversos pesquisadores, conclui-se que o ajuste oclusal é um recurso muito importante e útil para o cirurgião-dentista e em especial para o ortodontista, na finalização de seus casos. Por meio dele pode-se obter uma estabilidade mandibular adequada, livre de prematuridades e interferências oclusais, visto que as interferências oclusais são fatores que levam à recidiva, apinhamentos e disfunções da articulação temporomandibular e devem ser eliminados. O ajuste oclusal por desgaste seletivo é um recurso terapêutico pela qual consegue-se uma estabilidade da oclusão, porém deve-se sempre levar em consideração que é um procedimento irreversível e para realizá-lo, o profissional deve ter um conhecimento profundo de oclusão e da função do sistema estomatognático. Os conceitos de relação cêntrica, oclusão cêntrica, máxima intercuspidação, movimentos excursivos mandibulares devem estar muito claros para o profissional, assim como a necessidade de se fazer uma avaliação prévia do caso com montagem dos modelos em articulador semi-ajustável e uma análise criteriosa de todas as funções mastigatórias.


2. Concluí-se também que o ideal seria iniciar o tratamento ortodôntico com o diagnóstico feito em relação cêntrica e a finalização também, mesmo que para se chegar a essa relação seja indicado o ajuste oclusal por desgaste seletivo, proporcionando contatos bilaterais e simultâneos em relação cêntrica, eliminação de prematuridades e interferências oclusais, promovendo uma guia anterior harmônica, distribuição axial das forças oclusais, contatos posteriores mais fortes do que os contatos anteriores em máxima intercuspidação. Todas essas referências vão proporcionar uma oclusão equilibrada, diminuindo a ocorrência de recidivas após o tratamento ortodôntico, e prevenindo futuros problemas na articulação temporomandibular.




Link do artigo na intgra via Lidbi Bireme:


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