ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Desmistificando os braquetes autoligáveis

sábado, 20 de dezembro de 2014

Desmistificando os braquetes autoligáveis


Neste artigo de 2011, publicado pelo Dental Press Journal Orthodontics, pelos autores Renata Sathler, Renata Gonçalves Silva, Guilherme Janson, Nuria Cabral Castello Branco, Marcelo Zanda, do programa de doutorado do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP - São Paulo; Busca os mais novos estudos a respeito dos aparelhos autoligáveis atualmente utilizados nos tratamentos ortodônticos, confirmando ou retificando as especulações vigentes.


Introduzidos no início do século 20, os braquetes autoligáveis não são novidade na Ortodontia. O conceito de braquetes sem ligaduras surgiu na década de 30 com o aparelho Russell Lock, que foi uma tentativa de alcançar eficiência clínica associada à redução do tempo gasto com a ligação dos braquetes. Esse aparelho possuía um sistema de porca e parafuso que criava uma quarta parede na cana- leta do braquete. A ativação do aparelho variava de acordo com o maior grau de aperto do sistema.

A idéia de um sistema sem ligadura foi refinada por Wildman com a introdução do aparelho Edgelok, em 1972 (Ormco©, Glendora, Califórnia). O mecanismo para ligar o arco envolvia uma parede de deslize vertical, posicionada por vestibular na porção superior do braquete. Quando esse dispositivo vertical era fechado, a canaleta do braquete era convertida em um tubo de quatro paredes.

Por causa de sua grande aceitação e pela demanda estética dos dias atuais, braquetes autoligáveis linguais e autoligáveis estéticos foram desenhados para atender essas necessidades. Assim, a partir de 2001, foram criados braquetes linguais com o sistema autoligável, como o Evolution. Seguindo o padrão estético, surgiram os braquetes Oyster, que são confeccionados a partir de matrizes resinosas com reforço de fibra de vidro. Mais recentemente, surgiu o In-Ovation C, braquetes autoligáveis translúcidos cerâmicos.

A mais tradicional classificação dos braquetes autoligáveis divide esses acessórios em três tipos, de acordo com o grau de pressão do sistema aplicado ao fio. Eles podem ser ativos, quando o sistema pressiona o fio dentro da canaleta; passivos, quando o sistema permite liberdade do fio na canaleta; ou interativos, quando os braquetes autoligáveis exercem pressão em fios mais espessos, mas permitem liberdade de fios menos calibrosos. Quando o sistema de braquetes ativo é utilizado, o atrito é muito maior do que quando se utiliza o sistema de bra- quetes passivos. Alguns exemplos de braquetes do sistema ativo são: In-Ovation R, Speed e Time.

Níveis muito baixos de atrito com os aparelhos autoligáveis têm sido claramente demons- trados e quantificados em trabalhos de diversos autores. Essa grande concordância na literatura sobre o fato de os autoligáveis produzirem menor atrito durante a movimentação ortodôntica, quando comparados com os braquetes convencionais, está diretamente ligada ao fato de que os braquetes autoligáveis dispensam o uso de ligaduras. Sabe-se que as ligaduras metálicas produzem entre 30% e 50% do atrito promovido por ligaduras elásticas. Essas, quando amarradas em formato de “8”, aumentam o atrito entre 70% e 220%, se comparadas com o formato de “O”. Portanto, o dispositivo que dispensa o uso dessas ligaduras gera, indiscutivelmente, menores níveis de atrito.

Braquetes autoligáveis promovem menor acúmulo de placa quando comparados com os convencionais. E, na maioria dos pacientes, os dentes colados com autoligáveis apresentaram menor número de bactérias na placa. Esses resultados estão vinculados ao método de ligação dos acessórios: no caso dos convencionais, as ligaduras elásticas, que retêm mais placa bacteriana.

Não há evidência que suporte diferenças de reabsorção radicular entre braquetes autoligáveis e convencionais. Em estudo comparativo, Pandis et al. demonstraram ligação entre o tempo de tratamento e a reabsorção radicular, mas não houve diferença entre os grupos tratados com autoligáveis ou com convencionais.


Em geral, os autoligáveis mostram excelente desempenho in vitro com fios menos calibrosos. Entretanto, quando fios mais espessos são utilizados, como 0,016”x0,022” ou 0,019”x0,025”, não há diferença quando comparados com os convencionais.

De certa forma, a grande diferença apresentada por autoligáveis no que diz respeito ao menor tempo de tratamento, menor número de visitas e menor desconforto ao paciente está ligada ao uso de fios de última geração, como os fios de Copper Niti. Afora isso, em estudo in vivo comparativo do SmartClip com o convencional amarrado com elásticos ou amarrio, usando os fios Damon (0,014” e 0,016”x0,025” CuNiTi), não houve diferença na efetividade em reduzir o apinhamento. Em estudo in vivo semelhante, agora com braquetes Damon, os convencionais alcançaram melhores índices de correção que o Damon, e houve mais falha dos braquetes Damon quando comparados aos convencionais.

De acordo com o Dr. Robert Keim, editor do Journal of Clinical Orthodontics, o futuro da Ortodontia terá seu foco em três áreas: imagens tridimensionais (3D), mini-implantes e braquetes autoligáveis. No entanto, Keim atentou que precisamos avaliar as evidências científicas antes de aceitarmos as instruções dos fabricantes sobre o sistema autoligável. Infelizmente, a evidência da maioria dos relatos é pequena.

Embora os aparelhos autoligáveis possam ter grande impacto na Ortodontia, devemos estar cientes quanto às suas reais vantagens, considerando todos os fatores inerentes à sua mecânica de atuação. Apesar da euforia inicial a respeito dos autoligáveis, uma Odontologia baseada em evidências deve prevalecer. Ainda são necessários estudos para avaliar o efeito da expansão promovida por esse tipo de tratamento, para assim evitarmos mais um capítulo sobre recidiva na história da Ortodontia. Deve-se ter em mente que os autoligáveis são apenas uma nova ferramenta, sendo mais uma opção para o clínico e para o paciente ortodôntico.

Link do artigo na integra via Scielo:

http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v16n2/a06v16n2.pdf

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