ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: A trajetória da Ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO Parte 02

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A trajetória da Ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO Parte 02




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista de OrtodontiaSPO; pelo Autor Adilson Fuzo; Mostra que as sementes deixadas pelos pioneiros da Ortodontia começaram a germinar e a especialidade experimenta o seu primeiro grande salto nos anos 1960, com a criação da SPO, do Congresso Paulista de Ortodontia e da revista OrtodontiaSPO. Na área da educação, o curso da UFRJ deslancha, enquanto em São Paulo são criadas as especializações da FOP e da USP.

Praticar a Ortodontia no Brasil era praticamente uma aventura na primeira metade do século 20. Não existiam escolas nacionais, a literatura sobre o assunto era rara e os instrumentos e equipamentos eram importados com dificuldade. Os maiores responsáveis pela mudança desse cenário foram José Édimo Soares Martins e Arthur do Prado Dantas, que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da especialidade no Rio de Janeiro e em São Paulo. Graças a eles, dois importantes núcleos de ortodontistas se consolidaram em cada uma dessas cidades.

Sendo assim, a década de 1950 marcou o início de uma nova etapa na Ortodontia brasileira, com a criação dos primeiros cursos regularmente estabelecidos e a criação das duas entidades que serviriam como eixo para o desenvolvimento da especialidade, a Sociedade Brasileira de Ortodontia (SBO) e a Sociedade Paulista de Ortodontia (SPO).

Antes da criação da SPO, que aconteceria em 1959, a vertente paulista dos profissionais da área e interessados na especialidade se agrupava no Departamento de Ortodontia da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD). Foi esse mesmo grupo que organizou a I Semana Paulista de Ortodontia, com palestrantes internacionais e com grande repercussão para a época.

Desta forma, o trabalho do Departamento de Ortodontia da APCD na década de 1950 se destacava no cenário associativista nacional. Isso não impedia, porém, que os paulistas sonhassem mais alto. "Desde 1954, 1955, já havia alguns colegas idealistas que falavam em fundar uma entidade voltada unicamente para a Ortodontia", revela Paulo Affonso de Freitas, que dirigia o departamento naquela época.

Depois de tanto tempo ensaiando, finalmente aconteceu a primeira reunião que definiria a criação da SPO em 4 de dezembro de 1959, com a presença de 22 jovens ortodontistas e cirurgiões-dentistas em fase de especialização. Esse encontro, assim como as demais reuniões desse primeiro período da entidade, aconteciam num espaço emprestado pela Associação dos Professores de Educação Física (Apef ), na rua Cesário Mota Júnior, no bairro da Consolação. Quem presidiu a entidade na fase inicial foi Oswaldo A. Mesquita Sampáio.

Apesar do entusiasmo dos jovens ortodontistas, a SPO atuou muito pouco no seu primeiro ano de funcionamento. A crescente divergência entre as lideranças tornou a entidade apática. As reuniões eram cada vez mais raras e vazias. A situação se desenrolava de tal maneira que se cogitou até mesmo a dissolução da SPO. A salvação veio numa memorável assembleia em outubro de 1962 em que se decidiu, praticamente, recriar a entidade, destituindo a antiga diretoria e trazendo sangue novo para o comando da associação.

A aproximação da SPO com a região de Piracicaba, no interior paulista, se deu justamente por iniciativa de Müller de Araújo, que atuava como professor na FOP e havia acabado de instituir, em 1962, o curso de especialização em Ortodontia na instituição. Vale lembrar que, naquela época, a FOP ainda não estava ligada à Unicamp, como acontece hoje.

O curso da FOP ocupou uma importante lacuna no ensino da Ortodontia no Estado de São Paulo, já que não havia nenhuma outra opção de especialização na região desde o fechamento do curso de Arthur do Prado Dantas na APCD, que funcionou entre os anos de 1951 e 1955.

Enquanto o ensino de Ortodontia se estruturava em São Paulo, o curso de especialização do Rio de Janeiro já se desenvolvia em solo firme desde 1959 sob o comando de José Édimo Soares Martins na Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil (hoje denominada Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Devemos ressaltar que, antes da UFRJ, um curso de especialização em Ortodontia era oferecido pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) entre os anos de 1956 e 1958, por Tobias Kant Rothier.

A capital paulista só veio a ter um curso universitário de especialização a partir de 1966, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). O passo decisivo para que isso acontecesse, no entanto, foi dado bem antes, quando o jovem promissor Sebastião Interlandi foi o escolhido para receber uma bolsa de estudos na Universidade de Sant Louis, no Missouri (EUA), entre os anos de 1961 e 1963.

No início da década de 1960, Dantas estava no final de sua carreira e procurava por alguém que pudesse sucedê-lo no ensino de Ortodontia na USP e a tal bolsa de estudos ia justamente servir a esse propósito. Reynaldo Baracchini atuava como assistente de Dantas na USP e, por ser o discípulo mais experiente de Dantas, era o herdeiro natural da bolsa. Ele conta, porém, que procurou Dantas certo dia para lhe avisar que pretendia se desligar da USP por motivos pessoais e, consequentemente, desistiria da bolsa de estudos. Para ocupar sua vaga como assistente de Dantas, Baracchini indicou Interlandi que, por mérito, acabou ganhando o curso de aprimoramento nos EUA. "Ele trabalhava como meu assistente no Serviço Dentário Escolar.

Logo percebi que ele era muito inteligente e esforçado. Ele estudou, se preparou, gostava de lecionar. Fico feliz em ter cedido a minha oportunidade a alguém que merecia", comenta Baracchini. "Depois de tantos anos, eu posso dizer que talvez eu não tivesse ido tão longe como ele foi."

Alguns meses depois que voltou para o Brasil, Interlandi criou o curso de especialização da USP, o que foi fundamental para a evolução da Ortodontia em todo o Estado de São Paulo, bem como a contribuição acadêmica de Interlandi na formação de outros professores. O reflexo desse desenvolvimento pôde ser visto na década de 1970, quando outros importantes núcleos de especialização em Ortodontia se formaram.

Diante de tal cenário, a SPO preparava-se para realizar um evento que se tornaria um marco na história brasileira da especialidade, o I Congresso Paulista de Ortodontia, marcado para acontecer entre os dias 28 de janeiro e 3 de fevereiro de 1968 na Cidade Universitária. Entre os participantes do evento que se destacaram, estavam Allan G. Brodie (Universidade de Illinois, EUA), Ernest H. Hixon (Universidade de Oregon, EUA), Quentin M. Rigenberg (Universidade de Saint Louis, EUA) e Hector A. Tarasido (Argentina), além dos palestrantes nacionais, que estavam cada vez mais preparados.

Faltando poucos dias para o Congresso, no momento em que todos corriam atarefados, uma notícia triste surpreendeu toda comunidade nacional de ortodontistas: Arthur do Prado Dantas havia falecido.

O Congresso Paulista de Ortodontia de 1968 foi um sucesso, bem como o lançamento da revista OrtodontiaSPO. Acabava naquele momento mais um capítulo da história da Ortodontia nacional, ao mesmo tempo que se anunciava a chegada de novos personagens, novos desafios e novas revoluções.


Link do artigo na integra via Revista SPO:

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