ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Dentes com lesão periapical crônica diagnosticada e tratada durante o tratamento ortodôntico: quando retomar a aplicação de forças?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dentes com lesão periapical crônica diagnosticada e tratada durante o tratamento ortodôntico: quando retomar a aplicação de forças?


Neste artigo de 2008, publicado pela Revista Dental Press, pelo Dr. Alberto Consolaro Prof. Titular de Patologia da FOB-USP e da Pós-Graduação na FOB e FORP-USP- São Paulo. Mostra a relação entre o tratamento ortodontico e dentes tratados ortodonticamente.

O termo lesão periapical crônica geralmente é utilizado para identificar lesões inflamatórias crônicas nos tecidos que circundam e se relacionam diretamente com o ápice dentário. Às vezes empregase o termo periapicopatia crônica como sinônimo de lesão periapical crônica.

Entre estas lesões periapicais crônicas estão o granuloma periapical, o cisto periodontal apical e o abscesso dentoalveolar crônico. O abscesso dentoalveolar crônico apresenta-se necessariamente com fístula intra ou extrabucal. O granuloma periapical apresenta-se como lesão radiolúcida delimitada, mas não completa e uniformemente circunscrita; raramente atinge dimensões maiores que 1cm de diâmetro. No cisto periodontal apical esta área radiolúcida tende a ser bem delimitada e circunscrita por uma linha radiopaca definida e normalmente contínua. No abscesso dentoalveolar crônico a área radiolúcida é mal definida e difusa em seus limites com o osso vizinho. Do granuloma periapical deriva o cisto periodontal apical a partir da proliferação dos restos epiteliais de Malassez normalmente encontrados no ligamento periodontal.

Quando o granuloma periapical se inicia no ligamento periodontal apical, acaba envolvendo e induzindo os restos epiteliais a proliferarem podendo levá-los à formação de cavidade cística. A maioria dos granulomas periapicais não evoluem para cisto periodontal apical, mas quando ocorre a lesão periapical crônica caracteriza-se por apresentar um crescimento muito lento e contínuo. Nas lesões periapicais crônicas com mais de 1cm de diâmetro a probabilidade de se tratar de um cisto periodontal apical é muito maior do que de um granuloma periapical. O crescimento do cisto periodontal apical é tão lento que raramente pressiona os tecidos periodontais dos dentes vizinhos a ponto de comprimir os vasos e matar os cementoblastos que revestem e protegem as raízes. Uma das características do cisto periodontal apical, a medida que
aumenta seu tamanho, implica no deslocamento ou afastamento das raízes dos dentes vizinhos envolvidos, sem induzir reabsorções radiculares radiograficamente detectáveis. Isto ajuda a diferenciá-lo de outras lesões como, por exemplo, o ameloblastoma.

A superfície radicular apical envolvida pelo granuloma periapical pode estar recoberta por cementoblastos entre os quais se inserem fibras colágenas ou de Sharpey. Em algumas regiões os produtos bacterianos e o embate inflamatório e imunológico geram situações em que os cementoblastos morrem e expõem a superfície mineralizada. Nestes locais, a probabilidade de acontecer fixação de clastos e organização de unidades osteoremodeladoras (BMUs) é muito grande e freqüentemente observada com lacunas bem definidas caracterizando reabsorção cementária e dentinária. Muitas vezes os túbulos dentinários envolvidos estão preenchidos por bactérias e seus produtos. Pode-se afirmar que quase sempre os terços apicais envolvidos pelos granulomas periapicais apresentam um certo grau de reabsorção radicular, observável ou não nos exames radiográficos periapicais.

O princípio terapêutico de qualquer doença inflamatória geralmente caracteriza-se pela identificação e eliminação da causa. No caso dos granulomas periapicais com o tratamento endodôntico adequado caracterizado pelo preenchimento do canal radicular e, se possível, dos canais acessórios, haverá a eliminação do agente agressor representado pela microbiota do canal radicular infectado. As bactérias e seus produtos que porventura permaneçam em pequena quantidade, frente ao potencial agressivo inicial, tendem a ser neutralizados pelos produtos empregados na terapêutica endodôntica, fundamentada na ação antimicrobina de anti-sépticos, antibióticos e especialmente do hidróxido de cálcio.

Em 60 a 70% dos casos de tratamento endodôntico de dentes com necrose pulpar e lesão periapical crônica o sucesso caracteriza-se pela regressão da lesão ao longo de alguns meses do ponto de vista radiográfico. Porém, o processo de ossificação e reorganização tecidual periodontal
apical inicia-se assim que terminado o tratamento endodôntico adequado. O exsudato inflamatório em alguns dias será reabsorvido pelas células inflamatórias juntamente com restos teciduais, celulares e microbianos. As células inflamatórias darão lugar em alguns dias e semanas às células jovens e proliferantes advindas dos tecidos vizinhos como o ligamento periodontal e o endósteo. Espera-se que ao longo de 3 a 4 semanas o tecido esteja em franco processo de reorganização estrutural e o componente inflamatório reduzido a pequenos focos com a finalidade de limpeza destas regiões.

O tratamento endodôntico adequado de dentes com necrose pulpar e lesão periapical crônica apresenta uma taxa de insucesso que varia entre 30 a 40% nas casuísticas apresentadas na literatura. A ocorrência desta taxa de insucesso infelizmente ocorre em quase todas as casuísticas pois está associada a fatores locais como, por exemplo, a grande variabilidade da morfologia apical. A movimentação ortodôntica depois de 30 a 40 dias de terminada a endodontia adequada não constitui um fator que aumenta o risco de insucesso dos casos de dentes com necrose pulpar e lesão periapical crônica, pois além de induzir poucas alterações vasculares no local em reparação, não modifica os fatores microbianos envolvidos. Se a regressão da lesão periapical crônica não mostrar sinais de regressão aos 3, 6 e 12 meses depois do tratamento endodôntico isto não deve ser atribuído à movimentação ortodôntica realizada, mas sim aos vários fatores locais envolvidos na taxa de insucesso de tratamento de dentes com necrose pulpar e lesões periapicais crônicas. Nestes casos de persistência da lesão, o endodontista
optará por retratamento ou abordagem cirúrgica parendodôntica dependendo das características específicas de cada caso.

Link do artigo na integra via Dental Press:

Um comentário:

  1. Com lesão não se brinca! Achados radiográficos antes, durante e pós-tratamento são mais comuns do que se imagina! Só aquela passada de olho na panorâmica as vezes não basta!

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