ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Desgaste interproximal e suas implicações clínicas

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Desgaste interproximal e suas implicações clínicas













Neste artigo de 2007, publicado pela revista Dental Press, pelos autores Osmar Aparecido Cuoghi, Rodrigo Castellazzi Sella, Fernanda Azambuja Macedo, Marcos Rogério de Mendonça; da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP - São Paulo. Mostra mais uma abordagem dos desgastes interproximais, um recurso conservador. Que deve ser feito com muita prudência.


O apinhamento dentário está presente na maioria das más oclusões, requerendo do profissional um conhecimento amplo sobre o diagnóstico e plano de tratamento. De acordo com sua severidade, existem modos diferentes de tratamento, como a distalização de molares, as extrações, as expansões dos arcos dentários e os desgastes interproximais. Os desgastes dentários referem-se à diminuição das dimensões dentárias mesiodistais com objetivo de corrigir apinhamentos suaves ou moderados, bem como eliminar a desproporção natural de tamanho dentário entre os arcos, e requerem o conhecimento de vários aspectos clínicos para serem realizados.


A nomenclatura pertinente envolve os termos recontorno ou reaproximação dentária, que sugerem exatamente o tratamento ortodôntico sem extrações, uma vez que a característica primordial da má oclusão é a discrepância de modelos negativa, sendo o tamanho dentário o maior contribuinte para o problema. A principal vantagem deste procedimento é a redução do tempo de tratamento, pois a quantidade de esmalte desgastado normalmente corresponde ao espaço requerido.


A Ortodontia contemporânea vem usufruindo intensivamente deste procedimento, o que o torna cada vez mais freqüente no cotidiano clínico. Entretanto, muitas são as dúvidas quanto ao nível de apinhamento que pode ser corrigido, quantidade de desgaste do esmalte e sua qualidade após a terapia, envolvimento pulpar e periodontal, materiais utilizados e estabilidade em longo prazo, de modo que o desgaste interproximal constitui um assunto de suma importância e não completamente conhecido.


Porém, é importante deixar bem claro que os desgastes interproximais são utilizados para a redução da dimensão dentária, pois este é o fator a ser corrigido; quando a discrepância de modelos tem como fator principal o aumento do espaço presente, outros procedimentos têm melhor indicação. O clínico deve estar atento para não oferecer o tratamento equivocado ou até mesmo associar dois métodos de tratamento sem o correto entendimento do que deve ser corrigido.


O desgaste interproximal tem sido documentado ao longo dos anos e teve destaque a partir da década de 80, quando Sheridan, Sheridan e Ledoux escreveram seus artigos clássicos. Entretanto, este procedimento foi pouco utilizado antes do advento da colagem direta, pois o tratamento era realizado com a bandagem de todos os dentes, impossibilitando a realização desta técnica para obtenção de espaço. Atualmente, os desgastes tornaram-se comuns, por meio do estabelecimento de uma alteração da anatomia dos contatos proximais, tanto para eliminar problemas de apinhamento e discrepância de tamanho dentário, quanto para aumentar a estabilidade dos arcos dentários. Este tipo de intervenção parece originar-se de dados colhidos de aborígines préhistóricos que, freqüentemente, exibiam desgastes dentários oclusais e proximais, com arcos estáveis e sem a presença de apinhamento.


O procedimento de desgaste interproximal de dentes anteriores para correção de apinhamento está se tornando cada vez mais conhecido. Entretanto, é extremamente importante entender que esta abordagem não está indicada para a correção de casos de apinhamento severo, mas um suplemento para eliminação de apinhamentos suaves e moderados envolvendo muitos casos considerados limítrofes para o tratamento ortodôntico, proporcionando um resultado estético mais favorável.


Em um artigo clássico de 1980 relacionando os fatores envolvidos com a oclusão do segmento anterior, Tuverson inferiu que a redução de esmalte de 0,3mm para os incisivos inferiores e 0,4mm para os caninos inferiores pode ser realizada sem prejudicar a vitalidade dentária. Radiograficamente, existe esmalte suficiente para permitir o desgaste dentário sem comprometimento da face proximal. Enfatizou que a opção pelo desgaste dentário seria a alternativa mais indicada para casos limítrofes de extração.


Com relação aos caninos, o ideal é que seja avaliada a relação de intercuspidação posterior. Se a oclusão apresentar características de normalidade, os caninos não devem ser desgastados, para que ocorra a manutenção da relação adequada. Por outro lado, nos casos de Classe II e Classe III, os caninos inferiores podem ser desgastados, respectivamente, nas faces mesiais e distais. Para os caninos superiores, as regiões mais indicadas para os desgastes são as distais nos casos de Classe II e mesiais nos casos de Classe III.


O desgaste do esmalte proporciona alguns efeitos indesejáveis. Ao realizar este procedimento, Radlanski explicou que são criados sulcos, destacando a impossibilidade de eliminação destes, mesmo quando é realizado o polimento.


Considerando as inúmeras tentativas de eliminação dos sulcos provocados pelos desgastes, Zachrisson destacou que superfícies lisas podem ser produzidas com discos para polimento. Conforme o disco de lixa vem se desgastando durante o procedimento, age como um instrumento de polimento, descartando a necessidade de polimento adicional.


Existem diferentes opiniões quanto aos resultados estabelecimento de efeitos deletérios do esgaste do esmalte. Tuverson defende a idéia de que esta técnica deve ser seletivamente utilizada em pacientes com boa higiene bucal e baixa susceptibilidade a cáries. Desta forma, as indicações para utilização desta técnica podem estar comprometidas, pois não existem garantias de que a higiene bucal satisfatória será mantida ao longo da vida.


Além disso, Rogers e Wagner mencionaram que a aplicação tópica de flúor é de valor clínico real para proteger a superfície do esmalte reduzido pelo desgaste. Enfatizaram que o desgaste deve ser realizado com irrigação abundante e, quando limitado ao esmalte, este não provoca alterações
na polpa ou na dentina.


Vários métodos são utilizados para realização do desgaste. Os mais citados são a lixa de aço para amálgama, a ponta diamantada montada em alta rotação, o disco de lixa unifacetado e as brocas de tungstênio multilaminadas com 8 lâminas retas.


O procedimento de desgastes interproximais pode ser realizado para correção da falta de proporcionalidade dentária, ou seja, casos que apresentam discrepância de Bolton. Além disso, constitui uma alternativa para os casos com apinhamentos moderados de até 2mm para dentes anteriores e 4mm para dentes posteriores, sendo 2mm para cada hemiarco.


Independente da técnica utilizada para realização do procedimento, seja com tiras de lixa de aço, discos, pontas diamantadas ou brocas carbide, o fator diferencial para o sucesso do tratamento está na indicação correta e na execução de polimento com discos de polimento finos e ultrafinos após o desgaste, para diminuir as ranhuras provocadas pelo procedimento. Além disso, saliente-se que a baixa susceptibilidade a cáries, assim como a higienização interproximal adequada, constituem fatores primordiais para a indicação dos desgastes.


A saúde dentária e periodontal podem ser preservadas por meio deste procedimento, desde que os limites biológicos sejam respeitados, o que implica em não ultrapassar o limite de aproximadamente 0,25mm de desgaste em cada face de esmalte proximal dos dentes anteriores e 0,5mm para os dentes posteriores. Este procedimento mantém uma espessura de esmalte aceitável biologicamente, resguarda a proporção mínima entre coroa e raiz no sentido mesiodistal e evita alterações periodontais em virtude da proximidade radicular inadequada.




Link do Artigo na Integra via Scielo:


6 comentários:

  1. Muito bom o resumo referente a desgastes interproximais.
    Confesso em dizer que é uma das minhas paixoes na ortodontia, e que tenho estudado muito o assunto a varios anos.
    Parabéns !!!
    Gostaria de sugerir que um complemento de informaçoes viria bem a calhar para os nossos colegas seguidores e interessados no assunto.
    Em virtude da minha optica e conhecimento dos artigos publicados sobre o assunto e na obserbancia das iatrogenias clinicas que chegam na minha clinica, infelizmente muitas vezes provocadas por falta de conhecimento e imperícia, me fez
    recentemente elaborar um protocolo de desgaste interproximais, que regula, acompanha e determina os desgaste desde quando e onde dever ser executados até a sua conclusão e aferiçao apos a sua execuçao.
    Coloco-me a disposiçao para mais detalhes se houver interesse deste blog ou de algum colega em particular.
    ABraços e sucessos aos idealizadores do blog que na minha opinião é de execelente qualidade de artigos, imagens e assuntos sobre a nossa ortodontia brasileira.
    Temos que divulgar isto a todos.

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    1. Dr. Coral! Vou realizar meu TCC sobre desgaste interproximal, gostaria de entrar em contato com o doutor para troca de informações, seria muito importante para mim e ficaria muito grato.E-mail jackson-vieira@hotmail.com Muito obrigado

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  2. Olá "Coral", tenho curiosidade em conheçer seu protocolo, Mande seu material para o nosso e-mail: ortodontiacontemporanea@gmail.com

    Atenciosamente,
    Marlos Loiola

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  3. Dr. Marcos Coral,

    É uma alegria ter pesquisadores do seu nível no nosso Blog. Estamos esperando seu protocolo para dividir-mos com os colegas.
    Obrigado,

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  4. olá. Tenho muito interesse em me aprofundar nesse assunto e gostaria que me enviasse seu protocolo, Dr. Coral. Agradeço desde já. relgomes@ortodontista.com.br

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  5. Oi Dr. Coral! Vou realizar meu TCC sobre desgaste interproximal, gostaria de entrar em contato com o doutor para troca de informações, seria muito importante para mim e ficaria muito grato.E-mail jackson-vieira@hotmail.com Muito obrigado Jackson

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