Neste artigo de 2007, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Osmar Aparecido Cuoghi, Rodrigo Castellazzi Sella, Fernanda Azambuja Macedo, Marcos Rogério de Mendonça; do Departamento de Odontologia Infantil e Social, Disciplina de Ortodontia Preventiva, da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba – UNESP. Apresenta uma discussão, embasada na literatura pertinente, dos principais fatores envolvidos
com este procedimento clínico.
O apinhamento dentário está presente na
maioria das más oclusões, requerendo do profissional um conhecimento amplo sobre o diagnóstico e plano de tratamento. De acordo com sua severidade, existem modos diferentes de tratamento,
como a distalização de molares, as extrações, as
expansões dos arcos dentários e os desgastes interproximais. Os desgastes dentários referem-se à
diminuição das dimensões dentárias mesiodistais
com objetivo de corrigir apinhamentos suaves ou
moderados, bem como eliminar a desproporção
natural de tamanho dentário entre os arcos, e requerem o conhecimento de vários aspectos clínicos para serem realizados.
A Ortodontia contemporânea vem usufruindo
intensivamente deste procedimento, o que o torna
cada vez mais freqüente no cotidiano clínico.
Entretanto, muitas são as dúvidas quanto ao nível
de apinhamento que pode ser corrigido, quantidade de desgaste do esmalte e sua qualidade após a
terapia, envolvimento pulpar e periodontal, materiais utilizados e estabilidade em longo prazo, de
modo que o desgaste interproximal constitui um assunto de suma importância e não completamente conhecido.
Porém, é importante deixar bem claro que os
desgastes interproximais são utilizados para a redução da dimensão dentária, pois este é o fator a
ser corrigido; quando a discrepância de modelos
tem como fator principal o aumento do espaço
presente, outros procedimentos têm melhor indicação. O clínico deve estar atento para não oferecer o tratamento equivocado ou até mesmo associar dois métodos de tratamento sem o correto
entendimento do que deve ser corrigido.
Tradicionalmente, o desgaste de esmalte nas
regiões interproximais foi idealizado para o tratamento de casos com discrepâncias entre as larguras dos dentes superiores e inferiores. Esta filosofia
foi brilhantemente descrita por Bolton em seu
artigo clássico de 1958, que relata a desarmonia
de tamanho dentário e sua relação para a análise e
tratamento das más oclusões. Estudos subseqüentes, como os de Crosby, Alexander e Freeman et
al., demonstraram que aproximadamente 20%
dos pacientes apresentam discrepância de tamanho dentário, decorrente de um excesso de massa
dentária no arco inferior.
Em um artigo clássico de 1980 relacionando
os fatores envolvidos com a oclusão do segmento anterior, Tuverson inferiu que a redução de
esmalte de 0,3mm para os incisivos inferiores e
0,4mm para os caninos inferiores pode ser realizada sem prejudicar a vitalidade dentária. Radiograficamente, existe esmalte suficiente para permitir
o desgaste dentário sem comprometimento da
face proximal. Enfatizou que a opção pelo desgaste dentário seria a alternativa mais indicada para
casos limítrofes de extração.
Sheridan afirmou que os desgastes interproximais podem ser indicados para tratar indivíduos que apresentem discrepâncias de modelos de
4 a 8mm, evidenciando-se uma alternativa para o
tratamento de casos com discrepância negativa de
modelos.
Considerando que a diminuição de 50% do esmalte dentário resguarda uma espessura de esmalte aceitável biologicamente, este procedimento
constitui um método de tratamento que pode ser
aplicado nos casos de apinhamentos suaves a moderados, ou ainda, para correção de desproporções
dentárias dos casos que apresentam discrepância
de Bolton.
Considerando as inúmeras tentativas de eliminação dos sulcos provocados pelos desgastes,
Zachrisson destacou que superfícies lisas podem
ser produzidas com discos para polimento. Conforme o disco de lixa vem se desgastando durante
o procedimento, age como um instrumento de polimento, descartando a necessidade de polimento adicional.
Vários métodos são utilizados para realização
do desgaste. Os mais citados são a lixa de aço
para amálgama, a ponta diamantada montada em
alta rotação, o disco de lixa unifacetado e as brocas de tungstênio multilaminadas com 8 lâminas
retas.
Sheridan descreveu a técnica de desgaste
com alta rotação, objetivando a remoção de esmalte, principalmente, na região distal de caninos,
em decorrência da maior quantidade de esmalte.
CONCLUSÕES
O procedimento de desgastes interproximais
pode ser realizado para correção da falta de proporcionalidade dentária, ou seja, casos que apresentam discrepância de Bolton. Além disso, constitui
uma alternativa para os casos com apinhamentos
moderados de até 2mm para dentes anteriores e
4mm para dentes posteriores, sendo 2mm para
cada hemiarco.
A saúde dentária e periodontal podem ser preservadas por meio deste procedimento, desde que
os limites biológicos sejam respeitados, o que implica em não ultrapassar o limite de aproximadamente 0,25mm de desgaste em cada face de esmalte
proximal dos dentes anteriores e 0,5mm para os
dentes posteriores. Este procedimento mantém
uma espessura de esmalte aceitável biologicamente,
resguarda a proporção mínima entre coroa e raiz no
sentido mesiodistal e evita alterações periodontais
em virtude da proximidade radicular inadequada.
Link do artigo na integra via Scielo:
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