ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Influência dos imunossupressores no metabolismo ósseo e movimento dentário: revisão de literatura

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Influência dos imunossupressores no metabolismo ósseo e movimento dentário: revisão de literatura




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Odonto Ciência da PUC Rio Grande do Sul, pelos autores Rogério Lacerda dos Santos; Renato Torres Gonçalves; Marco Aurélio Martins; Margareth Maria Gomes de Souza; do Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Discute a influência dos imunossupressores no metabolismo ósseo e movimento dentário em Ortodontia. Tema interessante.

O movimento ortodôntico é dependente da capacidade das células do periodonto de reagir ao estímulo mecânico. A ativação e o recrutamento osteoclástico devem ser induzidos na zona adjacente ao lado de pressão do tecido periodontal para que ocorra o movimento dentário. A remodelação óssea e o deslocamento dentário ocorrem por meio de processo inflamatório envolvendo osteoclastos, osteoblastos, neuropeptídeos, citocinas, fatores nucleares e alterações na inervação e vascularização local.

Recentemente, um fator intermediário, receptor ativador do fator nuclear (NF-kappaB) ligante (RANKL), presente na superfície dos osteoblastos foi encontrado, sendo o mes-mo responsável pela indução de osteoclastogênese, juntamente com seus receptores celulares, receptor ativador de NF-kappaB (RANK) e receptor osteoprotegerina (OPG), constituindo um novo sistema de citocinas. RANKL, produzido por células de linhagem osteoblástica e por linfócitos T ativados, é o fator essencial para a formação, fusão, ativação e sobrevivência dos osteoclastos, resultando na reabsorção óssea. RANKL ativa seus receptores específicos, RANK localizados em osteoclastos e células dendríticas, e sua sinalização em cascata envolve a estimulação dos percursos c-jun, NF-kappaB, e serina/treonina quinase PKB/Akt.

Os efeitos da RANKL são contrabalanceados através da OPG que atua como um receptor solúvel neutralizador.RANKL e OPG são regulados por vários hormônios (glicocorticóides, vitamina D, estrogênio), citocinas (fator necrose tumoral alfa, interleucinas 1, 4, 6, 11 e 17), e vários fatores de transcrição mesenquimal (tais como cbfa-1). OPG também é produzida por células do ligamento periodontal humano, fibroblastos gengivais, células pulpares e células epiteliais e evidenciou ser um fator fundamental para inibição de diferenciação e ativação de osteoclastos na remodelação óssea alveolar durante a movimentação ortodôntica. Recentes estudos clínicos confirmaram que ambos RANKL e OPG podem ser detectados em fluído crevicular gengival humano (GCF) e observaram que se RANKL aumenta OPG estará diminuído durante o movimento ortodôntico.

Anormalidades do sistema RANKL/OPG implicam na patogênese da osteoporose pós-menopausa, artrite reumatóide, doença de Paget, doença periodontal, tumores ósseos benignos e malignos, metástases ósseas e hipercalcemia, enquanto a administração do OPG demonstrou prevenir ou atenuar esses transtornos em modelos animais. Excesso ou defeito na produção de RANKL, RANK e OPG exibem os extremos de fenótipos esqueléticos – osteoporose e osteopetrose. A descoberta e caracterização de RANKL, RANK e OPG somados a estudos posteriores alteraram os conceitos de metabolismo ósseo e cálcio, e levaram a melhor compreensão da patogênese das doenças ósseas metabólicas em busca de medicamentos que poderão constituir a base de estratégias terapêuticas inovadoras.

Existem medicamentos capazes de afetar o metabolismo ósseo e a taxa de movimento dentário. Alguns desses medicamentos são os imunossupressores que afetam a síntese de citocinas e são inibidores da calcineurina-fosfatase (ciclosporina e tacrolimus) sendo responsáveis, em parte, pela maior sobrevida dos pacientes transplantados e pela redução na dose de glicocorticóides. Porém, à semelhança dos glicocorticóides, os inibidores da calcineurina-fosfatase também provocam diminuição da massa óssea, sendo que a maior perda óssea ocorre nos primeiros 6 meses após o transplante, quando a terapêutica imunossupressora é mais agressiva. Apesar da tendência atual recomendar a menor dose total de imunossupressores, muitos pacientes transplantados ainda desenvolvem fraturas como complicação.

As drogas imunossupressoras podem ser agrupadas em biológicas e químicas conforme seu local de ação e seus efeitos nos linfócitos. Os imunossupressores mais usados atualmente são os que afetam a síntese de citocinas (glicocorticóides, ciclosporina-CsA, tacrolimus-FK506, Sirolimus-RAPA) e os que afetam a síntese de nucleotídeos (azatioprina, micofenolato mofetil). Ao longo dos últimos anos, com o crescente uso de imunossupressores, têm-se questionado a ação destes medicamentos sobre o metabolismo ósseo.

Pode-se concluir que os imunossupressores que afetam a síntese de citocinas (glicocorticóides, ciclosporina-CsA, tacrolimus-FK506 e Sirolimus-RAPA) interferem no metabolismo ósseo e podem causar maior movimentação dentária. É possível tratar ortodonticamente pacientes subme-tidos à terapia imunossupressora de manutenção com efeitoscolaterais mínimos, desde que monitorados por acompanha-mento médico a partir de exames de densitometria óssea.


Link do artigo na integra via revistas eletronicas PUCRS:

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