ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Principais alterações sistêmicas relacionadas com a movimentação dentária induzida

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Principais alterações sistêmicas relacionadas com a movimentação dentária induzida



Neste artigo de 2007, publicado pela Revista Gaúcha de Odontologia, pelos autores Carla Maria Melleiro GIMENEZ, Leila MURAD, Bruna Ramos MEIRELES, Flávia de Moraes ARANTES, José Luiz Cintra JUNQUEIRA, Eduardo César Almada SANTOS; da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Odontologia, Araçatuba - São Paulo; Discorre sobre a interferência das condições metabólicas e fatores sistêmicos no processo de movimentação dentária induzida pelo tratamento ortodôntico.

O maior acesso da população ao tratamento ortodôntico e a necessidade de correções dento-esqueléticas em pacientes com alterações sistêmicas exigem novos conhecimentos acerca dos efeitos destas nos tecidos dentário e ósseos envolvidos na movimentação dentária induzida, a qual tem sido objeto de vários estudos com o intuito de conhecer seus mecanismos e as interferências que podem alterá-los.

No movimento dentário ortodôntico aplicam-se pressão e/ou tensão em condições apropriadas e controladas, promovendo alterações dinâmicas quanto ao aumento da espessura das fibras gengivais livres. A compreensão inicial é compensada pela reabsorção óssea alveolar interna, enquanto que o estiramento do ligamento é balanceado pela deposição óssea. O ligamento periodontal transmite a pressão ou tensão e, por tal motivo, é essencial para a movimentação dentária.

É difícil a obtenção de material para pesquisa em seres humanos. Portanto, muitos trabalhos sobre este assunto são realizados em animais e, uma vez observados que estes possuem uma reação tecidual básica praticamente idêntica aos seres humanos, não se faz necessário separar os estudos. Por tratar-se de um processo bastante complexo, que envolve tecidos distintos como osso, fibras colágenas do ligamento periodontal e vasos sanguíneos, a resposta do dente à força ortodôntica será influenciada pelos seguintes fatores: a) magnitude da força aplicada (forças inócuas, leves ou pesadas); b) ritmo de aplicação da força (contínua ou intermitente); c) condições anatômicas (volume radicular, implantação óssea dos elementos dentários, idade do paciente, compleição óssea); d) condições metabólicas (fatores hormonais, fatores nutricionais, fatores vitamínicos).

O tecido ósseo está continuamente promovendo o processo de remodelação. Em conseqüência a glândulas paratireóides produzem o paratormônio (PTH) estimulando a produção de vitamina D3. Esta vitamina, assim gerada estimula tanto a diferenciação do pró-monócitos em monócitos e, estes em osteoclastos, como a síntese e secreção de concentração de prostaglandina E2 (PGE2) pelos monócitos, macrófagos, linfócitos e osteoblastos, elevando a concentração local de prostanóide. O aumento da concentração da prostaglandina E2 (PGE2) ativa os osteoblastos para a produção de um fator solúvel capaz de iniciar o processo de reabsorção óssea pelos osteoclastos.

Vários fatores locais e sistêmicos controlam a formação e a reabsorção óssea. Dentre os sistêmicos, os quais são temas de nossa abordagem, destacam-se hormônios como o do crescimento, o tiroidismo, os glicocorticóides, o paratormônio, a calcitonina e a vitamina D3.

Fatores sistêmicos

É provável que a principal razão para a remodelação seja permitir que os ossos respondam e se adaptem às forças mecânicas quando estas ocorrem como um resultado do exercício físico e durante a aplicação de carga mecânica, como na movimentação dentária ortodôntica. As anormalidades na remodelação óssea ocorrem em algumas das doenças mais comuns que afetam os seres humanos tal como osteoporose, periodontite, artrite, insuficiência renal crônica e osteólise induzida por tumor. Embora estas disfunções sejam comuns, na maioria dos casos, pouco se sabe sobre os mecanismos responsáveis pela disfunção da remodelação óssea que as caracteriza.

Embora não tenha sido encontrada nenhuma informação na literatura pesquisada em relação ao possível efeito da diabete na movimentação ortodôntica induzida, é importante salientar que um dos fatores locais que controlam a reabsorção e aposição óssea é o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF), e, portanto, sugere-se que possivelmente esta condição sistêmica exerça alguma influência, muito embora sejam necessárias pesquisas específicas que investiguem esta hipótese.

Fatores hormonais

O aumento nos níveis de paratormônio, produzido pela paratireóide (hiperparatiroidismo), induz a um aumento do número de osteoclastos com conseqüente estímulo à reabsorção óssea. Já a calcitonina, produzida pela tireóide, inibe a atividade osteoclástica com diminuição da reabsorção óssea.

Da mesma forma, os hormônios sexuais (testosterona ou estrógeno), quando em excesso, têm efeito sobre as alterações no tecido ósseo, sendo em geral estimuladores da formação óssea, e este fator poderia relacionar-se à movimentação dentária induzida. O hormônio estrogênio influencia a remodelação óssea, e este fator poderia relacionar-se à movimentação dentária induzida. O hormônio estrogênio influencia a remodelação óssea, e apesar de seu mecanismo não ser totalmente compreendido, sabe-se que pode agir diretamente sobre os osteoblastos ou indiretamente de forma a regular outros hormônios também importantes neste fenômeno.

Fatores nutricionais

O tratamento ortodôntico envolve um processo contínuo de remodelação óssea relacionado à movimentação dentária nos ossos maxilares, exigindo do organismo um equilíbrio metabólico. Essa homeostase representa um verdadeiro desafio ao organismo, na medida em que o indivíduo em tratamento atravessa períodos específicos de necessidades nutricionais, tais como aqueles durante o crescimento e principalmente na puberdade. A. falta de proteínas na dieta leva à deficiência de aminoácidos, responsáveis na síntese de colágeno presente no tecido ósseo e nas fibras periodontais. É do equilíbrio nutricional que dependem os níveis de cálcio e vitamina D, suprimentos indispensáveis ao processo continuado de remodelação óssea que o tratamento ortodôntico impõe.

Relacionou-se a liberação do hormônio da paratireóide com a regulação de cálcio iônico no fluido extracelular, e que a hipocalcemia é a doença mais importante do raquitismo comum, sendo que durante o diagnóstico, apenas metade dos pacientes apresentam baixos níveis de cálcio. Os estudos concluíram ainda que a deficiência de cálcio na dieta pode conduzir a um quadro de raquitismo e osteomalácia, e que a prevenção destas doenças é fundamental ao metabolismo de cálcio e fósforo. Em 1990, a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) adaptou as recomendações nutricionais à população brasileira através de um trabalho publicado por Vannucchi et al. Segundo esta entidade, o cálcio recomendado a uma criança de sete a dez anos de idade é de 975mg/dia.

Fatores vitamínicos

A vitamina A está intimamente relacionada à distribuição e atividade dos osteoblastos e osteoclastos, influindo no equilíbrio entre aposição e reabsorção óssea.

A vitamina C interfere na síntese do colágeno, podendo levar à diminuição da deposição óssea quando de sua carência.

Por fim, a vitamina D, que promove a absorção de cálcio a nível intestinal, quando deficiente levará aos mesmos resultados que a falta de cálcio?

Da avaliação dos inúmeros fatores que afetam a resposta biológica dos dentes às forcas ortodônticas, deduz-se a complexidade do estudo destas reações. Outro fator é a enorme variação individual frente à mecânica ortodôntica, seja por condições anatômicas e/ou metabólicas, hormonais e nutricionais, como pela dificuldade de quantificar a exata magnitude e ritmo das cargas aplicadas.

O ortodontista que visa o sucesso da terapia deverá basear-se em sólido conhecimento da anatomia e histologia local; respeitar as condições de cada paciente, procurando saber se há alguma patologia de base, deficiência nutricional ou alteração hormonal, e estar alerta aos sinais como dor e mobilidade dentária, sinais estes que apontam para a perda de controle da mecânica ortodôntica. Considerando-se estes aspectos da biomecânica ortodôntica é possível planejar de maneira individualizada cada caso, possibilitando uma adequada resposta sistêmica para a obtenção de bons resultados ortodônticos, e a estabilidade destes em longo prazo.


Link do Artigo na integra via RGO:

2 comentários:

  1. Muito bom este post! Nunca levamos em conta fatores hormonais em conta no tratamento ortodôntico, isto sequer é citado na minha anamnese com o paciente! É de suma importância darmos ênfase a este aspecto, ainda mais com o aumento do número de pacientes adultos e idosos em tratamento.

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  2. Achei muito legal o artigo, Consolaro em seu ultimo livro relata tambem alteraçoes sistêmicas, mas acaba concluindo que as alteraçoes nao são tao relevantes assim.Vale a pena a gente prestar mais atenção...

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