ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar


Neste artigo de 2010, publicado pelo Dental Press Journal of Orthodontics, pelos autores Diego Junior da Silva Santos, Nathália Barbosa Palomares, David Normando, Cátia Cardoso Abdo Quintão; do Curso de Especialização de Ortodontia e Doutorado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Esplana os dois conceitos (raça e etnia) que são confundidos inúmeras vezes, mas existem diferenças sutis entre ambos: raça engloba características fenotípicas, como a cor da pele, e etnia também compreende fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições de um determinado grupo.

Embora a categorização de indivíduos em raça e etnia seja amplamente utilizada, tanto em diagnóstico quanto na pesquisa científica, seus significados são frequentemente confundidos ou mesmo desconhecidos no meio acadêmico.

O uso da raça como uma característica distintiva nas populações ou indivíduos que procuram por assistência médica é um costume bem aceito na área de saúde. Apesar da origem dessa prática refletir atitudes preconceituosas do passado, seu uso atual tem sido defendido como um meio útil de aprimoramento de diagnóstico e de esforços terapêuticos.

A classificação de raça pode ser utilizada para verificar se estudos randomizados foram bemsucedidos. Também pode ser útil para os leitores como uma descrição da população participante de um determinado estudo. Na Ortodontia, a tentativa de identificar o grupo racial em uma amostra tenta controlar a variação inerente às características faciais específicas a determinados grupos raciais.

A primeira classificação racial dos homens foi a “Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui lhabitent” (Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam) de François Bernier, publicada em 1684.

Carolus Linnaeus (1758), criador da taxonomia moderna e do termo Homo sapiens, reconheceu quatro variedades do homem:

1) Americano (Homo sapiens americanus: vermelho, mau temperamento, subjugável);
2) Europeu (europaeus: branco, sério, forte);
3) Asiático (Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, ganancioso);
4) Africano (Homo sapiens afer: preto, impassível, preguiçoso).

Linnaeus reconheceu também uma quinta raça sem definição geográfica, a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus), compreendida por uma diversidade de tipos reais (por exemplo, Patagônios da América do Sul, Flatheads canadenses) e outros imaginados que não poderiam ser incluídos nas quatro categorias “normais”. Segundo a visão discriminatória de Linnaeus, a classificação atribuiu a cada raça características físicas e morais específicas.

Em 1916, Marvin Harris descreveu a teoria da hipodescendência, útil na classificação de um indivíduo produto do cruzamento de duas raças diferentes. Nessa teoria, a criança fruto destecruzamento pertenceria à raça biológica ou socialmente inferior: “o cruzamento entre um branco e um índio é um índio; o cruzamento entre um branco e um negro é um negro; o cruzamento entre um branco e um hindu é um hindu; e o cruzamento entre alguém de raça europeia e um judeu é um judeu”. Em alguns países, uma regra de 1/8 ou 1/16 foi estabelecida a fim determinar a identidade racial apropriada de indivíduos oriundos de mistura de raças. Sob essas regras, se o indivíduo for, pelas linhas da descendência, 1/8 ou somente 1/16 de negro (preto uniforme), o indivíduo é também negro.

O termo raça tem uma variedade de definições geralmente utilizadas para descrever um grupo de pessoas que compartilham certas características morfológicas. A maioria dos autores tem conhecimento de que raça é um termo não científico que somente pode ter significado biológico quando o ser se apresenta homogêneo, estritamente puro; como em algumas espécies de animais domésticos. Essas condições, no entanto, nunca são encontradas em seres humanos. O genoma humano é composto de 25 mil genes. As diferenças mais aparentes (cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz) são determinadas por um grupo insignificante de genes. As diferenças entre um negro africano e um branco nórdico compreendem apenas 0,005% do genoma humano. Há um amplo consenso entre antropólogos e geneticistas humanos de que, do ponto de vista biológico, raças humanas não existem.

Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjetivo grego ethnikos. O adjetivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física.

O censo norte-americano do ano 2.000 expandiu as categorias raciais para cinco: índios americanos ou nativos do Alaska, brancos, pretos ou afroamericanos, nativos havaianos, e asiáticos.

No Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), o censo demográfico do ano 2.000 investigou a raça ou cor da população brasileira através da autoclassificação em: branco, preto, pardo, indígena ou amarelo. Há muito na literatura a respeito de classificações raciais; no entanto, são contraditórias entre si.


CONCLUSÕES

Raça e etnia são dois conceitos relativos a âmbitos distintos.

Raça refere-se ao âmbito biológico; referindo-se a seres humanos, é um termo que foi utilizado historicamente para identificar categorias humanas socialmente definidas. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e genética.

Portanto, a cor da pele, amplamente utilizada como característica racial, constitui apenas uma das características que compõem uma raça. Entretanto, apesar do uso frequente na Ortodontia, um conceito crescente advoga que a cor da pele não determina a ancestralidade, principalmente nas populações brasileiras, altamente miscigenadas.

Etnia refere-se ao âmbito cultural; um grupo étnico é uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e semelhanças genéticas. Essas comunidades geralmente reclamam para si uma estrutura social, política e um território.


Link do artigo na integra via Scielo:

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