ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Liberação de flúor de cimentos ortodônticos antes e após recarga com solução fluoretada

terça-feira, 7 de julho de 2009

Liberação de flúor de cimentos ortodônticos antes e após recarga com solução fluoretada



Neste artigo de 2009, pulicada pela Revista Odonto Ciência da PUC-RS, pelos autores Rogério Lacerda dos Santos, Matheus Melo Pithon, Julia Barbosa Pereira Leonardo, Edna Lúcia Couto Oberosler, Delmo Santiago Vaitsman, Antônio Carlos de Oliveira Ruellas; da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; Mostra um estudo comparativo sobre a liberação de flúor de cimentos de ionômero de vidro (CIV) utilizados para cimentação ortodôntica, antes e após recarga de flúor.

Há várias décadas, a Odontologia tem dado ênfase à prevenção tanto da cárie dental quanto de doenças periodontais. Em Ortodontia, as lesões de mancha branca e a gengivite marginal são os aspectos clínicos mais significativos, principalmente na ortodontia fixa, onde uma das grandes preocupações está relacionada à fixação dos dispositivos ortodônticos aos dentes. A técnica do condicionamento ácido do esmalte, com o objetivo de aumentar a resistência de união da resina à superfície do dente, foi desenvolvida por Buonocore, em 1955, e proporcionou grandes pro-gressos na odontologia restauradora e também na prática ortodôntica. Atualmente, a colagem dos bráquetes é reali-zada em todos os dentes, com exceção dos molares, que são bandados.

Bráquetes e bandas usados no tratamento ortodôntico são um desafio para higienização pelo paciente, agindo como estruturas retentoras de biofilme e podendo potencializar a desmineralização do esmalte adjacente. Com o objetivo de diminuir a ocorrência dessa desmineralização, a fixação desses dispositivos pode ser feita com um material que tenha capacidade de liberar flúor e proporcione adequada adesão ao esmalte e ao aço inoxidável, como os cimentos de ionômero de vidro (CIV). Entretanto, os CIV são mais susceptíveis à desidratação e hidratação por água ou saliva durante a sua fase inicial de presa, o que afeta as propriedades físicas de adesão e aumenta a possibilidade dedesintegração do material. Para evitar isto, recomenda-se a proteção imediata da superfície do CIV com materiais impermeabilizantes como os vernizes. O CIV requer 24 h para que ocorra toda presa do material e atinja a força de resistência máxima.

A liberação de flúor depende de vários fatores e diminui com o tempo, sendo de interesse clínico um efeito continuado para prevenção de desmineralização do esmalte adjacente a bráquetes e bandas colados com CIV. Estudos anteriores têm demonstrado diferença de liberação de flúor de materiais ionoméricos restauradores expostos à recarga de flúor por pouco tempo e em intervalos de alguns dias ou após um dia de exposição. Entretanto, esta liberação pode ser diferente em função dos materiais testados. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi comparar a liberação de flúor de cimentos de ionômero de vidro utilizados para cimentação ortodôntica, antes e após recarga de flúor.

Este estudo mostrou que o padrão de liberação de flúor foi similar para os diferentes CIV avaliados, sendo que todos os materiais apresentaram uma maior liberação de flúor no primeiro dia e um decréscimo rápido até o sétimo dia. A exposição à solução fluoretada proporcionou maior liberação de flúor pelos materiais, mas sem atingir os mesmos níveis do primeiro dia. De modo geral, os cimentos Meron e Vidrion C apresentaram maior liberação de flúor comparado ao cimento Ketac-Cem, tanto antes quanto após a recarga de flúor.

A liberação de flúor foi avaliada durante quatro semanas porque pacientes com aparelhos fixos normalmente vão ao ortodontista uma vez ao mês. O uso de bráquetes e bandas ortodônticas agem como estruturas retentoras de placa, podendo causar desmineralização do esmalte adjacente durante o tratamento ortodôntico. Os CIV ou outros materiais que contenham flúor possuem efeito de inibição cariogênica comparados com compósito sem flúor. Já a solução de flúor utilizada neste estudo para conferir recarga de flúor ao CIV tinha concentração de 1000 ppm NaF, similar à concentração de flúor nos cremes dentais utilizados para escovação bucal. O protocolo de troca de água diária para avaliar a liberação de flúor utilizado no presente estudo evita o acúmulo de flúor na solução. Foi utilizada água deionizada ao invés de água destilada, uma vez que a água deionizada não possui íons, cuja presença poderia mascarar os resultados.

Os resultados deste estudo não podem ser diretamente extrapolados para a clínica devido às limitações de um experimento laboratorial que não reproduz todas as condições clínicas. Por exemplo, Hallgren et al. observaram que bráquetes e bandas cimentadas com CIV aumentaram significativamente a concentração de flúor na saliva, mas ressaltaram a importância de controle regular, pois o flúor liberado pode não inibir completamente lesões de cárie em desenvolvimento em bandas ortodônticas que podem estar soltas ou em áreas sem contato com CIV.

De acordo com a metodologia deste estudo, pode-se concluir que:
• Os cimentos Meron e Vidrion C apresentaram maior liberação de flúor que o cimento Ketac-Cem.
• O uso de solução com flúor permite elevar a quantidade de captação e liberação de flúor pelos CIVs.


Link do artigo na Integra via revistas eletrônicas da PUC-RS:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe !