A tomografia computadorizada (TC) convencional (ou médica) foi desenvolvida, em 1972, pelo engenheiro inglês Hounsfield e pelo físico norte- americano Comark. Representou grande evolução e, por essa razão, seus idealizadores foram consagrados com o prêmio Nobel de Medicina em 1979. Apesar do avanço, a TC convencional foi aplicada na Odontologia com restrições, em decorrência da elevada dosagem de radiação, excessiva dimensão da aparelhagem, necessidade de posição supina do paciente durante a tomada, além do custo financeiro. Ao final da década de 90, o avanço tecnológico conduziu a uma nova versão que atendeu as necessidades da região dos dentes e maxilofacial, e se tornou conhecida como tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) ou, no idioma inglês, cone-beam.
Como o nome sugere, a TCFC produz um feixe de radiação em forma de cone que gira em torno do paciente para adquirir dados volumétricos. Uma quantidade específica de raios X absorvida corresponde a uma estrutura cuboide tridimensional chamada de voxel, correspondente ao pixel das imagens bidimensionais. A reconstrução volumétrica computadorizada é obtida por softwares utilizando algoritmos para reproduzir a imagem tridimensional (3D) em alta resolução. A dosagem de radiação emitida pela TCFC depende do campo de visão desejado, tempo de exposição, miliamperagem e quilovoltagem, mas tem sido relatado que corresponde a aproximadamente 20% da TC convencional e é equivalente à exposição completa de radiografias periapicais. O diferencial da TCFC também está na possibilidade de captação de imagens em tamanho real nos três planos do espaço, diferentemente dos exames radiográficos bidimensionais, que projetam a imagem das estruturas em um só plano, muitas vezes distorcidas e sobrepostas.
O objetivo do presente artigo foi avaliar a influência de exames 3D no redirecionamento do plano de tratamento ortodôntico. Para isso, duas situações clínicas foram descritas, nas quais os exames clínico e/ou radiográfico convencional sugeriram a complementação com imagens tomográficas. Em ambas, as imagens foram obtidas pelo tomógrafo i-CAT® (Imaging Sciences International, Hatfield, EUA) cujos dados foram exportados para o sofware Xoran versão 3.1.62 (Xoran Technologies, Ann Arbor, EUA) para a reconstrução em 3D.
CASO CLINICO 1
O paciente procurou tratamento ortodôntico aos 40 anos e 6 meses de idade. Apresentava como queixa principal a má distribuição dos diastemas inferiores para a adequada reabilitação com implantes dentários. Sua história médica não possuía registros significativos, e a odontológica apresentou o antecedente das perdas dentárias (dentes 12, 36 e 37), do tratamento endodôntico (dentes 11, 22 e 46) e da instalação do implante (região do dente 12). Em relação ao padrão dentário, apresentava Classe II, divisão 2, subdivisão esquerda, de Angle, com desvio da linha mediana inferior para o lado esquerdo, migração distal dos dentes 33, 34 e 35, além de apinhamento suave nas arcadas superior e inferior.
As imagens tomográficas comprovaram a presença de defeito ósseo (ausência de cortical óssea vestibular) e reabsorção radicular por vestibular no dente 22. Baseado no risco de perda do incisivo durante a movimentação ortodôntica e na queixa principal do paciente, a decisão foi compartilhada com o paciente e redirecionada para a simplificação do tratamento ortodôntico.
CASO CLÍNICO 2
O paciente procurou retratamento ortodôntico aos 41 anos e 8 meses de idade, após dois anos de tratamento ortodôntico com extração dos dentes 14 e 24. Alegou não ter concluído o tratamento como deveria. Apresentava como queixa principal “espaços entre os dentes da frente”. Sua história médica não possuía registros significativos. Em relação ao padrão dentário, apresentava má oclusão de Classe II de Angle com diastema superior e apinhamento inferior. Radiograficamente, observou-se perda óssea horizontal na região anterossuperior e re- absorção radicular nos dentes 11, 12, 13, 15, 21, 22, 23 e 25.
As imagens 3D mostraram, adicionalmente, deiscências ósseas extensas nos elementos 13, 16, 23 e 26, não detectadas previamente ao exame clínico e radiográfico convencional. Ao ser informado sobre as condições dentárias e periodontais, o paciente consentiu com a realização do tratamento ortodôntico focado na resolução da queixa.
Informações de diagnóstico são essenciais para a decisão válida do plano de tratamento. Imagens precisas conduzem a um melhor plano de tratamento e potencializam resultados mais previsíveis e adequados. A TCFC é uma modalidade tecnológica emergente apropriada para a região dos dentes e das estruturas maxilofaciais, e que pode oferecer ao clínico informações mais relevantes, quando comparadas com as radiografias convencionais.
CONCLUSÃO
A TCFC representa um avanço tecnológico na obtenção de imagens dentárias e maxilofaciais. Imagens 3D podem identificar lesões camufladas pela limitação bidimensional de exames conven- cionais, e são capazes de redirecionar o plano de tratamento ortodôntico. No entanto, o uso rotineiro da TCFC ainda não deve ser recomendado, mas, sim, como ferramenta complementar quando dúvidas surgirem após os exames clínico e radiográfico convencional.
Link do artigo na Integra via Scielo:
http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v16n1/12.pdf
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