A avaliação dos resultados dos tratamentos ortodônticos tem sido realizada, tradicionalmente, apenas baseada em opiniões subjetivas e em experiências clínicas dos ortodontistas. A avaliação dos tratamentos ortodônticos ajuda a estabelecer metas e padrões, e a alcançar métodos de mensuração da qualidade destas finalizações nos pacientes já tratados. Além disso, é útil a propósitos educativos em programas de pós-graduação em Ortodontia. Entretanto, a avaliação quantitativa das documentações dos pacientes é extremamente difícil, devido a vários fatores que afetam o alcance desses resultados, tais como fatores oclusais, esqueléticos, de tecido mole e problemas funcionais.
Na literatura, tem sido relatado o uso de diversos índices quantitativos para avaliação da necessidade ou dos resultados dos tratamentos ortodônticos. Otuyemi e Jones realizaram uma revisão sobre os diferentes métodos de se avaliar uma má oclusão e dividiram os índices em 5 grupos: diagnóstico, epidemiológico, necessidade de tratamento, sucesso de tratamento e complexidade do tratamento.
Um desses índices, o índice PAR (Peer Assessment Rating) tem sido amplamente utilizado para avaliação da severidade das más oclusões e dos efeitos dos tratamentos corretivos. O índice PAR foi desenvolvido por Richmond et al., em 1992, para medição dos resultados dos tratamentos, levando em consideração as altera- ções oclusais, e tem sido considerado um método seguro, confiável e válido. Há basicamente dois métodos de se avaliar a melhora oclusal por meio do índice PAR: 1- pela redução do escore do índice PAR e 2- pela porcentagem de redução do escore do índice PAR. O índice PAR não consegue mensurar efeitos iatrogênicos, tais como lesões de esmalte, perdas ósseas e reabsorções radiculares apicais, como discutido previamente.
O índice PAR é um índice reconhecido e aceito internacionalmente como forma de registro das características oclusais e foi elaborado especificamente para prover um meio de se acessar mais objetivamente o sucesso dos tratamentos ortodônticos. Neste estudo, a análise estatística descritiva da amostra total demonstrou um índice PAR inicial com valor médio de 29,46, com desvio-padrão de 8,79, que ao final foi reduzido para o valor médio de 6,32, com desvio-padrão de 3,48 .
Tem sido sugerido que um tratamento ortodôntico de bom padrão deveria resultar numa redução média do índice PAR de 70% ou mais. No presente estudo, a média de redução do índice PAR com o tratamento foi de 78,54%, caracterizando um bom padrão de finalização dos tratamentos ortodônticos. Isto certamente parece ser o que subjetivamente se chamaria de um ‘resultado clinicamente aceitável. Estes resultados são similares às porcentagens médias de redução com o tratamento do índice PAR, entre 75,4% e 78%, encontradas em grande parte dos artigos prévios na literatura.
Embora o índice PAR proporcione uma avaliação fidedigna da situação oclusal e dos resultados do tratamento ortodôntico, este índice não permite, com seu valor absoluto, a especificação de quais características oclusais mais contribuíram para as alterações observadas, já que o índice PAR é o resultado da soma de escores dados a diferentes características oclusais. Além disso, cada uma das características oclusais avaliadas é multiplicada por pesos diferentes, dificultando ainda mais a visualização da participação real de cada um dos componentes do índice em seu valor final. A análise de regressão múltipla permite a avaliação da influência de diversos fatores que possam estar, possivelmente, correlacionados a uma deter- minada variável. A análise de regressão múltipla foi utilizada, então, para verificação dos possíveis fatores correlacionados ao índice PAR nas fases inicial e final. Sendo assim, removeram-se os pesos de cada um dos componentes do índice PAR, e o mesmo foi desmembrado, permitindo a avaliação da influência de cada um dos componentes sobre o somatório dos escores.
Foi baseado nas informações de 120 modelos de oclusão normal, que Andrews relacionou as seis chaves da oclusão normal. Este legado passou a representar um dos mais valiosos parâmetros para a obtenção de uma oclusão estática ideal, contudo, o ideal nem sempre é alcançado ao final do tratamento ortodôntico. Sendo assim, a utilização de índices oclusais que mensuram o quanto as relações oclusais desviam da normalidade constitui um importante instrumento de pesquisa sobre a eficácia do tratamento ortodôntico.
Apesar do índice PAR ser provadamente objetivo, válido e reproduzível para aferição das alterações oclusais da boca toda, ele apresenta limitações para avaliação dos resultados do tratamento, mas mesmo assim ele tem sido bastante aceito pelos ortodontistas.
Atualmente, com a grande divulgação da necessidade de se buscar alta qualidade e cuidados profissionais na área de saúde, está crescendo a demanda de profissionais especialistas que ofereçam tratamentos ortodônticos baseados em evidências. Os ortodontistas sempre devem buscar a excelência na finalização dos tratamentos ortodônticos, ou seja, com um índice PAR igual ou o mais próximo possível de zero ao término do tratamento, buscando uma oclusão funcional ideal, que não se resume apenas numa oclusão em relação cêntrica ou com pequenos desvios aceitáveis em máxima intercuspidação habitual, ausente de toques prematuros e interferências oclusais.
CONCLUSÕES
De acordo com a amostra estudada e segundo a metodologia utilizada, pode-se concluir que:
- O índice PAR inicial médio de 29,46 foi reduzido para o valor de 6,32, caracterizando uma correção de 78,54% com o tratamento, concluindo-se que houve um bom padrão de finalização destes tratamentos ortodônticos.
- O fator mais responsável pela variação do índice PAR inicial foi o apinhamento, seguido pela oclusão posterior e pelo overbite. Para o índice PAR final, o fator mais responsável pela sua variação também foi o apinhamento, seguido da oclusão posterior, do overjet e do overbite.
- Houve correlação do índice PAR inicial com a correção deste índice durante o tratamento, ou seja, quanto maior a severidade da má oclusão, maior a correção com o tratamento.
Link do artigo na integra via Scielo:
http://www.scielo.br/pdf/dpress/v13n2/a11v13n2.pdf
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