ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Avaliação cefalométrica das alterações dentoesqueléticas de jovens com má oclusão de Classe II dentária tratados com distalizadores Jones jig

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Avaliação cefalométrica das alterações dentoesqueléticas de jovens com má oclusão de Classe II dentária tratados com distalizadores Jones jig






Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Mayara Paim Patel, José Fernando Castanha Henriques, Guilherme Janson, Marcos Roberto de Freitas, Renato Rodrigues de Almeida; da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo. Avaliou cefalometricamente as alterações dentoesqueléticas de jovens com Classe II dentária tratados com o distalizador Jones jig selecionados na Clínica dePós-Graduação da Faculdade de Odontologia de Bauru.

Os distalizadores intrabucais surgiram no intuito de simplificar o movimento de distalização dos molares superiores e, principalmente, como uma alternativa para pacientes não colaboradores.

A cooperação do paciente é um fator de extrema importância para se alcançar resultados satisfatórios ao final do tratamento. A colaboração está diretamente relacionada à idade do paciente, a características de personalidade, ao gênero, ao nível socioeconômico, ao comportamento e à motivação. Sendo que, em Ortodontia, cooperar com o tratamento resume-se à manutenção da higiene bucal adequada, uso de aparelhos extrabucais (AEB), aparelhos removíveis e elásticos intermaxilares.

A partir da década de 70, dispositivos intrabucais capazes de movimentar os molares superiores para relação molar normal começaram a ser empregados com o intuito de corrigir a má oclusão de Classe II.

O primeiro dispositivo capaz de distalizar os molares superiores a partir de um método diferenciado foi o sistema de magnetos de repulsão preconizado por Gianelly et al. Ao final da distalização, comprovaram a eficiência desse distalizador, principalmente pela rápida movimentação distal dos molares superiores e devido à perda mínima de ancoragem.

Durante alguns anos, a distalização dos molares superiores por meio de aparelhos intrabucais esteve em desuso. Contudo, o tratamento da Classe II com distalizadores intrabucais passou a ser novamente evidenciado na década de 90, em decorrência da mínima necessidade de cooperação do paciente. Em 1992, Hilgers desenvolveu o Pendulum, cujo mecanismo de ação refere-se a um botão de Nance modificado apoiado ao palato e aos primeiros pré-molares e molas de TMA de 0,032” que liberam força leve e contínua.

Os distalizadores, de uma forma geral, têm como princípio a dissipação de uma força em direção distal, sendo que – como efeito indesejável – ocorre a angulação dos molares movimentados e a perda de ancoragem, isto é, a mesialização dos pré-molares e dentes anteriores, o que resulta, geralmente, em aumento da sobressaliência e do apinhamento anterossuperior. Esses efeitos podem ser diversificados de acordo com a região da força dissipada e o reforço de ancoragem empregado. Em suma, dentre as diversas vantagens, os distalizadores intrabucais destacam-se principalmente por dependerem de mínima cooperação do paciente e, além disso, permitem que o ortodontista tenha maior controle sobre o tratamento.

O aparelho Jones jig é constituído por um fio 0,036” inserido no tubo redondo do acessório soldado à banda do molar a ser distalizado. Nesse corpo é inserida uma mola de secção aberta de níquel-titânio, que, em ativação, libera uma força de 70 a 75 gramas sobre os primeiros molares. Acima desse fio está soldado um fio de 0,016”, que é encaixado no slot retangular do tubo do molar e orienta o movimento distal.

Durante a instalação, o ortodontista não deve provocar dobras compensatórias ao longo do corpo do distalizador, para que não altere o seu mecanismo de ação. A ativação do aparelho é realizada por meio de um fio de ligadura 0,010” que comprime o cursor em direção ao braquete do segundo pré-molar. A mola deve ser ativada em 5mm e não deve ser excessivamente comprimida, com o intuito de evitar forças intensas e, consequentemente, perda de ancoragem. A reativação da mola pode ser realizada no período de 5 a 8 semanas após a instalação do distalizador.

Como ancoragem, é utilizado um botão de Nance cimentado, geralmente, nos segundos prémolares, quando esses estiverem totalmente irrompidos, caso contrário, o dispositivo de ancoragem pode ser cimentado nos primeiros pré-molares ou segundos molares decíduos.

Todo movimento dentário pode estar associado a uma recidiva, isto é, o dente movimentado retorna à posição inicial; portanto, a má oclusão de Classe II deve ser sobrecorrigida. Essa manobra é considerada essencial para o sucesso do tratamento com distalizadores intrabucais. Considera-se necessário distalizar a cúspide mesial dos molares superiores 1mm além do sulco vestibular dos primeiros molares inferiores, manobra essa denominada “super Classe I” de molar.

Diversos trabalhos avaliaram as alterações promovidas por distalizadores intrabucais. No entanto, são na maioria artigos clínicos, sendo apenas alguns de cunho científico. Portanto, em virtude dessa limitação, o presente estudo visou avaliar cefalometricamente as possíveis alterações decorrentes da distalização dos primeiros molares superiores com o distalizador Jones jig, além de observar o comportamento dos dentes de ancoragem.

Os estudos referentes ao distalizador Jones jig, quando comparado a outros dispositivos intrabucais, demonstraram menor quantidade de distalização. Provavelmente, essa diferença é resultado da quantidade de força dissipada. Geralmente, o distalizador Jones jig atua com uma força média de 75 gramas, valor inferior ao dos trabalhos que avaliaram outros distalizadores, como o Pendulum e o Distal jet. Em outras pesquisas a distalização não ultrapassou 3mm. Contudo, o fator que varia constantemente nesses estudos e que está relacionado à quantidade final de distalização é o tempo de tratamento.

A força de distalização associada à qualidade do reforço de ancoragem também influencia na quantidade de angulação dos molares e pré-molares superiores, como ocorreu no presente estudo, onde se observou angulação distal tanto no primeiro como no segundo molar superior (SN.7 e SN.6, respectivamente) e angulação mesial dos segundos pré-molares superiores (SN.5).

Não há na literatura estudos científicos comparando a qualidade do reforço de ancoragem quando apoiado em dois ou quatro pré-molares. Contudo – seguindo-se o raciocínio de que os dentes permanentes (por apresentarem raízes de melhor qualidade) demonstram maior efetividade como suporte da distalização –, especula-se que o número de dentes suporte pode influenciar na quantidade e qualidade da distalização.

O reforço de ancoragem pode ser inserido nos segundos molares decíduos, primeiros e/ou segundos pré-molares. Obviamente, quanto maior o número de dentes de suporte para ancoragem, menores serão os efeitos indesejáveis. Alguns estudos na literatura ortodôntica comprovam que a efetividade da ancoragem não depende somente do tecido mucoso, e sim da qualidade dos dentes de suporte.

A efetividade dos segundos molares decíduos como reforço de ancoragem, quando comparados aos pré-molares, é claramente inferior, visto que fisiologicamente, em longo prazo, a superfície radicular passa por um processo de reabsorção, o que compromete a qualidade do reforço de ancoragem, provocando mobilidade e possível remoção prematura do aparelho.

Os precursores do distalizador Jones jig não relatam modificações no perfil mole, no entanto, observaram uma mínima movimentação para anterior dos incisivos superiores, que poderia ser refletida ao perfil facial, sendo agravada quando na associação do dispositivo intrabucal ao aparelho fixo superior. Essa mesma protrusão dos incisivos superiores foi observada em outros estudos e determinada como perda de ancoragem, sendo associada a um aumento da altura facial anteroinferior, o que provavelmente resultou nos efeitos indesejáveis como aumento na projeção dos lábios superior e inferior de 0,38mm e 1mm, respectivamente.


CONCLUSÕES
Com base na metodologia empregada e a partir dos resultados obtidos, possibilitou-se avaliar as alterações dentárias e esqueléticas durante a distalização por meio do aparelho Jones jig, podendo-se chegar às seguintes conclusões.

Efeitos esqueléticos

 Não houve alterações esqueléticas significativas na maxila.

 Ocorreu rotação mandibular anti-horária, representada pelo aumento das variáveis NS.Gn e
AFAI.

Distalização dos molares superiores

 Os primeiros e segundos molares, ao fim da distalização, resultaram em alterações lineares, angulares e verticais, sendo que apenas a distalização e a angulação distal demonstraram significância estatística.

 A distalização mensal dos primeiros molares superiores foi numericamente inferior à mesialização dos segundos pré-molares.

Comportamento dos dentes de ancoragem

 Os dentes de ancoragem, ou seja, os segundos pré-molares, movimentaram-se significativamente de forma linear, angular e vertical; ou seja, demonstrou-se a perda significativa de ancoragem diante da mesialização, angulação mesial e extrusão desses dentes.

 Os incisivos superiores, que refletem indiretamente o comportamento do reforço de ancoragem, apresentaram apenas uma significativa protrusão, sendo certamente o fator determinante para o aumento do trespasse horizontal ao final da distalização.

 A extrusão significativa dos segundos prémolares provavelmente foi o fator responsável pela rotação horária da mandíbula, o que resultou em alterações significativas do trespasse vertical e da altura facial anteroinferior; e, consequentemente, na significativa protrusão do lábio inferior.


Link do artigo na integra via Scielo:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe !