Neste artigo de 2007, publicado pela revista Dental Press, pelos autores Leopoldino Capelozza Filho, Mauricio de Almeida Cardoso, João Cardoso Neto, da USP-Bauru, UNESP-Araçatuba, USC-Bauru; Sao Paulo. Mostra uma bela resolução para um caso de difícil solução de transposição dentária. Tem uma bela revisão cientifica sobre transposição dentária. Uma pesquisa completa.
A transposição dentária é uma anomalia relatada desde o início do século XIX, sendo sua terminologia diversificada ao longo dos anos. Algumas publicações classificavam as erupções ectópicas dentárias de graus variados como pseudotransposições, transposições incompletas, parciais, simples e coronárias. Certamente, a erupção ectópica é uma categoria ampla de referência para quaisquer tipos de anomalias onde os dentes tomaram um caminho eruptivo anormal. Portanto, transposição dentária deve ser propriamente considerada como uma subdivisão das erupções ectópicas, na condição extrema desta categoria.
Uma definição clara e objetiva sobre transposição dentária foi citada por Peck, Peck e Attia, como a anomalia dentária caracterizada pelo intercâmbio da posição entre dois dentes adjacentes, especialmente em relação às suas raízes, ou pelo desenvolvimento e erupção de um dente numa posição ocupada normalmente por um dente nãoadjacente.
Freqüentemente, a transposição dentária está associada a outras anomalias dentárias no mesmo paciente, tais como agenesia, dentes conóides, giroversões severas e mau posicionamento dos dentes adjacentes, dentes decíduos retidos, dilacerações e má formação de outros dentes. A anomalia acomete indivíduos de ambos os gêneros e ocorre em ambos os arcos, com preferência pelo gênero feminino e pela maxila. De forma interessante, raramente se observa o aparecimento simultâneo de transposição em ambos os arcos, mesmo na dentadura decídua.
Quanto à etiologia da transposição dentária, uma possível explicação seria considerar a transposição como resultado do intercâmbio da localização entre os germes dos dentes em desenvolvimento. Devido à alta incidência de caninos decíduos retidos associados à transposição dentária, há autores que relacionam os dentes decíduos como sendo o fator etiológico primário da anomalia. Além disso, a teoria da migração intra-óssea do canino, o trauma do dente decíduo, a presença de cistos e formações patológicas e a hereditariedade também foram sugeridos como fatores etiológicos para esta anomalia.
Especificamente a respeito das transposições dentárias localizadas na maxila, Peck e Peck realizaram uma revisão ampla e sistemática de relatos clínicos e estabeleceram uma classificação com base nos fatores anatômicos. Dos 201 casos clínicos revisados, os autores encontraram, em ordem decrescente de freqüência de aparecimento na literatura, as seguintes condições de transposição: 1) canino - primeiro pré-molar; 2) canino - incisivo lateral; 3) canino no sítio do primeiro molar; 4) incisivo lateral – incisivo central e 5) canino no sítio do incisivo central.
O presente relato discorre sobre o manejo clínico de uma transposição unilateral de canino e primeiro pré-molar no hemi-arco superior direito. Portanto, todas as considerações a seguir serão relacionadas a esta condição. É provável que a primeira referência científica a respeito de transposição entre canino e primeiro pré-molar superior seja atribuída à descrição de Miel14, em 1817, na qual discorreu de forma detalhada a ocorrência bilateral de um caso clínico de transposição, fazendo menção ao envolvimento genético da anomalia referida.
A transposição entre canino e primeiro pré-molar superior é uma anomalia de pequena prevalência na população, sendo encontrada em 0,03% dos escolares suecos, 0,13% dos pacientes odontológicos de origem árabe, 0,25% dos pacientes ortodônticos escoceses e 0,51% dos indivíduos de uma amostra composta africana.
O diagnóstico precoce de uma transposição em desenvolvimento é de grande importância, influenciando sobremaneira no prognóstico. Geralmente, isto pode ser realizado entre seis e oito anos de idade num exame radiográfico convencional, utilizando uma radiografia panorâmica. Quando detectada precocemente, procedimentos interceptativos, incluindo a extração de dentes decíduos e guia de erupção de dentes permanentes, podem ser realizados, interceptando assim a
evolução completa da anomalia. Por outro lado, quando o diagnóstico da transposição é tardio, o planejamento ortodôntico centraliza a decisão entre a extração e não extração e sobre a correção da ordem de posicionamento dentário.
evolução completa da anomalia. Por outro lado, quando o diagnóstico da transposição é tardio, o planejamento ortodôntico centraliza a decisão entre a extração e não extração e sobre a correção da ordem de posicionamento dentário.
Quando a decisão é tentar reposicionar os dentes em transposição, como no caso clínico a ser descrito, deve-se tomar cuidado no manejo mecânico, a fim de evitar interferência oclusal e reabsorção radicular, bem como a perda óssea, principalmente da tábua óssea vestibular. Assim, há necessidade de movimentar primeiro o dente transposto, no caso o primeiro pré-molar, para a área palatina, permitindo o livre trânsito do canino pela área vestibular do rebordo alveolar até a sua posição normal. Esta mecânica já foi outrora descrita e exemplificada por meio de um caso clínico, por Capelozza Filho et al. Subseqüente ao reposicionamento do canino, a correção do dente pré-molar poderá ser realizada. A grande desvantagem desta abordagem é o tempo necessário para a sua correção, o que será compensado pelo resultado estético e funcional.
Caso Clínico
O caso clínico selecionado para ilustrar o procedimento referido foi de uma jovem de 10 anos e 7 meses, cuja queixa principal era a transposição do dente canino e primeiro pré-molar superior direito. A paciente apresentava características de Padrão I em face horizontal e Classe I molar, em estágio oclusal de dentadura mista.
A agenesia do dente 12 e o 22 com alteração de forma (conóide) faziam-se presentes. As características cefalométricas encontravam-se dentro da normalidade, sem desvios esqueléticos significantes. Clinicamente, o canino superior direito estava localizado pela face vestibular em relação ao primeiro pré-molar, ambos em estágio de erupção. Pela radiografia panorâmica, tratava-se de uma transposição que envolvia a coroa e a raiz, confirmada nas radiografias periapicais e oclusal de maxila.
Um plano de tratamento individualizado por meio de mecânica segmentada foi proposto para reposicionar o dente ectópico, com prognóstico reservado e necessidade de reavaliação. A proposta de uma conduta conservadora tinha como objetivo evitar extrações dentárias, contra-indicadas para o padrão facial da paciente, no qual uma diminuição do terço inferior da face pôde ser observada. Uma abordagem multidisciplinar também foi considerada visando a reconstrução dos dentes 52 e 22, tendo em vista a agenesia do 12 e formato anômalo do 22, anomalias comumente associadas à transposição. Optou-se pela preservação do 52 até o momento oportuno para a reabilitação com implante.
O tempo total de tratamento de 33 meses foi relativamente longo, mas aceitável, considerando-se o caráter de correção da anormalidade, com bom resultado estético e funcional. Ao final do tratamento, a paciente foi encaminhada para realizar aumento com resina dos dentes 52 e 22. A rizólise do dente 52 deverá ser assistida, sendo este dente substituído por um implante para reposição do dente 12, em idade adequada. A paciente está sendo acompanhada desde a remoção do aparelho fixo e pôde ser observada estabilidade após o controle de 1 ano.
Link do artigo na integra via Dental Press:
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