ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Hipersensibilidade a Metais Utilizados durante o Tratamento Ortodontica

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Hipersensibilidade a Metais Utilizados durante o Tratamento Ortodontica








Neste artigo de 2007, publicado pela revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre; pelos autores MACHADO, Eduardo; GREHS, Renésio Armindo; GREHS, Betina; MACHADO, Patrícia; da Disciplina de Ortodontia do Departamento de Estomatologia da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul - Brasil. Aborda com revisão de literatura e relata um caso de hipersensibilidade ao material da aparatologia Ortodontica que gerou uma resposta inflamatória induzida.

Há uma grande variedade de metais que são rotineiramente utilizados em Odontologia. Dessa forma, existe uma preocupação crescente com a biocompatibilidade dos materiais dentários utilizados, devido ao aumento da freqüência das reações alérgicas e do conhecimento acerca das possíveis reações alérgicas advindas durante os tratamentos realizados (STENMAN et al., 1989).

Sabe-se que alguns dos sinais e sintomas intra-orais característicos a alergia ao níquel são: estomatite com médio a severo eritema, pápula peri-oral, sensação de queimação, perda de gosto ou gosto metálico e presença de gengivite severa com ausência de placa bacteriana. Já os sinais e sintomas extra-orais mais comuns estão relacionados à urticária generalizada, eczema espalhado, dermatite alérgica e exacerbação de eczema pré-existente (RAHILLY et al., 2003).

Alguns materiais comumente utilizados na prática odontológica, cujos seus componentes são reconhecidamente alergênicos, incluem metais como níquel, cobalto e cromo, além de monômeros de metil-metacrilato e outras substâncias orgânicas utilizados em aparelhos removíveis e fixos (EL AGROUDI et al., 1986; MUNKSGAARD, 1992).

O ouro foi utilizado em Ortodontia para a fabricação de acessórios até meados de 1940. Em 1929 o aço foi usado pela primeira vez para substituir o ouro. Hoje inúmeras ligas metálicas são utilizadas na especialidade da Ortodontia, como cobalto-cromo, níquel-titânio, beta-titânio, além de outras, sendo que a grande maioria apresenta o níquel entre seus constituintes (GRIMSDOTTIR et al., 1992; WATAH, 2000). Segundo Moffa et al., 1977, o níquel tem a maior capacidade de gerar reações alérgicas em relação a todos os outros metais combinados.

Uma resposta alérgica é uma etapa na qual certos componentes do sistema imune reagem excessivamente a uma substância estranha. O níquel produz dermatite de contato, a qual é uma resposta imune de hipersensibilidade do tipo IV (VAN LOON et al., 1988). Esse processo apresenta duas fases distintas interligadas. A fase da sensibilização ocorre no momento que o alérgeno entra no corpo, é identificado e a resposta ocorre. Já a fase de retirada ocorre depois da re-exposição ao alérgeno a ao aparecimento total da reação clínica. Podem não haver sinais e sintomas no momento inicial da exposição, mas a exposição subseqüente conduz a reações mais visíveis (RAHILLY et al., 2003).

Em alguns pacientes ortodônticos pode ocorrer uma resposta inflamatória induzida pela corrosão das estruturas do aparelho ortodôntico e subseqüente liberação de íons níquel, sendo essa resposta inflamatória chamada de estomatite (BISHARA et al., 1993; DE SILVA et al., 2000). O contato com o níquel em pessoas susceptíveis pode desencadear uma série de reações de hipersensibilidade, sendo uma das causas mais comuns a dermatite de contato, especialmente em mulheres. Na fase inicial, as lesões clínicas apresentam características variadas dependendo da concentração e intensidade da exposição, presença de barreiras locais e a área afetada (CARVALHO, 1995; DOU et al., 2003).

O diagnóstico da estomatite de contato devido à alergia ao níquel é de difícil estabelecimento, sendo mais difícil de ser realizado na mucosa oral do que na pele, podendo ser confundido com injúrias mecânicas, lesões autoimunes, estomatite apoptótica e pobre higiene oral (BASS et al., 1993; KEROSUO et al., 1996). A sensibilidade ao níquel pode ser avaliada por testes de biocompatibilidade, incluindo testes de sensibilidade cutânea e testes de reatividade in vitro (MENNÉ et al., 1987; MARIGO et al., 2003).

Inúmeros estudos têm buscado avaliar a ocorrência de reações alérgicas devido à hipersensibilidade a metais, visto que levantamentos epidemiológicos têm demonstrado que o número de pessoas com sensibilidade ao níquel aumentou aproximadamente 20% (JONES et al., 1986; BASS et al., 1993; KERUSUO et al., 1996). Prystowsky et al., 1979, avaliaram uma amostra de 1158 adultos e entre seus achados verificaram que 5,8% apresentavam reação positiva a sulfato de níquel a 2,5%, existindo um maior acometimento do sexo feminino. Dentre os pacientes que apresentavam dermatite de contato, 11% apresentaram reação positiva ao níquel.

Levrini et al., 2006, avaliaram a possibilidade da ocorrência de alergias de contato devido à liberação de íons níquel. Foram coletados 100 fios de cabelo intactos de 15 pacientes que utilizavam aparelhos ortodônticos, sendo que esses haviam sido lavados 12 a 24 horas antes da coleta para limitar a contaminação do meio. Além disso, os mesmos procedimentos também foram realizados em um grupo controle. As amostras de cabelo foram coletadas de 3 diferentes áreas: frontal, cimo e occipital. Os resultados mostraram não haver diferença significativa nas concentrações de íons níquel dos grupos teste e controle, não havendo liberação de níquel significativa para ser considerada como um fator de risco para a saúde dos pacientes avaliados. Os autores também confirmaram que a absorção intestinal de níquel na boca em decorrência da utilização de aparelhos ortodônticos é muito menor que a absorção de íons níquel devido a dieta do indivíduo.

Os níveis de níquel na urina antes do início do tratamento ortodôntico fixo e durante o tratamento, foram avaliados por Menezes et al., 2007. As amostras de urina de 21 pacientes (12 mulheres e 9 homens) foram coletadas antes da instalação do aparelho fixo e 2 meses após o início do tratamento. Os resultados demonstraram que os níveis de níquel aumentaram significativamente após o início do tratamento ortodôntico, sendo os achados similares em ambos os sexos.

Ao se iniciar tratamentos ortodônticos, principalmente tratamentos corretivos com dispositivos metálicos aderidos à superfície do esmalte dentário, é importante a realização de uma anamnese completa e com o máximo possível de informações acerca da saúde do paciente, verificando a história médica e presença de reações alérgicas pregressas.

Para a especialidade da Ortodontia uma vez constatado a hipersensibilidade a metais do paciente, atualmente pode-se optar pela utilização de braquetes cerâmicos e fios metálicos com cobertura de material plástico inócuos, evitando-se assim maiores problemas periodontais.


Link do Artigo na Integra via seer.ufrgs:

2 comentários:

  1. Vc tem um sexto-sentido, Marlos!
    Nesse exato momento estou com um esparadrapo enorme nas minhas costas: um patch test para verificar se sou alérgica a niquel e outros metais!
    O blog está sempre na crista da onda!!

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  2. Obrigado TatiLie,

    Muitos colegas as vezes acham que uma hiperplasia gengival é só má higiene do paciente. Mas como mostram os estudos algumas vezes pode ser uma reação alergica a liga metálica.

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