ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Angulação dos caninos em portadores de má oclusão de Cl I e de Cl III: análise comparativa através de um novo método utilizando imagens digitais

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Angulação dos caninos em portadores de má oclusão de Cl I e de Cl III: análise comparativa através de um novo método utilizando imagens digitais



Neste artigo de 2010, publicado pelo Dental Press Journal Orthodontics, pelos autores Lucyana Ramos Azevedo, Tatiane Barbosa Torres, David Normando; da disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará e do Curso de Especialização emOrtodontia da ABO-PA. Determina as angulações mesiodistais das coroas dos caninos em indivíduos portadoresde má oclusão de Classe III, comparando-os a indivíduos Classe I.

As inclinações e angulações dentárias são objetos de estudo desde a época em que Angle sistematizou o tratamento ortodôntico, desenvolvendo o aparelho Edgewise (arco de canto), cujas inclinações e angulações dentárias são modificadas pelos arcos, conforme inseridos nas canaletas dos braquetes.

Há algum tempo, os ortodontistas percebem as vantagens de se angular os braquetes, porém não existia um consenso sobre a quantidade de angulação apropriada para cada dente. Com isso, começou-se a considerar a possibilidade de desenhar braquetes individuais para cada tipo de dente, para trabalhar com fios sem dobras ou, ainda, a confecção de braquetes feitos sob medida para cada paciente.

A técnica Straight-Wire faz uso de braquetes programados, ou construídos individualmente para cada dente, com o objetivo de posicioná-los idealmente ao final do tratamento. Desde a sua introdução, a proposta original previa, além dos braquetes padrão— que se aplicam a um grande número de pacientes —, a necessidade do uso de diferentes prescrições que considerassem o tipo de má oclusão, o tratamento a ser adotado e o posicionamento desejado ou possível para os dentes ao final do tratamento. Em outras palavras, a individualização do aparelho de acordo com a má oclusão original.

Entre as várias mudanças ao sistema inicialmente desenvolvido, está a que preconiza a modificação da angulação dos caninos nos casos de compensação. As angulações de 8º e 5° para caninos superiorese inferiores, respectivamente, para tratamentodas más oclusões de Classe I foram modificadas para 11° para os caninos superiores e 0º para os inferiores em tratamentos compensatórios das másoclusões de Classe III. O objetivo dessas mudanças seria aumentar ou preservar o perímetro da arcada superior e reduzir ou preservar o perímetro da arcada inferior, favorecendo a criação de um trespasse positivo anterior, introduzindo maior compensação e aumentando a capacidade de correção da má oclusão, apesar do erro esqueletal.

Apesar do crescente interesse na modificação das angulações e inclinações dentárias a partir das medidas descritas pelo estudo das seis chaves para a oclusão ideal, poucos estudos têm buscado avaliar a confiabilidade de tais medidas quando se emprega um determinado método. Embora vários métodos tenham sido descritos para a mensuração da inclinação dentária (torque), poucos estudos avaliaram o erro inerente ao método utilizado para a análise da angulação dentária.

Em recente estudo, foi descrita uma nova metodologia para a mensuração das angulações e inclinações dentárias utilizando a tomografia computadorizada volumétrica. Para tal, foram realizados cortes tomográficos dos dentes anteriores de dois indivíduos, com padrões faciais II e III, respectivamente. Após a avaliação, concluiu-se que a tomografia computadorizada (TC) pode ser um meio útil para avaliação de inclinações e angulações dentárias, possibilitando grande contribuição para as pesquisas envolvendo o posicionamento dentário e, também, para a individualização do tratamento ortodôntico, uma vez que permite a verificação individual do posicionamento dentário, e por ser um exame que nãoapresenta distorção. Contudo, essas mensurações das angulações dentárias, medidas feitas em modelose em TC, devem ser feitas com ressalvas, porque esses são métodos relativamente novos e que ainda necessitam de mais estudos que comprovem sua eficácia e, principalmente, confiabilidade. Ressalta-se, ainda, o alto custo financeiro dos exames tomográficos, além dos riscos inerentes à radiação.

A amostra do presente estudo foi selecionada apartir de consultórios particulares de ortodontistas e foi composta por 57 pacientes no estágio de dentição permanente.

Com o objetivo de se obter uma análise comparativada angulação dos caninos permanentes entre indivíduos portadores de má oclusão de Classe I ede Classe III, a amostra foi dividida em dois grupos. O primeiro grupo (Classe I) foi composto por 33 indivíduos portadores de má oclusão de Classe I com problemas ortodônticos incipientes, ou seja, casos onde o tratamento ortodôntico estaria limitado a pequenos movimentos (fechamento de diastemas, suaves apinhamentos, mordida cruzada posterior de molares, entre outros), sem tratamento ortodôntico prévio. O segundo grupo foi composto por 24 indivíduos com má oclusão de Classe III. Pacientes com perdas dentárias, agenesias, biprotrusão, síndromes e apinhamento severo ou moderado foram excluídos da amostra, em razão desses fatores poderem modificar a angulação dos caninos.

As angulações obtidas dos caninos, em ambos os grupos, foram analisadas comparando-se as medidas de cada canino no grupo Classe I com seu análogodo grupo Classe III. Em síntese, os caninos superiores apresentaram suas coroas clínicas voltadas para mesial em ambos os grupos, de forma semelhante; embora suavemente mais acentuada nos indivíduos Classe III. Já os caninos inferiores do grupo Classe I apresentaram suas coroas clínicas voltadas para mesial, enquanto os dogrupo Classe III mostraram-se verticalizados ou com suas coroas clínicas voltadas para distal.

As médias das angulações encontradas sustentam a ideia de inserir compensações na angulação das canaletas dos braquetes dos caninos; entretanto, a análise da dispersão dos dados obtidos revelou umdesvio-padrão alto e grande amplitude total (valores máximo e mínimo), que justificaram uma individualização das angulações dos caninos antes mesmo da instalação do aparelho. Agrande variabilidade observada pode ser justificada, entre outros fatores, pela heterogeneidade na morfologiada coroa do canino. Clinicamente, pode-se definir que braquetes com prescrições compensatórias podem ser utilizados, porém o ortodontista deveria individualizar o caso clínico, aumentando-as ou mesmo reduzindo-as de acordo com a necessidade desses. Se houver necessidade de mensurar as angulações dentárias presentes originalmente, acredita-se que o método descrito apresente confiabilidade suficiente para justificar o seu uso.

CONCLUSÃO

Pelos dados obtidos, pode-se concluir que:

1. O método utilizado mostrou excelente replicabilidade, sem diferença entre as duas medidas realizadas, com erro casual relativamente pequeno.

2. Há diferença estatisticamente significativa na angulação dos caninos permanentes entre indivíduos com más oclusões de Classe I e de Classe III, principalmente para os caninos inferiores. As diferenças encontradas acompanham as compensações naturais da inclinação dos incisivos na Classe III, amplamente descritas na literatura.


Link do artigo na integra via Scielo:

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