ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA: Avaliação microbiológica da contaminação residual em diferentes tipos de alicates ortodônticos após desinfecção com álcool 70%

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Avaliação microbiológica da contaminação residual em diferentes tipos de alicates ortodônticos após desinfecção com álcool 70%




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Alessandre Cícero Venturelli, Fernando César Torres, Renata Rodrigues de Almeida-Pedrin, Renato Rodrigues de Almeida, Marcio Rodrigues de Almeida, Fernando Pedrin Carvalho Ferreira; da Faculdade de Odontologia de Lins – Unimep e do curso de Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp. Verifica, por meio de análises microbiológicas, a contaminação de diferentes tipos de alicates ortodônticos (139, Weingart, removedor de bandas e de corte distal) após a lavagem com água e sabão e fricção de álcool 70% por um minuto.

O controle da transmissão de doenças infecciosas é uma preocupação antiga dos seres humanos, principalmente nas profissões da área da saúde, como a Odontologia10. Há algumas décadas, pouca importância era dada à esterilização de materiais e à utilização de barreiras contra a contaminação – como luvas, máscaras, gorros e óculos. Porém, a partir das décadas de 1970 e 1980, com o aumento significativo de casos de hepatite B e, mais tarde, dos casos de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), foram obtidos novos conhecimentos sobre microrganismos patogênicos e sobre o meio de propagação de doenças infecciosas, reconhecendo-se a importância e a necessidade de maiores cuidados no controle da contaminação, tanto de profissionais como de pacientes.

A Ortodontia tem se caracterizado pela alta rotatividade de pacientes, bem como pela multiplicidade de veículos transmissores de doenças (equipamentos, instrumental, mãos do operador, etc.), gerando sérios riscos de infecção ao clínico, aos auxiliares e aos pacientes. Por trabalhar com pacientes de baixa idade, quando comparada a outras especialidades, muitos ortodontistas são relapsos no controle de infecção cruzada, por pensarem que seus pacientes fazem parte de um grupo de baixo risco. Esse fato vem contribuindo para que a Ortodontia se classifique como a segunda especialidade com mais casos de profissionais contaminados com hepatite B, perdendo somente para a Cirurgia Bucomaxilofacial. Esse quadro somente será revertido com uma maior preocupação em relação ao ciclo de infecção cruzada no consultório, adotando medidas de esterilização e desinfecção adequadas para cada tipo de material, local ou procedimento realizado. Para isso, talvez sejam necessários não somente investimentos em instrumentais e equipamentos, mas principalmente informação aos clínicos e auxiliares e conscientização de que a biossegurança é o fator mais importante no dia a dia clínico, uma vez que a Odontologia e, mais especificamente, a Ortodontia existem para solucionar problemas e não para causar doenças.

Na área da saúde, não há nenhuma atividade que apresente um quadro tão heterogêneo de detalhes, no que diz respeito ao controle de infecção, quanto a Odontologia, o que pode dificultar a tomada de decisões em relação aos cuidados na esterilização ou desinfecção de superfícies ou de
instrumentos. As dificuldades poderão ser eliminadas ou extremamente reduzidas se o profissional, independentemente de sua especialidade, distinguir o ambiente de atuação e o risco potencial de transmissão de doenças dos instrumentos e dos materiais utilizados na clínica.

Enquanto a esterilização é um processo no qual se consegue a total eliminação das formas de vida microbiana, a desinfecção é um processo de curta duração, que pode variar de alguns segundos a 30 minutos. No caso da desinfecção de alto nível, se obtém a destruição de todos os microrganismos, com exceção dos esporos. Fala-se em desinfecção de nível intermediário quando se consegue o extermínio da maioria dos microrganismos, o que inclui o bacilo da tuberculose, mas não todos os tipos de vírus nem esporos. Quando poucos microrganismos são eliminados por meio dos agentes químicos, nomeia-se de desinfecção de baixo nível.

Os álcoois etílico e isopropílico são considerados desinfetantes de nível intermediário, empregados tanto em superfícies e instrumentos como na pele, como antisséptico. O efeito do álcool é a desnaturação de proteínas e a dissolução de gorduras, o que possibilita a atividade antimicrobiana, destruindo, por exemplo, a membrana do Mycobacterium tuberculosis e do HSV (vírus da herpes simples). Esse desinfetante não é efetivo na presença de matéria orgânica que, aderida à superfície do material, funciona como uma barreira mecânica à ação do álcool sobre os microrganismos. As soluções de álcool são germicidas, porém sua ação é imediata, com praticamente nenhuma ação residual. Quando associado ao iodo (0,5 a 1,0% de iodo livre), o álcool pode apresentar um maior efeito residual e bactericida, mas essas soluções tornam-se irritantes para a pele. Com a associação de glicerina a 2%, pode-se evitar o ressecamento da pele e a rápida evaporação do álcool. A atividade antimicrobiana dos álcoois está condicionada à sua concentração em peso ou em volume em relação à água, que deve ser de 70% (P/P) ou 77% (V/V), respectivamente. Nessa concentração, o álcool não desidrata a parede celular do microrganismo, podendo penetrar no seu interior, onde irá desnaturar proteínas, fato que não ocorre quando se utiliza o álcool acima ou abaixo da concentração ideal.

Com base nos resultados dos experimentos do presente estudo e no levantamento bibliográfico realizado, foi possível concluir que:

1) A desinfecção feita por meio de lavagem com água e sabão, seguida de aplicação (fricção) de álcool 70% (P/P) por um minuto, não demonstrou resultados satisfatórios para os alicates ortodônticos 139, Weingart, removedor de bandas e de corte distal, observando-se uma grande quantidade e variedade de bactérias após a realização desse procedimento.

2) O uso do álcool, em instrumentos ortodônticos que entram em contato direto ou indireto com a saliva e/ou o sangue, como único meio de promover o controle de infecção cruzada na clínica é contraindicado, devendo-se obrigatoriamente esterilizar tais materiais, preferencialmente em autoclave.


Link do artigo na integra via Scielo:

2 comentários:

  1. Muito bom este artigo,
    aí esta uma das grandes diferenças de quem faz a ortodontia seria com estas clinicas pops, onde com a alta rotatividade de pacientes faz com q nao haja tempo,, e custo operacional seja inviavel para os fins destas clinicas,,, e quem paga o pato é o paciente q se submete sem saber,,,

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  2. Arrrrgh. Dá medo, não?
    Se em orto é assim, imagine na manicure, esteticista, cabelereiro... deixa pra lá.

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