Prof. Dr. Márcio Figueiredo
Neste artigo de 2008, publicado pela revista Dental Press, pelos autores Márcio Antonio de Figueiredo, Claudia Tebet Peyres de Figueiredo, Masato Nobuyasu, Gervásio Yoshio Gondo, Danilo Furquim Siqueira; da UMESP - São Paulos, UNOESTE - Presidente Prudente e APCD de Ourinhos - São Paulo. Que mostra todas as aplicações do arco utilidade de Ricketts, vai desde sua construção, modificações e aplicações em diferentes situações clinicas.
O arco utilidade é parte integrante da mecânica ortodôntica utilizada na “Ciência Bioprogressiva” de Ricketts. A palavra “Bioprogressiva” surgiu da união do prefixo “Bio” - abreviação de Biologia e se refere ao cuidado que a mecânica ortodôntica empregada tem com os processos biológicos envolvidos em um tratamento ortodôntico - e “Progressiva”, por refletir a seqüência lógica e progressiva utilizada na montagem dos aparelhos e conseqüente movimentação dos dentes.
Dentro desta ciência, o arco utilidade é, provavelmente, o dispositivo mais conhecido e utilizado, sendo confeccionado com o fio quadrado 0,016” x 0,016” Elgiloy azul. Segundo Miksic, Slaj e Mestrovic, este fio é composto por uma liga de cromo-cobalto, o que facilita a confecção de dobras. Este arco, em conjunto com braquetes de canaleta 0,018” x 0,030”, começou a ser utilizado por Ricketts no tratamento ortodôntico/ortopédico facial em 1960.
De acordo com McNamara Jr., o arco utilidade é eficiente para intruir e, especialmente, efetivo para retruir ou avançar os incisivos superiores e inferiores. O mesmo autor salientou que uma das dificuldades para o tratamento das discrepâncias ântero-posteriores (particularmente a má oclusão do tipo Classe II de Angle) é a interferência vertical anterior. Nestes casos, o arco utilidade pode ser utilizado para intruir os incisivos, favorecendo a correção ortopédica, ou mesmo cirúrgica, da má oclusão. Segundo Sellke a correção do trespasse vertical antes do horizontal é um importante princípio do tratamento bioprogressivo.
Este conceito está baseado na convicção de que uma mordida profunda pode “travar” e impedir o relacionamento normal entre a maxila e a mandíbula, durante o crescimento. Baseando-se nesta idéia, o arco utiliutilidade, juntamente com o quadrihélice de Ricketts, pode ser utilizado no início do tratamento para “destravar” a oclusão, fornecendo condições morfológicas adequadas para que a mandíbula possa se desenvolver normalmente. Entretanto, algumas vezes, pode ser utilizado também nos estágios tardios do tratamento.
A técnica Bioprogressiva está baseada no fato de que o arco dentário é constituído por setores distintos, cada um dos quais possui características próprias com relação aos aspectos anatômicos, funcionais e estéticos. O setor dos incisivos constitui-se de dentes com raízes unirradiculares e de pequeno diâmetro, cujas bordas incisais tornam estes dentes aptos para realizar a função de corte dos alimentos, além de cumprirem um importante papel estético e fonético. Já os molares são multirradiculares, com a face oclusal destinada à trituração dos alimentos e com o diâmetro das raízes maior que o dos incisivos.
Segundo Ricketts, a força de erupção dos dentes é estimada em, aproximadamente, 0,2g a 0,3g por mm2, ou seja, 1/5 da quantidade de força comumente empregada para movimentar um dente. Teoricamente, o dobro desta força (0,4g a 0,6g/mm2) impede a erupção dos dentes e o triplo desta força (0,6g a 0,9 g/mm2) intrui os dentes.
Otto, Anholm e Engel demonstraram ser possível, tanto em crianças como em adultos, o movimento de intrusão dos incisivos com a técnica Bioprogressiva, utilizando-se o arco utilidade. Os pesquisadores não encontraram nenhuma correlação entre idade, maturação esquelética, padrão facial e intrusão, sendo que, neste estudo, a maior intrusão obtida foi de 5,5mm em uma paciente do gênero feminino com 32 anos de idade.
O arco utilidade promove a intrusão dos incisivos por meio de um sistema de alavanca que produz uma pressão leve e contínua, em torno de 60 a 80 gramas para os quatro incisivos inferiores. Visto que força por unidade de área é definida como pressão, a terapia Bioprogressiva advoga a utilização de 100 gramas de força por centímetro quadrado de raiz exposta ao movimento, sendo que esta força pode ser multiplicada por dois quando a ancoragem cortical for o objetivo da mecânica, ou dividida por 2 quando os dentes serão movimentados pela cortical óssea. Isto significa que a força aplicada varia, dependendo do tamanho da raiz envolvida no movimento e da direção do movimento planejado.
A análise da superfície radicular determina os valores utilizados para o movimento dos dentes no sentido ântero-posterior. Quando um dente do setor anterior é movimentado neste sentido, a superfície radicular que enfrentará o movimento é a vestibular ou a palatina. Entretanto, quando o mesmo movimento se realiza no segmento posterior, as superfícies radiculares envolvidas são a mesial e a distal.
O arco utilidade é confeccionado com fio Elgiloy azul 0,016” x 0,016” fornecido pelos fabricantes em formato de varetas. Esta liga foi desenvolvida pela Elgin Watch Company e contém 40% de cobalto, 20% de cromo, 15% de níquel, 15,8% de ferro, 7% de molibdênio, 2% de manganês, 0,16% de carbono e 0,04% de berílio. Introduzida no mercado pela Rocky Mountain Orthodontics (Denver, Colorado, EUA), esta liga é fabricada em quatro têmperas, diferenciadas uma das outras pelas cores azul, amarelo, verde e vermelho em suas extremidades. Para confecção do arco utilidade, o fio indicado é o de ponta azul 0,016” x 0,016” sem tratamento térmico. Este fio tem a capacidade de gerar 2.000 gramas de força por milímetro quadrado, suficiente para movimentar um molar. Esta força pode ser diminuída, aumentando-se a distância do fio por meio de braços de alavanca. O limite elástico proporcional do fio Elgiloy azul 0,016” x 0,016” a uma distância de 25mm é de 80 gramas, e a 30mm uma dobra permanente não ocorre até ultrapassar 70 gramas.
Os tipos mais comuns de arco utilidade são: arco utilidade básico, arco utilidade de retração e arco utilidade de avanço. O arco utilidade básico pode ser utilizado para manter espaço, ganhar espaço (verticalização de molares e expansão dentoalveolar), ancorar os molares e intruir os incisivos.
O arco utilidade é um aparelho extremamente versátil, com inúmeras possibilidades clínicas, sendo capaz de intruir, extruir, avançar ou retrair os incisivos superiores e inferiores; manter, diminuir ou aumentar o espaço no arco inferior; além de ancorar os molares inferiores. Entretanto, uma das maiores vantagens de seu uso consiste na correção de más oclusões do tipo Classe II, com mordida profunda e em fase de crescimento. Esta vantagem não está relacionada com o efeito mecânico de intrusão, mas com a resposta biológica que esta mecânica pode acarretar no crescimento facial.
Link do Artigo na Integra via Scielo:
Link da Clinica do Dr. Márcio Antonio Figueiredo:
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