ORTODONTIA CONTEMPORÂNEA

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A influência da respiração oral na oclusão dentária: uma visão geral da literatura






Neste artigo de 2008, publicado pela ACTA ORL/Técnicas em Otorrinolaringologia, pela autora Edna Namiko Izuka, cirurgiã-dentista do Hospital da Cruz Vermelha - Filial do Paraná; Verifica os aspectos diagnósticos e preventivos da má oclusão dentária secundária à respiração oral na Literatura científica.

Os primeiros relatos sobre os efeitos nocivos da respiração oral datam de 1861, quando um artista americano, George Catlin, chamando a atenção para este problema, publica uma matéria intitulada “Má respiração ou respiração da vida”. Já no início do século XX, alguns autores acreditavam que a característica estrutural e funcional da dentadura humana era produto de um sistema complexo de inter-relações entre estruturas que incluíam os maxilares, os processos alveolares, arcos dentários, músculos, lábios, bochechas, língua, vias aéreas nasais, palato e garganta. Segundo Angle, a respiração oral poderia vir a ocasionar deformações estruturais, se estas alterações estivessem ocorrendo num período importante de crescimento. Até 1950, acreditava-se que o crescimento do esqueleto craniofacial era geneticamente pré-determinado. “Um padrão de crescimento imutável semelhante aos ossos longos governa o crescimento do crânio e da face”.

Os tecidos moles craniofaciais por sua vez, são então reconhecidos como um fator decisivo no estabelecimento da oclusão dentária; notando-se que indivíduos portadores de obstrução nasal, que apresentam uma posição inferiorizada da mandíbula, tendiam a apresentar uma respiração oral compensatória, impedindo a língua de ocupar sua posição normal na abóboda palatina, dando margem ao desenvolvimento de uma má oclusão.

Nesta mesma época, estudos em pacientes respiradores orais, mostram resultados controversos, indicando que a obstrução da função respiratória pode estar relacionada a vários tipos faciais, e que, nem todo paciente respirador oral apresenta o fácies denominado “adenoideano”, e vice versa.

Além da obstrução das vias aéreas superiores por diferentes motivos, o tipo físico, como por exemplo, a predisposição anatômica dos indivíduos longelíneos, começa a ser valorizada com fator determinante de respiração oral.

Estudo sobre o padrão facial em respiradores orais, portadores de hipertrofia da tonsila palatina, quando comparado com o grupo controle de indivíduos respiradores nasais demonstrou que, os respiradores orais apresentavam aumento da altura facial total e da altura antero-inferior, uma menor profundidade sagital da nasofaringe e posição inferiorizada da língua. Após a remoção cirúrgica da adenóide houve uma normalização da profundidade sagital da nasofaringe e da inclinação do plano mandibular em relação à maxila. Segundo os autores, a manutenção crônica da boca aberta teria tornado possível o crescimento da mandíbula para baixo e para trás. Esta teoria foi também compartilhada por outros estudiosos que acreditavam e postulavam que quando as narinas ficam totalmente bloqueadas, a cabeça giraria para trás cerca de 5°, aumentando a separação dos maxilares. Estes se separam muito mais pela elevação da maxila devido à inclinação para trás da cabeça, do que pela depressão da mandíbula. Quando a obstrução é removida, a postura da cabeça retorna à sua posição original.

Em estudo da oclusão versus respiração em crianças respiradoras orais e respiradoras nasais, observou-se um posicionamento inferior e anterior da língua, maior inclinação do plano mandibular e um aumento da altura facial antero-inferior. A posição da língua passa também ser considerada um fator importante no diagnóstico de certas condições clínicas como na mordida cruzada dentoalveolar anterior, na biprotrusão alvéolo dental e no prognatismo mandibular. Alguns autores observaram que estas condições clínicas poderiam estar associadas com a posição da língua para frente ou com tonsilas palatinas hipertróficas.

Segundo Silva Filho et. al., nos respiradores nasais a dimensão do espaço aéreo nasofaringeano não influencia na morfologia craniofacial, porém, a partir do momento em que a obstrução mecânica compromete a função respiratória, o espaço passa a guardar uma relação mais estreita com a mesma. Por meio de registros cefalométricos, Behlfelt et. al., analisaram as diferenças da postura de cabeça, do osso hióide e da língua, entre crianças com e sem tonsilas palatinas hipertrofiadas, levando-se em consideração a postura natural da cabeça. Comparados os resultados dos dois grupos, constataram que crianças portadoras de tonsilas palatinashipertrofiadas apresentavam postura estendida da cabeça, posição mais baixa do osso hióide e postura mais anterior e inferior da língua em relação ao grupo controle. Concluíram que o padrão postural das crianças com tonsilas palatinas hipertrofiadas provavelmente estaria associado à necessidade de manter a passagem aérea orofaringeana livre.

Em estudos com indivíduos com face normal e face longa, os resultados demonstraram que os indivíduos com face longa apresentavam incidência significantemente maior de respiração oral que os indivíduos com face normal. Por outro lado, há evidências de que o modo de respiração pode nem sempre estar relacionado à capacidade das vias aéreas, ou seja, vias aéreas nasais impedidas invariavelmente resultam em alguma respiração bucal, o inverso nem sempre se aplica. Outros estudos realizados com um grande número de crianças portadoras de obstrução grave das vias aéreas superiores têm demonstrado alta freqüência de mordida cruzada posterior tanto na dentição decídua como na permanente, particularmente naquelas com tonsilas palatinas
hipertrofiadas.

Com a finalidade de analisar a postura corporal em crianças respiradoras orais, pesquisadores concluíram que alterações posturais ocorrem igualmente em ambos os sexos, e que para crianças de até oito anos de idade, não se evidenciam diferenças estatísticas, mas, porém, a partir dos 8 anos de idade o numero de alterações é estatisticamente maior nos respiradores orais do que nos respiradores nasais. Crianças respiradoras nasais apresentam uma maior harmonia corporal do que crianças respiradoras orais.

Em relação a alterações comportamentais, embora alguns resultados sejam controversos, acredita-se que respiradores orais, particularmente entre aqueles em que distúrbios do sono estão associados, apresentam um índice elevado de comprometimento da atenção e memória.

Embora ainda controversa em muitos aspectos, particularmente no que se refere às características genéticas e ou adquiridas das más oclusões, a literatura é praticamente consensual ao considerar os fatores etiológicos mais importantes da respiração oral, incluem a obstrução mecânica do nariz, da faringe e os hábitos orais. E que quando a obstrução mecânica é resolvida, e o hábito persiste, a má oclusão e a propensão às alterações funcionais são observadas na maioria dos casos.

Os problemas ortodônticos mais freqüentemente observados no respirador oral são a mordida cruzada, palato ogival, protrusão da maxila, retrusão da mandíbula e altura facial anterior aumentada. O diagnóstico e a intervenção precoce das alterações respiratórias podem evitar transtornos futuros para o complexo craniofacial.

A abordagem do respirador oral deve ser multidisciplinar, necessitando de avaliação de vários profissionais da saúde, incluindo otorrinolaringologista, ortodontista, fonoaudióloga, fisioterapeuta, odontopedriatra e alergista entre outros.


Link do artigo na integra via ACTA orl:

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Osteonecrose dos Maxilares Associada ao Uso de Bisfosfonatos: Revisão da Literatura e Apresentação de um Caso Clínico.





Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial, pelos autores Leandro Napier de Souza, Ana Cristina Rodrigues Antunes de Souza, Vanessa Flávia Arruda Mari, Ana Paula Nogueira Borges, Rodrigo López Alvarenga; da Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Brasil; Este estudo teve como objetivo realizar uma revisao de literatura sobre o assunto, levando em consideração os fatores etiologicos, os mecanismos de ação destes medicamentos, seus efeitos adversos e possiveis tratamentos, alem de descrever um caso clinico.



A osteonecrose dos maxilares (ONM) e uma alteracao patologica ossea que pode ser ocasionada pelo uso crônico de medicamentos da classe dos bisfosfonatos. Trata-se de uma complicação bucal relativamente desconhecida e que tem chamado a atencao dos profissionais nos ultimos anos. Essa alteração tem sido associada a uma grande variedade de agentes causais em pacientes oncologicos, incluindo quimioterapia, radioterapia, uso de corticoides, alem do uso dos bisfosfonatos. Pamidronato e Zoledronato sao bisfosfonatos nitrogenados muito utilizados no tratamento oncologico, que se caracterizam pelo acumulo e permanencia na matriz ossea por longos periodos, sendo este fato crucial para o desenvolvimento da osteonecrose dos maxilares. Varios medicamentos da classe dos bisfosfonatos estao disponiveis no mercado, sendo classificados por suas gerações.


Essas drogas sao geralmente bem toleradas e associadas a poucos efeitos adversos quando administradas por um periodo curto de tempo. Nos casos de uso cronico, diversas complicações renais e hepaticas, alem de osteonecrose dos maxilares, tem sido observadas. A osteonecrose, quando instalada, e de dificil tratamento e frequentemente persiste por um longo periodo. Actualmente o tratamento e focado no controle da progressão do quadro e procura limitar os efeitos da infeccao secundaria, por meio de terapia antibiotica prolongada, limpeza da area com antissepticos topicos (Clorexidina 0,12%), e pequenas intervenções em regime de ambulatorio de debridamento local. Inumeros sao os tratamentos propostos na literatura, como por exemplo: uso de Plasma Rico em Plaquetas (PRP) autologo, oxigenoterapia hiperbarica, laser de baixa potência, antibioticoterapia e uso de cortióides. Esses tratamentos visam a uma melhora definitiva desta complicação, porem nao existem relatos na literatura que comprovem a sua eficacia absoluta.


Os bisfosfonatos sao farmacos inibidores da reabsorção ossea que sao utilizados no tratamento do mieloma multiplo, de metastase ossea e de hipercalcemia maligna, aumentando a sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes. Esses medicamentos tambem sao utilizados na prevenção e tratamento de osteoporose e de algumas enfermidades osseas, como a doença de Paget.


Os bisfosfonatos afetam a atividade metabolica do ossonos niveis teciduais, celulares e moleculares. No nivel do tecido, os marcadores bioquimicos demonstraram uma redução no turnover osseo e na reabsorção. A alteracao na formacao do osso e ditada pelo grau em que o turnover osseo e inibido, ja que os dois processos sao ligados. Os bisfosfonatos agem no nivel celular, tendo como objetivo os osteoclastos e interrompendo sua fução de varias formas. Eles inibem o recrutamento de osteoclasto, reduzindo- o, alem de inibirem tambem sua atividade na superficie do osso, afetando a reabsorção ossea. Em termos moleculares, estudos sugerem que a funcao osteoclastica e alterada pela interação dos bisfosfonatos com um receptor da superficie da celula ou uma enzima intracelular. Essas drogas ligam-se avidamente as lacunas de absorção ossea e, por nao serem metabolizadas, altas concentrações sao mantidas nos ossos por longos periodos, sendo internalizadas pelos osteoclastos e inibindo a reabsorção ossea. O mecanismo exato de inibição dos osteoclastos ainda nao foi completamente elucidado, mas o bisfosfonato parece ter tambem um efeito antiangiogenico.



Durie et al., em 2005, realizaram uma pesquisa em 812 pacientes com mieloma multiplo, identificando 46 individuos (5,7%) com osteonecrose mandibular, e 46 com suspeita de osteonecrose, perfazendo um total de 92 pacientes (11,4%), determinando que o risco de desenvolver osteonecrose e tempo-dependente, sendo mais significativo a partir dos 12 meses (P= 0,03), aumentando depois dos 36 meses (P= 0,004) de uso. Este estudo observou tambem que a utilizacao de predinisona nestes pacientes representa um risco imediato e nao tempo-dependente.


Uma importante serie de casos encontrada na literatura foi publicada por Ruggiero et al., em 2004, que relataram 63 casos de osteonecrose maxilar associada ao uso de bisfosfonatos. A doenca de base mais frequente foi de mieloma multiplo (28 pacientes), seguido de cancer de mama (21 pacientes), cancer de prostata (03 pacientes) e outras doencas malignas (05 pacientes). Sete pacientes, tambem, faziam uso de bisfosfonatos para tratamento de osteoporose, sem terem tido diagnostico de doencas malignas ou terem passado por quimioterapia. Neste estudo, o autor relata que 39 pacientes tiveram osteonecrose na mandibula e 23 na maxila, sendo que um paciente apresentou osteonecrose tanto na maxila como na mandibula. Outro fato importante e que 54 pacientes relataram historia de extração dentaria recente no local da necrose, enquanto que 9 pacientes apresentaram exposição ossea espontanea.



Os bisfosfonatos vem sendo cada vez mais utilizados, devido ao numero crescente de indicacoes para tratamento de diversas condições, mostrando-se eficazes e eficientes.



Diversos sao os estudos realizados acerca do diagnostico e de possiveis tratamentos da osteonecrose. Estudos como o de Ruggiero et al., Marx e Bagan et al., mostram o uso comum de Pamidronato e Zoledronato, em pacientes com necrose ossea dos maxilares. O factor desencadeador de tal enfermidade e ainda discutido na literatura pelo fato de o mecanismo de ação destes medicamentos nas estruturas osseas nao estar bem explicado.



O menor suprimento sanguineo da mandibula, associado a diminuicao do aporte sanguineo provocada pela ação antiangiogenica dos bisfosfonatos, poderia explicar a predileção pela mandibula no desenvolvimento da osteonecrose.



Segundo as fontes consultadas seria prudente considerar todos os pacientes que utilizem bisfosfonatos como de risco para o desenvolvimento de osteonecrose, sendo que a magnitude do risco variaria com o consumo individual do medicamento, fatores do paciente e historico de tratamento odontologico. A casuistica actual sugere que pacientes usuarios de bisfosfonatos intravenosos tem risco maior de desenvolver a osteonecrose do que os que os utilizam pela via oral, mas os que fazem uso por via oral nao devem ser descartados como de risco ao desenvolvimento de osteonecrose.



De acordo com a literatura os autores concluiram que:


• O uso cronico de medicamentos da classe dos bisfosfonatos pode levar a osteonecrose dos maxilares, de causa ainda desconhecida;


• Qualquer intervencao odontologica ossea pode desencadear o processo;


• Não ha relatos de tratamentos eficazes para a osteonecrose;


• Não ha evidencias de prevalencia entre os sexos;


• Conforme regulamentação das agencias de saude, os fabricantes destes medicamentos disponibilizam, na bula, informações quanto a necessidade de acompanhamento odontologico previo ao tratamento com bisfosfonatos;


• Os profissionais devem estar cientes das complicacoes advindas do uso destes medicamentos, bem como orientar e acompanhar seus pacientes para que possiveis complicaçõs possam ser aceitas e administradas.





Link do artigo na integraa via SPEMD:



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A trajetória da Ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO Parte 03








Neste artigo de 2009, Publicado pela Revista Ortodontia SPO; pelo autor Adilson Fuzo; Mostra que o boom experimentado pela Ortodontia nos anos 60 continuou ecoando na década seguinte, com mais instituições de ensino criando cursos de pós-graduação, novas instituições sendo criadas e os ortodontistas paulistas consolidando sua posição no cenário nacional. A década de 70 foi muito importante também para a SPO que adquiriu sua sede na Rua do Livramento e lançou seu curso de especialização.



A década de 1960 proporcionou um vigoroso salto qualitativo para a Ortodontia brasileira. Uma contribuição significativa para esse desenvolvimento veio do Estado de São Paulo, onde existiam dois fortes núcleos de ensino da especialidade em cursos de pós-graduação, sendo um deles na capital, na Universidade São Paulo (USP), coordenado por Sebastião Interlandi a partir de 1966; e outro no interior do Estado, na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), sob o comando de Manuel Carlos Müller de Araújo, a partir de 1962.


Paralelamente, o núcleo de ortodontistas do Rio de Janeiro seguia com seu trabalho na formação de profissionais na área, num trabalho encabeçado – no campo científico – por José Édimo Soares Martins, na coordenação do curso de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e – no campo associativo – pela Sociedade Brasileira de Ortodontia (SBO).


Ao final desta década, no entanto, a mobilização que se mais destacava era em torno das atividades da Sociedade Paulista de Ortodontia (SPO). A dedicação e o empenho de alguns membros contribuíram decisivamente para o aperfeiçoamento de vários profissionais nesse período (tanto de São Paulo como de outros estados) ao promover a vinda de grandes nomes da Ortodontia internacional para o Brasil, como os norteamericanos Earl W. Renfroe, Ernest H. Hixon, Allan G. Brodie e Quentin M. Ringenberg, os argentinos Roman Santini e Hector A. Tarasido, o uruguaio Carlos Garcia Novaes, entre outros.


A presença desses expoentes no país acontecia não só por meio de cursos avulsos, mas também nos primeiros eventos de grande porte realizados pela SPO, como o I Congresso Paulista de Ortodontia, realizado em 1968. A edição inaugural do evento, que acontece até hoje foi um verdadeiro marco para a especialidade, contando com a participação de mais de 800 cirurgiões-dentistas de todos os cantos do país. Neste mesmo ano, a SPO lançou a primeira publicação científica da área no Brasil, a revista Ortodontia.

A área de Educação permaneceu em franca expansão durante esse período, com cada vez mais instituições se dedicando ao ensino da Ortodontia – fenômeno esse que se multiplicaria brutalmente, sobretudo a partir da década de 1990. Em 1973, um novo importante centro de ensino da especialidade se formou no interior paulista, na Faculdade de Odontologia de Bauru, com a coordenação de Décio Rodrigues Martins. Instituições particulares levaram a Ortodontia também para outros pontos da capital, como fez em 1976 a Organização Santamarense de Educação e Cultura (Osec) –, hoje Universidade Santo Amaro.


Para coordenar o curso, os donos da Osec convidaram Flávio Vellini Ferreira que, diferentemente da maioria dos ortodontistas, havia conduzido sua carreira acadêmica com foco maior nos aspectos biológicos ligados à Ortodontia.



Também no ano de 1976, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) criou seu curso de especialização, o que significou mais um importante passo para o desenvolvimento da Ortodontia, sendo a primeira instituição a romper os limites do eixo Rio-São Paulo no ensino da especialidade. Vale lembrar que, ao longo dessa década, as demais instituições pioneiras no ensino da Ortodontia conseguiram elevar seus cursos para o nível de strictu-sensu.


A alta frequência de alunos de outros estados em cursos no Rio de Janeiro e em São Paulo eram um claro indício de que a Ortodontia estava se esparramando pelo território nacional rapidamente. Mais do que isso, a criação da Sociedade Paranaense de Ortodontia, em 1972, e da Sociedade Gaúcha de Ortodontia, em 1975, demonstrava que esses ortodontistas estavam se organizando fortemente em seus estados de origem e consolidando a prática ortodôntica nessas regiões. O intercâmbio entre a SPO e os colegas de cidades distantes era mais intenso durante os eventos como o III Congresso Paulista de Ortodontia em 1975, já durante o início da gestão de Osny Corrêa.



A Ortodontia havia definitivamente deixado de ser uma atividade marginal na Odontologia, como acontecia nos anos 1950. Um reflexo desse novo momento foi o lançamento em 1977 da segunda obra da especialidade em língua portuguesa, "Ortodontia: bases para a iniciação", de autoria de Sebastião Interlandi. Até a chegada deste título, a única opção de literatura nacional que o ortodontista brasileiro dispunha era o "Ortodontia", de Carlos Alves da Costa, lançado em 1939.


Junto com a especialidade, cresceu também o mercado brasileiro de materiais ortodônticos. Nas primeiras décadas, quase tudo que era usado pelos ortodontistas vinha do exterior. A maior responsável pela importação dessa quantidade imensa de itens era uma argentina que vivia no Brasil chamada Pilar Ostivar. Além de se notabilizar como a criadora da Brasil Orthodontic, a única empresa autorizada a representar a marca Unitek no Brasil, Pilar também deu uma importantíssima contribuição para a Odontologia nacional ao ajudar na implantação da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD.


Para completar o cenário, Júlio Wilson Vigorito assumiu a presidência da SPO em 1979. Quais seriam os novos desafios que ele encontrará na próxima década? Como o curso de especialização da entidade vai reagir aos novos tempos? O que acontecerá com a indústria nacional diante de uma economia cada vez mais instável?





Link do artigo na integra via OrtodontiaSPO:
http://www.ortociencia.com.br/revista_ortodontiaspo/PDF_V42_03/ortoinformacao/v42_n3_ortoinformacao01.pdf



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Influência do pré-estiramento nas forças geradas por elásticos ortodônticos em cadeia




Neste artigo de 2008, publicado pela Revista Ciência Odontologica Brasileira, pelas autoras Mariana Martins e MARTINS; Tatiana Araújo de LIMA; Cláudia Maria de Oliveira SOARES; da Disciplina de Ortodontia da Universidade Veiga de Almeida e da Ortodontia da FO-UERJ- niversidade Estadual do Rio de Janeiro– Rio de Janeiro – RJ - Brasil. Avalia a influência dos rocedimentos de estiramento de forma única e múltipla nas velocidades de 5,0 mm/minuto e 0,0 mm/minuto no grau de degradação da força gerada por elásticos em cadeia na cor cinza da marca comercial American Orthodontics.

Os elásticos em cadeia apresentam-se em três configurações básicas: cadeia curta, média e longa,
sendo utilizados com muita freqüência nos procedimentos clínicos ortodônticos referentes à correção de giro-versões, retração de caninos, correção do desvio da linha média e no fechamento de espaços em geral. (ANDREASEN e BISHARA, 1970; BATY et al, 1994; HUGET e PATRICK, 1990; ROCK et al, 198; SANTANA, 1977). Os elásticos além de serem práticos e eficientes, possuem baixo custo, menor tempo de cadeira para o paciente, podem ser facilmente e rapidamente colocados, estão disponíveis em uma grande variedade de cores e são confortáveis para o paciente (MATTA e CHEVITARESE, 1997; ROCK et al, 1985; TALOUMIS et al, 1997; YOUNG e SANDRIK, 1979).

Contudo, os elásticos em cadeia são elastômeros e portanto possuem também como característica a capacidade de retornar rapidamente às suas dimensões originais após sofrerem deformação substancial (BATY et al, 1994; JOSELL et al, 1997; MORTON, 1995), apresentando como principal desvantagem uma rápida degradação de força gerada devido à diminuição da tensão, resultando na perda gradual da sua efetividade e dificultando a transmissão de uma força constante à dentição.

A degradação da força gerada por esses materiais pode sofrer influência de diversos fatores como
a adição de corantes, a configuração das cadeias, a velocidade e quantidade de ativação, (BERTL et al, 1986; FERRITER et al, 1990; TALOUMIS et al, 1997), a exposição à luz, ao ar, à água, ao ozônio, às enzimas, aos diferentes tipos de alimentos, aos produtos químicos de higiene, à ação física da mastigação, às alterações no pH salivar e a possibilidade de pré-estiramento antes do seu uso (BATY et al, 1994; BISHARA et al, 1970; FERRITER et al, 1990; FRAUNHOFER et al, 1992; HUGET e PATRICK, 1990; JEFFERIES et al, 1991; JOSSEL et al, 1997; KUSTER et al, 1986; MATTA et al, 1997; SANTANA, 1977; STEVENSON e KUSY, 1994).

O procedimento de pré-estiramento dos elásticos em cadeia antes de sua aplicação clínica é um recurso mecânico utilizado para evitar uma queda brusca na força liberada pelo elástico após sua fixação nos elementos dentários a serem movimentados. Os elásticos podem ser estirados em diferentes velocidades (lenta ou rápida), com variação da distenção em relação ao seu comprimento inicial (50%, 75% ou 100% do seu comprimento inicial), havendo também inúmeros meios nos quais os elásticos estirados são mantidos antes da sua utilização (em saliva artificial, no ar e em água destilada), (BATY et al, 1994; STEVENSON e KUSY, 1994; YOUNG e SANDRICK, 1979; WONG, 1976).

O conhecimento sobre as alterações nas propriedades mecânicas dos elásticos em cadeia sob influência dos procedimentos de pré-estiramento, é de grande interesse para o emprego desses materiais, uma vez que são importantes auxiliares na execução do tratamento ortodôntico, além de ser um material amplamente utilizado na prática clínica, sendo extremamente desejável que, durante o seu uso, continuem exercendo uma força clinicamente adequada.


Conclusão do autores com a pesuisa foi:

• Não foram constatadas diferenças estatisticamente significativas entre as formas única (uma vez) e múltipla (cinco vezes), assim como entre as velocidades lenta (5,0 mm/minuto) e rápida (50,0 mm/minuto) de pré-estiramento dos elásticos em cadeia.

• Foram constatadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos controle (C) – elásticos estirados em máquina de ensaio de tração e experimental (E) – elásticos estirados com pinça de separação, com maior degradação de força para o grupo controle.

• Os procedimentos de estiramento dos elásticos em cadeia, realizados através do método manual com pinça de separação mostraram-se efetivos, visto que a força liberada após os procedimentos de pré-estiramento tornou-se constante e nos níveis aceitáveis clinicamente para a movimentação dentária. Em termos práticos, o procedimento de pré-estiramento poderá ser realizado de forma única (uma vez), manual e na velocidade rápida (50,0mm/minuto).


Link do artigo na integra via FOSJ UNESP:

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Análise morfológica do arco superior de portadores de fissura labiopalatal submetidos a diferentes protocolos de expansão rápida maxilar


Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Maíra Massuia de Souza, Luciane Macedo de Menezes, Susana Maria Deon Rizzatto, Gustavo da Luz Vieira, Ricardo Damo Meneguzzi; da disciplina de Ortodontia na Faculdade de Odontologia da PUCRS - Rio Grande do Sul. Analisam, por meio de modelos de gesso, as dimensões do arco superior de 15 portadores de fissura transforame incisivo unilateral, com deficiências transversal e anteroposterior da maxila, submetidos à expansão com dois diferentes protocolos de ativação.

O fissurado transforame incisivo unilateral apresenta um crescimento maxilar diferente do indivíduo não-fissurado, em todos os sentidos, sendo que, ao nascimento, as dimensões anteroposterior e transversal da maxila se encontram aumentadas. Por volta dos três anos, as relações anteroposteriores e vertical apresentam-se próximas do normal e, a partir dessa idade até os seis anos, passa a existir uma tendência à retrusão maxilar. Uma característica desses pacientes é o perfil côncavo, resultado do retrognatismo da maxila devido à falta de crescimento anteroposterior da mesma, levando ao prognatismo mandibular relativo ou à pseudo-Classe III. Dessa forma, há alta incidência de mordida cruzada anterior, evidente na transição entre as dentaduras decídua e mista. O desenvolvimento de mordida aberta também é comum, devido à deficiência no crescimento vertical da maxila.

Após a cirurgia do lábio, realizada nos primeiros meses de vida, esses pacientes frequentemente apresentam subdesenvolvimento maxilar, envolvendo as dimensões sagital, vertical e transversal, principalmente devido à presença de cintas musculares labiais firmes e tensas, bem como de tecidos cicatriciais no palato que influenciam negativamente o crescimento, além de acarretar grande prejuízo estético e funcional.

As alterações faciais mais frequentes em quase todos os tipos de fenda, provavelmente resultantes dos atos cirúrgicos, são: retrusão da face média, distorção das estruturas alveolares e alterações na postura da mandíbula. A Ortodontia é indispensável no tratamento das sequelas maxilares provocadas pelas cirurgias, cuja gravidade está diretamente relacionada ao grau de traumatismo provocado pelas mesmas.

A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia sem assistência ortodôntica subsequente chega à vida adulta com uma situação alterada dos seguimentos maxilares, ocasionando o desenvolvimento de más oclusões de difícil tratamento e prognóstico ruim. As mordidas cruzadas posteriores são frequentes, apresentando vários graus de severidade, envolvendo desde um único dente até o arco todo, com tendência ao agravamento durante a dentadura permanente16. A retrusão da maxila associada à mordida cruzada anterior e lateral é um achado muito comum em pacientes portadores de fissura, apesar de todo o acompanhamento e cuidados despendidos durante o tratamento.

As intervenções ortodônticas interceptativas em pacientes sob programas de reabilitação devem ser executadas após os seis anos de idade, pois nessa fase os mesmos apresentam as distâncias transversais anteriores (intercaninos) quase sempre diminuídas, acarretando o estreitamento na região anterior da maxila – prejudicial ao posicionamento da língua e, consecutivamente, ao tratamento fonoaudiológico executado nessa época. Além disso, é nessa fase que o crescimento da maxila começa a se manifestar com mais intensidade e os pacientes se mostram mais conscientes, exigentes e colaboradores com o tratamento.

Apesar de promover melhora na relação transversal dos arcos, a expansão do arco superior não reflete nenhum resultado no perfil de pacientes com fissura transforame unilateral. Dessa forma, a protracão maxilar é recomendada no tratamento da retrusão da face média, sendo instituída precocemente para tirar proveito do fato das suturas circum-maxilares estarem em crescimento ativo.

A instalação de aparelho fixo com parafuso expansor promove a expansão segmentada nos portadores de fissuras completas por meio do alargamento da fissura, sendo o efeito ortopédico resultante do posicionamento lateral dos segmentos palatinos. No indivíduo fissurado, a expansão não é seguida de formação óssea ao nível da sutura palatina mediana, devendo-se manter uma contenção após a remoção do aparelho até que um enxerto ósseo seja realizado na região.

Liou e Tsai, em 2005, propuseram um novo protocolo de ativações para a ERM, utilizando um expansor com duas dobradiças para expandir e girar os processos maxilares com centro de rotação na região da tuberosidade. O protocolo consiste em expansões e contrações alternadas semanalmente, com ativações de uma volta completa por dia, durante sete a nove semanas. Segundo os autores, os procedimentos alternados promovem a desarticulação das suturas circum-maxilares sem expandir excessivamente a maxila, sendo indicados principalmente para pacientes que não necessitam de um grande ganho transversal. Em seu estudo, dez pacientes portadores de fissura labiopalatal foram submetidos a esse protocolo durante nove semanas, sendo comparados a um grupo de 16 pacientes, também fissurados, onde foi utilizado o protocolo convencional de Haas por uma semana. No grupo submetido ao novo protocolo, foi verificado maior deslocamento anterior da maxila.

No presente estudo, quando foram comparadas as medidas transversais iniciais e finais, todas apresentaram aumento significativo, o que demonstra a efetividade dos dois protocolos de expansão instituídos. Contudo, ao se efetuar a comparação intergrupos quanto ao ganho transversal, não se encontrou diferença estatisticamente significativa. Vieira também não encontrou diferenças significativas quanto ao avanço da maxila nessa mesma amostra.


Link do artigo na integra via Scielo:

domingo, 31 de janeiro de 2010

Pensamento da Semana



"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."



Mário Quintana

1906 - 1994


Link sobre o autor:



quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

EZ Space Maintainer





Este recuperador de espaço, criado pelo Dr. Enis Güray de Istanbul na Turquia e comercializado pela Ortho Technology, promete resultados rápidos, em sessões curtas e sem moldagens. Dando desta forma, conforto ao paciente e agilidade ao tratamento. O artefado possui pontos de colagem com telas (parecidos com a base de braquetes) e funciona com molas de Niti.

O que o fabricante diz:

Tratamento em sessão única !

Não Precisa de moldagens !

NEW Ortho Technology, o EZ Space Maintainer é mais rentável e menos moroso que os aparelhos mantenedores de espaço tradicionais. Não requer nenhuma moldagem, nenhuma montagem de laboratório, e pode ser diretamente montado durante uma visita ao consultorio. O EZ Space Maintainer é mais estético e higiênico do que os aparelhos mantenedor do espaço tradicional. Simples e fácil de usar, o EZ Space Maintainer está disponível como um aparelho fixo, possui fácil manutenção da dimensão mésio-distal de qualquer dente perdido, decíduos ou como um dispositivo ajustável usando a bobina de NiTi incluído para recuperar algum espaço.

Características e Benefícios:

• Simples e fácil de usar
• Aparelho com montagem direta
• Menor tempo de cadeira, menor despesa
• Sem taxas de laboratório
• Mais higienico, maior estética
• Correção e mantenedor com opções ajustáveis de espaço
• Cor codificada e marcas de identificação por quadrante

Link da Ortho Technology:


Link do catalogo do produto:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Avaliação comparativa entre agradabilidade facial e análise subjetiva do Padrão Facial




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, Pelos autores Olívia Morihisa, Liliana Ávila Maltagliati; da Pós-graduação em Odontologia, área de concentração Ortodontia, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp); Mostra um estudo de duas análises subjetivas faciais utilizadas para o diagnóstico ortodôntico, avaliação da agradabilidade facial e definição de Padrão Facial, e verificar a associação existente entre elas.

O diagnóstico na Ortodontia já foi guiado pela oclusão como sendo o principal objetivo do tratamento ortodôntico e se acreditava que uma ótima oclusão levaria, consequentemente, a uma estética facial ideal. Durante quase todo o século XX persistiu a ideia de oclusão em primeiro plano nos objetivos do tratamento, talvez impulsionada pela cefalometria, que guiava o tratamento por meio do padrão de normalidade dentoesquelética.

Contrariamente, Tweed e Stoner foram unânimes em afirmar que a melhor estética é meta tão ou mais importante para o ortodontista do que a oclusão. Nesse período, iniciou-se o estudo de algumas normas para tecidos moles nas análises cefalométricas dentoesqueléticas. Um dos precursores dessa tendência foi Burstone, que concluiu que a análise esquelética e dentária poderia levar à falsa interpretação do tecido mole, fato que foi reiterado por Legan e Burstone.

Brandão, Domínguez-Rodríguez e Capelozza Filho citaram que medidas cefalométricas nem sempre concordam com a análise clínica, já que essas visões bidimensionais do esqueleto seriam reflexos imperfeitos do que existe clinicamente.

Fernández-Riveiro et al., em 2003, lembraram que as análises faciais informam sobre a morfologia do perfil, bem como sua relação com o tecido ósseo subjacente. Se estendermos essa conclusão para as demais etnias existentes, verificaremos valores de normalidade próprios para cada uma, assim como para diferentes raças, variando inclusive o perfil médio de acordo com épocas diferentes11. Estudaram valores médios para os tecidos moles do perfil facial que pudessem ser utilizados como um guia a se alcançar ao final do tratamento estético e concluíram que os valores obtidos na amostra só poderiam ser comparados aos de indivíduos com as mesmas características e seguindo a mesma técnica fotogramétrica.

Ao observar que muitos indivíduos nunca apresentariam, ao final do tratamento, os valores normais cefalométricos, estudos passaram a ser realizados enfatizando o equilíbrio individual da face. Assim, surgiram as Análises Faciais de Proporção, onde se inclui a Análise de Proporção Áurea Facial e, a denominada Análise Facial Subjetiva.

Para Landgraf et al., a Análise Facial sistematiza o diagnóstico ortodôntico e se associa à análise cefalométrica para oferecer ao paciente uma oclusão funcional com a melhor harmonia facial possível.

A maior parte dos estudos referentes às análises faciais subjetivas utilizou escalas como método para quantificar a estética facial. Dentre elas, três tipos são mais citados na literatura: a escala visual análoga, a de referência e a escala de ranking. A primeira consiste em classificar a estética facial apresentada em cada fotografia em uma escala de 0 a 100, por exemplo, representada por uma linha horizontal dividida em 10 secções iguais. O segundo tipo consiste em se determinar uma fotografia de referência e dar um valor para ela, sendo que as demais fotografias receberiam
notas maiores ou menores. A terceira forma consiste em apresentar todas as fotografias para os avaliadores e esses colocarem as mesmas em ordem, do menos para o mais estético.

Conclusão

Com base nos resultados obtidos e de acordo com a metodologia empregada, conclui-se que não houve associação entre a avaliação subjetiva da agradabilidade facial em norma frontal e o Padrão Facial em ambos os grupos de avaliadores; porém, em norma lateral houve associação fortemente positiva.


Link do artigo na integra via Scielo:

sábado, 23 de janeiro de 2010

Biocompatibilidade dos materiais em Ortodontia: mito ou realidade?











Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelas autoras Luciane Macedo de Menezes, Maria Perpétua Mota Freitas, Tatiana Siqueira Gonçalves; da Faculdade de Odontologia da PUCRS - Rio Grande do Sul. Aborda este tema que as vezes passa despercebido pelo profissional, mas de muita relevância para o conforto e segurança do paciente. Um belo artigo.

É notável, nos últimos anos, uma crescente preocupação com a biocompatibilidade dos materiais odontológicos. Não se sabe se esse fato está associado a um aumento real na frequência de alergia aos materiais ou a um maior cuidado com os efeitos colaterais provocados pelos mesmos. Como nenhum material dentário é absolutamente seguro, sua seleção deve ser baseada na garantia de que os benefícios se sobreporão aos riscos biológicos.

Na maioria dos casos em Ortodontia, as reações de hipersensibilidade apresentam manifestações locais, podendo, eventualmente, causar desordens sistêmicas. Com isso, a preocupação em relação à segurança e saúde geral do paciente tem sido objeto de estudo na literatura, uma vez que grande parte dos aparelhos e dispositivos utilizados na especialidade é composta por elementos químicos relacionados a alterações no sistema imune.

A realização da anamnese – um dos elementos essenciais de diagnóstico em Ortodontia – deve fazer parte da rotina da primeira consulta. A anamnese deve conter um breve histórico da saúde geral do paciente, assim como um bom questionário, que abranja também perguntas relacionadas à ocorrência de alergias e reações de hipersensibilidade. Assim, o primeiro passo é incluir, na consulta inicial, algumas perguntas relacionadas a alergias: “Você apresenta/apresentou algum tipo de reação alérgica a medicamentos, metais, borracha, resinas,ou outro produto ou material?”.

Tendo o paciente relatado algum tipo de alergia, o segundo passo seria encaminhá-lo a um médico (alergista ou dermatologista) para avaliação mais aprofundada. O médico poderá requerer a realização de um Teste de Contato, para confirmação das respostas alérgicas. Esses testes têm como objetivo avaliar a resposta da pele frente a diferentes substâncias. Porém, questiona-se a validade dos mesmos, pela possibilidade de apresentarem “falsos positivos” e de sensibilizarem o paciente.

Dentre os materiais mais frequentemente associados às reações alérgicas podem ser citados os elásticos derivados do látex, resinas acrílicas e compostas, bem como as diversas ligas metálicaspresentes nos acessórios e fios empregados nos tratamentos ortodônticos.

Metais

Os metais são considerados as toxinas mais antigas. Inicialmente, havia grande preocupação com
os efeitos agudos determinados pelos íons metálicos, entretanto, esses efeitos são considerados incomuns, devido aos padrões ambientais e ocupacionais que regem as regulamentações legais. Dessa forma, tem aumentado o interesse acerca das alterações crônicas ou de longo prazo, visto que a relação causa-efeito nem sempre é imediatamente perceptível, podendo ter efeitos subclínicos.

Embora as interações entre uma liga metálica e os tecidos possam ocorrer de diversas formas, a liberação de elementos da liga na cavidade bucal é o foco primário dos estudos, visto que efeitos biológicos adversos – como alergias e inflamação – têm sido atribuídos a esse processo, em virtude da liberação iônica advinda dos aparelhos ortodônticos poder, hipoteticamente, aumentar a concentração dos íons no corpo, acima da concentração de ingestão ou exposição aos metais pelo meio ambiente. Outro ponto de fundamental importância na avaliação do emprego de metais pesados na Ortodontia é o seu potencial genotóxico, citotóxico e carcinogênico, uma vez que elementos metálicos como o níquel e o cromo apresentam resultados positivos relacionados à toxicidade genética.

Um dos pontos determinantes da biocompatibilidade das ligas metálicas em Odontologia é a resistência à corrosão. A corrosão representa uma perda de metal ou sua conversão num óxido. No ambiente úmido da cavidade bucal, todas as ligas sofrem corrosão, pelo menos em alguma extensão. A saliva é um ambiente ativo de constituintes orgânicos, íons e não-eletrólitos que são arrastados constantemente contra os anéis, braquetes e arcos. As diferenças galvânicas entre a saliva e os metais podem dar início a reações eletroquímicas, gerando a corrosão galvânica, que geralmente se manifesta pelo processo corrosivo acelerado dos metais menos nobres (ânodos). O aparelho ortodôntico representa um exemplo típico, cuja corrosão pode causar sérias implicações clínicas que variam da perda de dimensão – resultando em forças menores aplicadas aos dentes – à falha (quebra) do aparelho em regiões de tensão. Além disso, a produção de possíveis produtos tóxicos da corrosão dos aparelhos e sua absorção pelos tecidos circundantes é indesejável.

Na literatura, é grande a diversidade de trabalhos com enfoque na liberação de íons metálicos de braquetes ortodônticos – principalmente ferro, cromo e níquel, que representam os principais produtos da corrosão do aço inoxidável. Entretanto, de acordo com o International Register of Potentially Toxic Chemical of United Nations Environment Program, outros íons metálicos, presentes na solda de prata utilizada na aparelhagem ortodôntica – como o cádmio, o cobre e o zinco – podem ser liberados na cavidade bucal e já são considerados produtos químicos potencialmente perigosos, sendo incluídos na lista de substâncias e processos considerados de grande risco para a vida humana. Em estudo sobre a liberação iônica e citotoxicidade da solda de prata, Freitas observou alta toxicidade desse material para fibroblastos, denotando alterações na adesão, proliferação e crescimento celular, bem como liberação significativa dos íons constituintes da solda de prata, com concentrações elevadas imediatamente após a instalação do aparelho, em ordem decrescente, de cobre, prata, zinco e cádmio, representando risco de absorção e retenção desses íons pelo organismo humano.

Em decorrência da liberação iônica, a utilização de aparelhos ortodônticos tem sido associada a algumas reações de hipersensibilidade. Dentre os metais, o níquel tem sido considerado uma das causas mais comuns da dermatite de contato. Infelizmente, a associação com o níquel faz parte da vida moderna e, devido à onipresença do mesmo, as reações a esse metal apareceram com muito mais frequência na população em geral, e não são mais exclusivas dos funcionários da indústria, como era observado anteriormente. O cromo também está relacionado a reações de hipersensibilidade, sendo apontado como a segunda causa mais frequente de dermatite de contato. Em média, 8% da população é sensível a esse metal.

Na Alemanha, o Departamento Federal de Saúde recomendou que não se utilizem acessórios contendo níquel em Ortodontia. Assim, os fabricantes estão produzindo braquetes livres de níquel, utilizando novas ligas. O titânio, apesar de ser muitas vezes mais caro do que o aço inoxidável, vem sendo utilizado para confecção de acessórios. Os braquetes de titânio puro apresentam maior tolerância tecidual, maior biocompatibilidade e resistência, quando comparados aos de aço inoxidável. Os braquetes denominados “nickel-free”, geralmente compostos por cromo e cobalto, também podem ser empregados como material alternativo para pacientes com sensibilidade ao aço. Nesse contexto, não se pode deixar de ressaltar que os braquetes estéticos, sejam eles de cerâmica ou policarbonato, também servem como alternativa para pacientes com alergia ao níquel. Está disponível no mercado brasileiro um fio ortodôntico estético totalmente livre de metais – pois é um polímero – e, da mesma forma, serve como uma alternativa, nos estágios iniciais de tratamento, para pacientes com alergia ao níquel. É de extrema importância ressaltar também que o uso de acessórios reciclados não é recomendado, uma vez que esse tipo de material apresenta uma maior liberação de íons para o ambiente bucal, quando comparada à dos braquetes novos.

Látex

É alta a prevalência da hipersensibilidade ao látex, em virtude da sua ampla utilização em produtos manufaturados contendo borracha. De acordo com Weiss e Hirshman, o advento da vulcanização – por Charles Goodyear, em 1839 – levou à aplicação do látex em mais de 40.000 itens, tais como: produtos odontológicos (luvas, máscaras, borrachas de isolamento e acessórios ortodônticos), equipamentos médicos (luvas, catéteres, tubos, implantes e próteses), luvas de uso doméstico, balões e bolas, preservativos, adesivos, chupetas, carpetes, calçados, capachos e equipamentos esportivos.

Na literatura, diversos são os relatos de reações ao látex. Em geral, aparecem em jovens, sendo muito frequentes nos adultos em profissões de risco, como Odontologia e outras profissões da área de Saúde, com maior prevalência em mulheres. Segundo Fisher, 7% dos profissionais (médicos, enfermeiras e dentistas) manifestam uma reação alérgica tardia (dermatite de contato), enquanto 3% mostram uma reação imediata. Devido ao grande número de relatos de reações adversas ao látex, em 1993 foi regulamentado que os rótulos de produtos médicos contendo látex devem indicar sua presença.

O látex é basicamente composto de moléculas grandes, que não parecem provocar alergias, sendo o poli-isopreno o principal constituinte da borracha, além de proteínas, que perfazem um total de 2 a 3% do produto final. Por outro lado, substâncias de baixo peso molecular, como aditivos, antioxidantes e vulcanizadores – comumente utilizados na manufatura da borracha e responsáveis pelas propriedades finais desejadas – são, muitas vezes, responsáveis pela sensibilização. Esses aditivos são frequentemente liberados da borracha, principalmente luvas e botas, em ambiente morno e úmido.

Resinas acrílicas

As resinas acrílicas são, também, amplamente utilizadas na Ortodontia, nos aparelhos removíveis, de contenção e/ou aparelhos fixos auxiliares. Desde a década de 60, existem relatos de hipersensibilidade às resinas acrílicas, sendo, na grande maioria dos casos, associados à presença de um alto conteúdo de monômero de metilmetacrilato residual. Em função disso, diversos autores procuraram quantificar o conteúdo desse monômero residual. Além do metilmetacrilato, podem-se citar também outros componentes de baixo peso molecular – tais como formaldeído, peróxido de benzoíla e plastificantes como dibutil-ftalato – que podem ser considerados fatores desencadeadores das reações de hipersensibilidade.

Quando as reações são localizadas, pode-se utilizar medicamentos contendo anti-inflamatórios esteroides, para alívio das reações inflamatórias. Entretanto, o conforto efetivo só é alcançado após remoção do fator etiológico, o que muitas vezes significa buscar materiais alternativos, para evitar o contato com o material desencadeador da reação de hipersensibilidade. Algumas possibilidades em Ortodontia seriam utilizar aparelhos confeccionados somente com metais ou, nos casos de aparelhos de contenção, substituir por contenções coladas. Além disso, estão disponíveis no mercado internacional as resinas acrílicas fotopolimerizáveis, dificilmente encontradas no mercado brasileiro.

Resinas compostas

A presença de monômeros não polimerizados, oriundos das resinas compostas utilizadas durante os procedimentos de colagem ortodôntica, também pode ser considerada fator etiológico no aumento da frequência das reações imunológicas adversas em Ortodontia. Assim como ocorre com as resinas acrílicas, a reação de polimerização das resinas compostas pode permanecer incompleta por tempo indefinido, logo, moléculas de monômero livre de trietileno glicol metacrilato (TEGDMA) ou 2-hidroxi-etil-metacrilato (HEMA) podem ser diretamente responsáveis pelas reações de citotoxicidade e hipersensibilidade ocasionadas por esse material. Nesse aspecto, pode-se ressaltar o contato dos tecidos gengivais com os primers de colagem, compostos essencialmente por monômeros não-polimerizados, que pode levar a um aspecto inflamatório gengival. Vande Vannet e Hanssens comprovaram que os primers apresentam alta toxicidade quando comparados às resinas de colagem de acessórios ortodônticos previamente polimerizadas.

Diante do exposto, conclui-se que é de fundamental importância o conhecimento por parte do ortodontista sobre a composição dos materiais que utiliza na sua rotina clínica, bem como a possibilidade dos mesmos ocasionarem reações a si mesmo e aos seus pacientes. Frente à ocorrência de uma reação alérgica, o profissional deve ter condições de dar o devido suporte e encaminhamento a tal situação, trabalhando em conjunto com áreas associadas, especialmente a Dermatologia, oferecendo ao paciente a melhor solução. Nesse aspecto, é de grande valia a proposição de materiais alternativos, priorizando a saúde geral do paciente.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A trajetória da Ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO Parte 02




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista de OrtodontiaSPO; pelo Autor Adilson Fuzo; Mostra que as sementes deixadas pelos pioneiros da Ortodontia começaram a germinar e a especialidade experimenta o seu primeiro grande salto nos anos 1960, com a criação da SPO, do Congresso Paulista de Ortodontia e da revista OrtodontiaSPO. Na área da educação, o curso da UFRJ deslancha, enquanto em São Paulo são criadas as especializações da FOP e da USP.

Praticar a Ortodontia no Brasil era praticamente uma aventura na primeira metade do século 20. Não existiam escolas nacionais, a literatura sobre o assunto era rara e os instrumentos e equipamentos eram importados com dificuldade. Os maiores responsáveis pela mudança desse cenário foram José Édimo Soares Martins e Arthur do Prado Dantas, que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da especialidade no Rio de Janeiro e em São Paulo. Graças a eles, dois importantes núcleos de ortodontistas se consolidaram em cada uma dessas cidades.

Sendo assim, a década de 1950 marcou o início de uma nova etapa na Ortodontia brasileira, com a criação dos primeiros cursos regularmente estabelecidos e a criação das duas entidades que serviriam como eixo para o desenvolvimento da especialidade, a Sociedade Brasileira de Ortodontia (SBO) e a Sociedade Paulista de Ortodontia (SPO).

Antes da criação da SPO, que aconteceria em 1959, a vertente paulista dos profissionais da área e interessados na especialidade se agrupava no Departamento de Ortodontia da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD). Foi esse mesmo grupo que organizou a I Semana Paulista de Ortodontia, com palestrantes internacionais e com grande repercussão para a época.

Desta forma, o trabalho do Departamento de Ortodontia da APCD na década de 1950 se destacava no cenário associativista nacional. Isso não impedia, porém, que os paulistas sonhassem mais alto. "Desde 1954, 1955, já havia alguns colegas idealistas que falavam em fundar uma entidade voltada unicamente para a Ortodontia", revela Paulo Affonso de Freitas, que dirigia o departamento naquela época.

Depois de tanto tempo ensaiando, finalmente aconteceu a primeira reunião que definiria a criação da SPO em 4 de dezembro de 1959, com a presença de 22 jovens ortodontistas e cirurgiões-dentistas em fase de especialização. Esse encontro, assim como as demais reuniões desse primeiro período da entidade, aconteciam num espaço emprestado pela Associação dos Professores de Educação Física (Apef ), na rua Cesário Mota Júnior, no bairro da Consolação. Quem presidiu a entidade na fase inicial foi Oswaldo A. Mesquita Sampáio.

Apesar do entusiasmo dos jovens ortodontistas, a SPO atuou muito pouco no seu primeiro ano de funcionamento. A crescente divergência entre as lideranças tornou a entidade apática. As reuniões eram cada vez mais raras e vazias. A situação se desenrolava de tal maneira que se cogitou até mesmo a dissolução da SPO. A salvação veio numa memorável assembleia em outubro de 1962 em que se decidiu, praticamente, recriar a entidade, destituindo a antiga diretoria e trazendo sangue novo para o comando da associação.

A aproximação da SPO com a região de Piracicaba, no interior paulista, se deu justamente por iniciativa de Müller de Araújo, que atuava como professor na FOP e havia acabado de instituir, em 1962, o curso de especialização em Ortodontia na instituição. Vale lembrar que, naquela época, a FOP ainda não estava ligada à Unicamp, como acontece hoje.

O curso da FOP ocupou uma importante lacuna no ensino da Ortodontia no Estado de São Paulo, já que não havia nenhuma outra opção de especialização na região desde o fechamento do curso de Arthur do Prado Dantas na APCD, que funcionou entre os anos de 1951 e 1955.

Enquanto o ensino de Ortodontia se estruturava em São Paulo, o curso de especialização do Rio de Janeiro já se desenvolvia em solo firme desde 1959 sob o comando de José Édimo Soares Martins na Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil (hoje denominada Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Devemos ressaltar que, antes da UFRJ, um curso de especialização em Ortodontia era oferecido pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) entre os anos de 1956 e 1958, por Tobias Kant Rothier.

A capital paulista só veio a ter um curso universitário de especialização a partir de 1966, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). O passo decisivo para que isso acontecesse, no entanto, foi dado bem antes, quando o jovem promissor Sebastião Interlandi foi o escolhido para receber uma bolsa de estudos na Universidade de Sant Louis, no Missouri (EUA), entre os anos de 1961 e 1963.

No início da década de 1960, Dantas estava no final de sua carreira e procurava por alguém que pudesse sucedê-lo no ensino de Ortodontia na USP e a tal bolsa de estudos ia justamente servir a esse propósito. Reynaldo Baracchini atuava como assistente de Dantas na USP e, por ser o discípulo mais experiente de Dantas, era o herdeiro natural da bolsa. Ele conta, porém, que procurou Dantas certo dia para lhe avisar que pretendia se desligar da USP por motivos pessoais e, consequentemente, desistiria da bolsa de estudos. Para ocupar sua vaga como assistente de Dantas, Baracchini indicou Interlandi que, por mérito, acabou ganhando o curso de aprimoramento nos EUA. "Ele trabalhava como meu assistente no Serviço Dentário Escolar.

Logo percebi que ele era muito inteligente e esforçado. Ele estudou, se preparou, gostava de lecionar. Fico feliz em ter cedido a minha oportunidade a alguém que merecia", comenta Baracchini. "Depois de tantos anos, eu posso dizer que talvez eu não tivesse ido tão longe como ele foi."

Alguns meses depois que voltou para o Brasil, Interlandi criou o curso de especialização da USP, o que foi fundamental para a evolução da Ortodontia em todo o Estado de São Paulo, bem como a contribuição acadêmica de Interlandi na formação de outros professores. O reflexo desse desenvolvimento pôde ser visto na década de 1970, quando outros importantes núcleos de especialização em Ortodontia se formaram.

Diante de tal cenário, a SPO preparava-se para realizar um evento que se tornaria um marco na história brasileira da especialidade, o I Congresso Paulista de Ortodontia, marcado para acontecer entre os dias 28 de janeiro e 3 de fevereiro de 1968 na Cidade Universitária. Entre os participantes do evento que se destacaram, estavam Allan G. Brodie (Universidade de Illinois, EUA), Ernest H. Hixon (Universidade de Oregon, EUA), Quentin M. Rigenberg (Universidade de Saint Louis, EUA) e Hector A. Tarasido (Argentina), além dos palestrantes nacionais, que estavam cada vez mais preparados.

Faltando poucos dias para o Congresso, no momento em que todos corriam atarefados, uma notícia triste surpreendeu toda comunidade nacional de ortodontistas: Arthur do Prado Dantas havia falecido.

O Congresso Paulista de Ortodontia de 1968 foi um sucesso, bem como o lançamento da revista OrtodontiaSPO. Acabava naquele momento mais um capítulo da história da Ortodontia nacional, ao mesmo tempo que se anunciava a chegada de novos personagens, novos desafios e novas revoluções.


Link do artigo na integra via Revista SPO:

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pensamento da Semana


"É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfo e glória, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que não gozam muito e nem sofrem muito, porque vivem na penumbra cinzenta que não conhece nem vitória nem derrota."


Theodore Roosevelt

1858 ---- 1919


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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A trajetória da Ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO - Parte 01









Neste artigo de 2009, publicado pela Revista de OrtodontiaSPO, pelo autor Adilson Fuzo, no qual mostra que o ensino estruturado da Ortodontia chegou ao Brasil por dois caminhos distintos. Um deles, que desembarcou em São Paulo, veio pelas mãosde Arthur do Prado Dantas. O outro, chegou ao Rio de Janeiro, com José Édimo Soares Martins. Antes deles, a práticada Ortodontia no Brasil era restrita a um grupo pequeno de cirurgiões-dentistas muito determinados.

O livro mais antigo que descreve tratamentos ortodônticos é "Lè Chirurgien Dentiste ou Traitè des Dents", publicado em 1723 pelo francês Pierre Fauchard. Desde aquela época e até muito tempo depois, as técnicas empregadas eram bastante rudimentares, muitas vezes aplicadas apenas aos dentes anteriores. Foi só no final do século 19 que a Ortodontia deu um passo decisivo em direção ao aprimoramento científico com o americano Edward Hartley Angle.

Como era de se esperar, todo conhecimento produzido naquela época nos EUA e na Europa demorava muito para chegar ao Brasil. Dessa forma, a Ortodontia só era praticada aqui por uns poucos cirurgiões-dentistas brasileiros que tiveram vontade de aço, espírito de aventura e recursos suficientes para enfrentar uma viagem de estudos ao exterior durante vários meses.

Conforme o ortodontista Oswaldo Vasconcellos Villella relata em seu livro, "A história da Ortodontia no Brasil", um dos pioneiros nessa difícil empreitada e, provavelmente, o primeiro profissional a praticar a Ortodontia como especialidade no Brasil, foi Carlos de Almeida Lustosa. Já no início da década de 1920, Lustosa fez as primeiras tentativas com pacientes no Rio de Janeiro usando o ribbon arch, tendo como base apenas a descrição das técnicas de Angle publicadas em revistas científicas americanas. Tomado por uma série de dúvidas em relação aos resultados que obteve, Lustosa decidiu que viajaria aos EUA para buscar diretamente na fonte as informações de que precisava.

Apesar do entusiasmo de Lustosa, Angle recusou inicialmente a inscrição do carioca na Angle Scholl of Orthodontia, alegando que lhe faltava conhecimento em matérias básicas, como Anatomia, Embriologia e Histologia. Para ser aceito, Lustosa foi obrigado a cursar a pós-graduação em Ortodontia da Universidade da Pensilvânia e a fazer um estágio no consultório de Harvey Stallard, um proeminente ortodontista americano.

Em 1923, Lustosa desembarcou no Rio de Janeiro com a tão almejada especialização na bagagem. No ano seguinte, tornou-se também o autor do primeiro livro brasileiro totalmente voltado para o tema, "A Orthodontia e a Creança", destinado a pais e clínicos gerais. Alguns anos depois, Lustosa convidou Kant Rothier para ser seu assistente, a quem passou seus conhecimentos. Rothier, por sua vez, também percorreu a rota de aperfeiçoamento nos EUA e, posteriormente, difundiu o que aprendeu entre diversos seguidores.

Em 1925, o presidente Arthur Bernardes determinou que a cadeira de "Ortodontia e Prótese dos Maxilares" constasse no currículo oficial dos cursos de graduação em Odontologia. Em 1931, quando Getúlio Vargas estava no poder, a disciplina foi reestruturada e rebatizada para "Ortodontia e Odontopediatria". O conhecimento transmitido durante o curso de graduação, no entanto, ainda era muito vago e insuficiente para que o aluno pudesse abraçar a Ortodontia sem antes fazer um curso adicional. Como nenhuma instituição oferecia esses cursos no Brasil durante as décadas de 1920, 1930 ou 1940, a especialidade continuou relegada a um grupo muito restrito de profissionais.

A atuação de dois grandes professores foi decisiva para mudar esse quadro. Arthur do Prado Dantas, de São Paulo, e José Édimo Soares Martins, do Rio de Janeiro. Foi a partir do trabalho destes dois mestres que uma importante geração de aspirantes se arregimentou na década de 1950, permitindo que a Ortodontia se estruturasse como especialidade e consolidasse sua presença no Brasil.

Dantas foi o coordenador do primeiro curso de especialização em Ortodontia de que se tem notícia no Brasil. O curso, com duração de dois anos, foi ministrado entre 1951 e 1955 por iniciativa do Departamento de Ortodontia da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), sendo que duas turmas se formaram.

A clínica do antigo Serviço Dentário Escolar, onde Dantas era responsável pela coordenação da equipe de ortodontistas, também foi um importante núcleo de preparação dessa geração. Para acompanhar o dia-a-dia das atividades na clínica, Dantas recrutou Reynaldo Baracchini. Ele, por sua vez, trouxe Jairo Corrêa, Hênio Heiras e Sebastião Interlandi para atuar como assistentes. A prática na clínica deu a esse grupo os subsídios necessários para que suas carreiras deslanchassem nos anos 1950 e 1960, sendo que Interlandi foi o que mais se destacou na área da educação, coordenando mais tarde o curso de especialização em Ortodontia da USP. Alguns anos mais tarde, este grupo de seguidores de Dantas ajudou a fundar a Sociedade Paulista de Ortodontia.

O primeiro curso de especialização montado no Rio de Janeiro aconteceu em 1956, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), pela coordenação de Tobias Kant Rothier, filho do antigo assistente de Carlos Lustosa, Kant Rothier. Durante três anos, formaram-se três turmas, com cerca de dez alunos cada. As aulas eram ministradas no próprio consultório, já que naquela época a PUC não dispunha da infraestrutura necessária.

A maior estrela do ensino de Ortodontia do Rio de Janeiro, no entanto, foi o mineiro Soares Martins, que desde 1937 lecionava na Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil (hoje denominada Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Se valendo de uma bolsa de estudos oferecida pela W.K. Kellog Foundation, Soares Martins viajou para os EUA em 1950, onde se pós-graduou na Universidade de Washington.

Neste mesmo período em que o ensino da Ortodontia se estruturava no Rio de Janeiro, formou-se a Sociedade Brasileira de Ortodontia, em 1955. Ela se formou a partir da união dos três grupos que praticavam Ortodontia no Rio de Janeiro, liderados por Kant Rothier, Newton de Castro e Soares Martins. A primeira presidência foi dada a Moacyr Rutowisch, considerado um ponto de equilíbrio para a entidade, já que não pertencia a grupo nenhum. A SBO teve também como fundadores Armando Werneck de Carvalho, Tobias Kant Rothier, Lineu Marcondes da Silva, Delfino Lustosa, Spencer Rothier e Odilon Frossard de Souza.

Vale lembrar que, na década de 1940, uma entidade denominada Sociedade Brasileira de Ortodontia foi criada no Rio de Janeiro. No entanto, essa entidade teve suas atividades rapidamente encerradas, uma vez que nem todos os sócios praticavam a Ortodontia e havia grande divergência de interesses em seu quadro social.

Dois eventos científicos da Ortodontia de São Paulo marcaram a segunda metade dos anos 1950. O primeiro deles foi a I Semana Paulista de Ortodontia, em 1957, promovida pelo Departamento de Ortodontia da APCD e presidida por Paulo Affonso de Freitas. A presença de ministradores argentinos, como Raul Otaño Antier, Fernando Archain e José Mayoral, além da participação de renomados especialistas de todo o País, transformaram o evento num símbolo da evolução científica que a Ortodontia experimentaria a partir de então, como bem definiu Admar Raupp Terra, de Porto Alegre, em seu discurso de encerramento.

O segundo evento científico se deu em 1959, com um curso especial que mobilizou os mais bem preparados ortodontistas do País. Tratava-se da visita de Earl W. Renfroe, um celebrado especialista da Universidade de Illinois (EUA) que veio ao Brasil pela primeira vez para apresentar a técnica Edgewise, criada por Angle.


Link do artigo na integra via Revista Ortodontia SPO:

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um estudo in vitro simulando os efeitos da dieta diária do paciente e das trocas dos elasticos ortodônticos de látex




Neste artigo de 2004, publicado pela Angle Orthodontist, pelos autores Sean Beattie; Peter Monaghan; da School of Dentistry, Marquette University, Milwaukee. Mostra um estudo realizado in vitro sobre degradação dos eslaticos ortodonticos de latex.

Este estudo investigou os efeitos da exposição de alimentos e adesão do paciente com a mudança e degradação de forças em elásticos 3/16 médio, de látex durante simulações em dias de uso clínico.

Seis níveis de dieta diária / com adesão dos pacientes foram escolhidos como representante de paientes ortodonticos e um grupo controle. Os grupos diferiram com relação à exposição quanto a saliva artificial e dos géneros alimentícios que experimentaram. Após a exposição na tensão leve e dieta diária e com base no cumprimento com instruções sobre como alterar elásticos ortodônticos, os elásticos foram testados no modo de traçãode 25 mm, onde a carga foi registrada em newtons.

Os elasticos de três fabricantes, RockyMountain Orthodontics (RMO), 3M Unitek (ONU), e American Orthodontics (AMO), foram examinados, com 10 por grupo, por fabricante, formando um corte. Duas análises de variância e testes Tukey-Kramer de diferença significativa foi utilizado para identificar a significância estatística (P>. 05).

Com respeito às faixas de um único fabricante, não foram encontradas diferenças entre a dieta diária / os niveis de adesão dos pacientes. No entanto, diferenças (P< .0001) foram encontradas entre as bandas dos fabricantes. RMO, UNO e AMO em todos os ambientes. Ao longo de um período de 24 horas, os elásticos de látex mantiveram sua carga aplicada nos ambientes orais simulados.


Link do artigo na integra via Ange Orthodontist:

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Estudo in vitro da degradação da força de elásticos ortodônticos de látex sob condições dinâmicas




Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Alexandre Moris, Kikuo Sato, Adriano Francisco de Lucca Facholli, José Euclides Nascimento, Fábio Ricardo Loureiro Sato; do curso de especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da EAP-APCD, regional Sorocaba - São Paulo; Analisa 3 tamanhos de elásticos ortodônticos de látex (1/8”, 3/16” e 5/16”), todos classificados como de força pesada pelos seus fabricantes (Dental Morelli, 3M Unitek Corporation e American Orthodontics).

Desde os preceitos preconizados por Angle, nos primórdios do século passado, houve um aumento no estudo e desenvolvimento da mecânica ortodôntica, bem como dos dispositivos incorporados aos aparelhos. Dispositivos esses que visam auxiliar a mecânica ortodôntica e, assim, possibilitar ao profissional um maior controle nos movimentos desejáveis e indesejáveis dos dentes, dentro dos objetivos propostos pelo aparelho utilizado. Entre os vários dispositivos, temos os elásticos de látex, cuja importância singular tem despertado o interesse de diversos pesquisadores e devido ao seu baixo custo e grande versatilidade, são largamente utilizados na Ortodontia.

Vários trabalhos têm investigado o comportamento dos elásticos em condições estáticas e sob diferentes condições de meio ambiente, como saliva artificial, água destilada e ao ar livre, sendo muitas vezes a temperatura controlada a 37ºC e em outros experimentos a temperatura do ambiente da sala foi utilizada. Entretanto, os elásticos, quando utilizados em funções intramaxilares, sofrem na cavidade bucal variações nos seus alongamentos, devido à fala, bocejos, mastigação, enfim, movimentos que deslocam a mandíbula da posição de repouso e, dessa forma, aumentam as distâncias entre os ganchos dos dentes da maxila e mandíbula.

O presente trabalho propôs-se a avaliar:

• A força inicial e a degradação ao longo do tempo dos elásticos pesados de diâmetros 1/8”, 3/16” e 5/16”.

• O tempo clínico ideal de uso dos elásticos pesados de diâmetros 1/8”, 3/16” e 5/16”.

• Se existe diferença dimensional, estatisticamente significativa, entre as marcas Dental Morelli, 3M Unitek e American Orthodontics.

O estudo dos elásticos de látex foram divididos em 3 baterias de ensaios, de acordo com o tamanho dos elásticos (1/8”, 3/16” e 5/16”). Cada bateria consumiu 72 horas, sendo 4 dias corridos e 24 elásticos testados. No total, tivemos 12 dias, 72 elásticos e 1.584 dados de força, pois, em cada ensaio de tração, o elástico teve sua força liberada medida em 26mm e 44mm. Assim, para facilitar o entendimento, os dados serão apresentados em forma de tabelas e gráficos
das médias. Primeiramente, serão apresentadas as análises dimensionais de todos os elásticos usados na pesquisa e, a seguir, as forças obtidas dos elásticos, separados por tamanho (1/8”, 3/16” e 5/16”), e comparados entre si com os dados anotados daforça liberada em 26mm e 44mm distintamente.

CONCLUSÕES

• Para o elástico 1/8” alongado à distância de 26mm: o elástico da Dental Morelli mostrou ter uma força muito superior aos demais testados, sendo que o da 3M Unitek apresentou uma força um pouco superior ao da American Orthodontics, com exceção para as amostras do 2º dia coletadas no período da manhã. A degradação da força, em relação à inicial, foi nas 2 primeiras horas de 12,4%; 22,7% e 14,8%; após 24 horas de 21,9%; 34,6% e 18,5%; depois de 48 horas 30,1%; 47,8% e 40,5%; e ao final de 72 horas 31,7%; 57,2% e 51,5%, respectivamente Dental Morelli, 3M Unitek e American Orthodontics. O elástico 1/8” deve ser trocado, pelo menos, a cada 24 horas, caso se deseje níveis de força próximos dos iniciais.

• Para o elástico 3/16” alongado à distância de 26mm: os elásticos da Dental Morelli apresentaram força muito superior aos da 3M Unitek e American Orthodontics, que por sua vez não tiveram diferença estatisticamente significativa em todas as medições. A degradação da força, em relação à inicial, foi nas 2 primeiras horas de 15,1%; 13,5% e 9,8%; após 24 horas de 18,1%; 23,6% e 22,6%; depois de 48 horas 19,9%; 24,8% e 18,6%; e ao final de 72 horas 20,4%; 27,4% e 19,3%, respectivamente Dental Morelli, 3M Unitek e American Orthodontics. O elástico 3/16” pode ser trocado a cada 72 horas.

• Para o elástico 5/16” alongado à distância de 26mm: o elástico da Dental Morelli apresentou maior força do que as duas outras marcas, entretanto, a diferença para esse tipo de elástico foi a menor entre as três marcas no estudo. O elástico da 3M Unitek foi semelhante ao da American Orthodontics, com exceção para a amostra 5, cujo valor da força da American Orthodontics foi superior ao da 3M Unitek. A degradação da força, em relação à inicial, foi nas 2 primeiras horas de 14,8%; 17,6% e 14,3%; após 24 horas de 18,4%; 23,2% e 18,3%; depois de 48 horas 18,5%; 25,1% e 21,6%; e ao final de 72 horas 19,0%; 25,6% e 22,8%, respectivamente Dental Morelli, 3M Unitek e American Orthodontics. O elástico 5/16” pode ser trocado a cada 72 horas.

Os elásticos apresentaram diferenças estatisticamente significativas tanto em espessura quanto
em largura.

Link do artigo na integra via Scielo:

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Confecção de uma ferramenta para se fazer Stripping


Nese artigo de 2009, publicado pelo Journal of Clinical Orthodontics, pelos autores ANKUR AGGARWAL, U.S. KRISHNA NAYAK; do Department of Orthodontics A.B. Shetty Memorial Institute of Dental Sciences Deralakatte, Mangalore, Karnataka, India. Mostra a construção e a utilização de um arco que se adapta a lixas para Slice(Stripping) feito com fio Ortodontico.

Os autores relatara que Criaram um instrumento simples para se realizar stripping interproximal. A fabricação é feita da seguinte forma:

1. Dobre uma loop com três círculos com um diâmetro de 6 milímetros no centro de uma num fio de secção 0.040 "de aço inoxidável rígido. As pernas livres devem formar um ângulo de aproximadamente 130 °.

2. Confecciona-se curvas adicionais de 30 ° no centro da cada perna e com duas curvas de volta no final de cada perna.

3. Inserir uma lixa para stripping interproximal em uma das duas curvas de volta, enrolando-lo através dela duas vezes para prendê-la. Depois de comprimir o compartimento de forma que os fins fiquem paralelos entre si, insira a outra extremidade da lixa interproximal na segunda curvatura do lado oposto, em volta da mesma maneira. A tira de lixa agora está pronta para uso. Esta ferramenta é facilmente fabricada, e a tira interproximal pode ser trocada rapidamente no consultório.


Link do artigo na integra via JCO-online: